As principais centrais sindicais brasileiras fecharam acordo de frente única de ação para este dia 29/05. O acordo deve ser absolutamente louvado. Trata-se de um dia de paralisações nos locais de trabalho e manifestações por todo o país contra as Medidas Provisórias de Dilma e Levy (MPs 664 e 665) e contra o projeto de lei das terceirizações, o PL 4330.
As MPs 664 e 665 são graves ataques aos direitos de seguro-desemprego, aposentadoria e pensão por morte (a familiares de empregados que tenham sofrido acidente de trabalho). Já o PL 4330 resultaria numa grande ampliação da terceirização (que já é nefasta para o conjunto da classe trabalhadora). É por isso que, sem dúvida, todos aqueles que quiserem lutar contra esses ataques do governo são bem-vindos, independentemente de posição política. Isso é a Frente Única.
A frente única surge como uma necessidade dos próprios trabalhadores resistirem a determinados ataques da classe capitalista. É a própria classe trabalhadora, portanto, que pressiona os setores sindicais mais acomodados a se mexerem. Em 2008, quando estourou a crise mundial e iniciou-se um processo de corte de empregos no Brasil, estabeleceu-se pela primeira vez de forma séria, nas últimas décadas, uma frente única em defesa dos empregos e dos salários. Isso foi algo muito importante, embora fugaz (a frente ocorreu novamente, pontualmente, em julho de 2013). Agora, depois de acentuar-se a crise no Brasil, a Frente Única impõe-se novamente e de forma cada vez mais séria como necessidade para o conjunto da classe trabalhadora.
A frente única também acelera o próprio processo de entrada em cena da classe trabalhadora, pois esta, na luta, sente a sua grande força e se anima. Portanto, a frente única é condição para a virada na conjuntura. Nenhum sectarismo é admissível neste momento, sob risco de minguar a futura e ampliada ação conjunta da classe trabalhadora.
Lutas localizadas já ocorrem, sobretudo em categorias não-centrais para a economia, ou seja, para a acumulação do capital. Desde o começo do ano, entretanto, só no estado de São Paulo, a crise capitalista já ceifou mais de 50 mil empregos no setor industrial. Isso é mais que a população de muitas cidades pequenas; é um estádio do tamanho do Morumbi completamente cheio. A classe operária, aquela que está localizada nos principais pontos da economia, só não entrou em luta ainda, de forma séria, apesar dos ataques, porque não sentiu sua própria força e não confia em seus dirigentes. Ela sente-se ainda impotente e amargura-se, sem saber o que fazer. Por isso, a própria luta contra as MPs e contra o PL, ao fazer a classe sentir a sua própria força, pode desatar e acelerar a luta fundamental em defesa dos salários e empregos. Ao entrar na luta, a classe operária, como vanguarda do conjunto do proletariado, poderá dar uma nova direção e novos ventos à conjuntura política miserável que ainda domina o país. A função da esquerda é favorecer isso com todas as suas forças.
Em última instância, a frente única é o momento em que a racionalidade superior da classe operária, dos setores mais humildes e revoltados que a compõem, impõe-se e ultrapassa a racionalidade confusa (ou irracionalidade) da aristocracia operária e da esquerda de caráter pequeno-burguês. A resistência unitária mínima em defesa dos empregos e salários contém um potencial de superação de todos os problemas do presente infinitas vezes superior às propostas reformistas da burocracia sindical, ou às propostas democrático-burguesas/culturalistas da esquerda. A entrada em cena da classe trabalhadora na defesa dos empregos e salários é a entrada em cena de uma racionalidade que faz cair por terra as certezas particulares da esquerda.
Portanto, camaradas, toda força na construção do dia 29, pois dias como esse são dias-chave. Não colocar nenhum empecilho para a unidade na luta contra as MPs e o PL. Não exigir programas nem análises de conjuntura comuns. Não cair nas artimanhas dos agentes do lulismo, que querem impor suas análises, caracterizações da conjuntura e programa para centralizar a esquerda. Foco no que unifica! Todos às ruas e aos locais de trabalho: erguer um forte dia de luta em 29/05!