Há menos de 30 dias do início da Copa do Mundo, os motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo deram uma clara demonstração do poder que os trabalhadores brasileiros possuem em determinar o destino desse evento. Durante a semana, jornais de vários países alertavam: “Principal cidade do Brasil paralisa às vésperas da Copa!”
De fato, de terça à quinta-feira desta semana, a greve conseguiu paralisar, ao menos parcialmente, a maior cidade brasileira: recorde histórico de congestionamento (344 km, muito superior à média de 218 km), 2.400 ônibus parados, afetando 30% das linhas, 12 garagens de cinco empresas e 16 dos 28 terminais de ônibus fechados.
Depois de abandonarem os ônibus no meio dos corredores, motoristas e cobradores se concentravam para se manifestar em 9 diferentes locais da cidade. Outra parcela da categoria se mantinha nas garagens organizando piquetes.
O movimento não se restringiu à capital paulista. Impulsionados pelos colegas, os trabalhadores de 11 cidades da região metropolitana também cruzaram os braços. Eles reivindicavam equiparação ao salário dos rodoviários paulistanos ou, pelo menos, igual porcentual de reajuste. Num único dia, estima-se que cerca de 1,8 milhões de passageiros deixaram de ser transportados na região.
Diante da extensão do movimento, os capitalistas contabilizavam seus prejuízos, os usuários, tão vítimas do sistema quanto os trabalhadores que os transportam, reclamavam, o prefeito vacilava, se recusando a intermediar as negociações, a direção do sindicato, descolada de sua base, se desmoralizava e, finalmente, os sujeitos da ação, os trabalhadores da base dos rodoviários, saíam fortalecidos ao construir novas direções.
Os trabalhadores entraram em greve por não aceitarem o acordo assinado na segunda-feira entre o sindicato da categoria e o sindicato dos patrões, que estabeleceu um reajuste salarial de 10%, R$ 850 de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e um reajuste de R$ 1,20 no vale-refeição (VR). Os grevistas reivindicavam 13,5% de reajuste salarial, PLR de R$ 1.500 e R$ 22 de VR.
Impondo aos trabalhadores baixos salários e uma estressante condição de trabalho, a cúpula do setor do transporte coletivo de São Paulo sempre se caracterizou pela corrupção e pela bandidagem. O atual secretário dos transportes da equipe do Prefeito Fenando Haddad, Jilmar Tatto, não é exceção. Desde sua passagem pelo cargo na gestão da Marta Suplicy, no início dos anos 2000, Tatto foi alvo de denúncias de favorecimento à aliados e de ligação com o crime organizado.
Em 2006, o então presidente da Cooper Pam, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, cooperativa que transporta, em média, 850 mil pessoas por dia, disse que membros do PCC (Primeiro Comando da Capital, facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas) estavam infiltrados nos serviços de lotação. Na ocasião, Pandora contou que Tatto o obrigou a admitir membros do PCC na cooperativa que presidia. Ainda segundo Pandora, Tatto teria recebido R$ 500 mil para favorecer um grupo de perueiros ligados ao PCC na zona Sul de São Paulo, durante licitação.
Essa não é a única possível ligação de Tatto com o PCC.
Em 2010, Tatto bancou quase um terço da campanha a deputado estadual de Luiz Moura (PT), um valor de R$ 201 mil. Moura já foi preso no Paraná por assalto a mão armada. Condenado à 13 anos, fugiu depois de 1 ano e meio. Mais tarde sua acusação foi anulada devido ao seu “bom comportamento”, o que lhe garantiu o direito de se candidatar. Há dois meses, em março/14, Moura foi flagrado pela polícia num encontro com integrantes do PCC na sede da cooperativa da qual faz parte, a Transcooper.
Como se vê, o país da Copa é o país do crime organizado e da corrupção. Diante de toda essa podridão, a revolta da base dos rodoviários contra o acordo do sindicato com os patrões é uma luz na escuridão de uma sociedade profundamente degradada.
Sua manifestação serve para mostrar quão vulneráveis são as metrópoles capitalistas a qualquer movimentação dos trabalhadores. Esses momentos deixam claro que a classe trabalhadora possui o destino da sociedade em suas mãos. Organizada, ela pode tudo. É a única classe que pode impedir o avanço da barbárie capitalista, que tem nas instituições criminosas do Estado burguês a sua mais fiel expressão