Após o dia de atos contra a Copa 15M, quinta-feira passada, manchetes e analistas burgueses falaram em ‘baixa adesão’. O ministro Gilberto Carvalho falou que o descontentamento está diminuindo e há um ‘novo clima’ favorável à Copa que vai crescer nas próximas duas semanas, antes da abertura do evento. Mas, num sinal de nervosismo que contradiz esse discurso seguro de si, no dia 15 e nos dias seguintes diversos articulistas e editoriais saíram em defesa da realização do mundial, da contenção dos protestos e da ‘segurança’.
A verdade é que, se a referência com a qual os protestos de hoje são comparados não fosse junho de 2013, qualquer um diria que o país está prestes a explodir.
Segundo a Folha de São Paulo, o dia 15 teve atos contra a Copa em 18 cidades: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Vitória, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Cuiabá, Belém e Manaus; além de cidades grandes do interior de São Paulo como Campinas, São Carlos e Sorocaba. Quando vimos isso, exceto em junho de 2013?
Apenas em São Paulo foram ao menos oito manifestações diferentes. Além do ato contra a Copa, que reuniu cerca de 4 mil pessoas na Paulista à noite, 5 mil professores municipais em greve foram às ruas; 6 mil trabalhadores do MTST fecharam vias em 5 pontos diferentes; e 300 metroviários em campanha salarial marcharam pelo centro da cidade.
Onda de greves
O mais importante é que, além da juventude radicalizada nos atos de rua, diversas categorias de trabalhadores estão em greve ou mobilizadas em todo o país.
Em São Paulo, a Justiça do Trabalho planejou até um plantão extraordinário de maio a junho para dar conta das ‘greves da Copa’. Além dos professores municipais paralisados e dos metroviários, que podem decidir entrar em greve em assembléia no próximo dia 20, os funcionários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos também planejavam parar no dia 15, mas suspenderam a greve depois que foi aberta uma nova rodada de negociação com a empresa. Rodoviários de uma viação pararam no dia 12, usando ônibus da empresa para fechar vias da Zona Sul e travar a cidade. Em pequenas fábricas, também aconteceram paralisações e manifestações de metalúrgicos.
No Rio, lembrando a heróica greve dos garis, os rodoviários passaram por cima das direções sindicais que haviam feito um acordo rebaixado e, organizados em uma comissão de base, fizeram paralisação nos dias 13 e 14. Eles têm nova assembléia marcada para terça, 20, e falam em liberar as catracas em um novo ato. Também estão em greve com uma pauta unificada desde o dia 12 os professores e funcionários da educação estadual e municipal, categorias que somam 140 mil trabalhadores; e ainda os vigilantes bancários, parados desde abril.
Os rodoviários não pararam só em São Paulo e no Rio. No Distrito Federal, funcionários de uma viação pararam na sexta-feira reivindicando salários atrasados. Em Goiânia, eles pararam na sexta e no sábado, afetando 17 dos 19 terminais. Como no Rio, a greve em Goiânia acontece à revelia do sindicato, que fez um acordo de 7% amplamente rejeitado pela categoria. Em Jundiaí (SP), também sem apoio do sindicato, os trabalhadores pararam os 7 terminais na quinta e na sexta. Em Ponta Grossa (PR), motoristas e cobradores prometem parar a partir de segunda, 19.
Estão ou estiveram paralisados na última semana funcionários de ao menos 12 universidades federais; do Instituto Brasileiro de Museus, ligado ao MinC; da Justiça Federal do Trabalho; de consulados brasileiros em todo o mundo; garis e funcionários da prefeitura de Belo Horizonte; servidores municipais de Florianópolis; professores estaduais do Espírito Santo; agentes penitenciários da Bahia; PMs de Pernambuco e servidores da saúde em Natal.
Em Cubatão, 8 mil operários de 12 empreiteiras estão parados desde o dia 5, e 6 mil de 25 outras empresas já voltaram ao trabalho. Em Manaus, operários da Ambev pararam 80% da fábrica por 2 dias.
Outras categorias têm mobilizações, paralisações e indicativos de greve marcados para as próximas semanas e para a Copa. Os sindicatos que representam policiais civis, federais e militares farão uma paralisação em todo o país na próxima quarta-feira, 21. A base de servidores da administração federal marcou indicativo de greve para 10 de junho.
Os aeroviários – mais de 50 mil em todas as companhias – ameaçam parar por reajuste e benefícios ligados à Copa. Os funcionários da Latam (fusão de Lan e Tam) em toda a América Latina reivindicam salários iguais em todos os países e também ameaçam atrasar procedimentos ou entrar em greve.
Vai ter Copa?
A proximidade da Copa e a fragilidade de Dilma em ano eleitoral criaram uma situação única em que os trabalhadores percebem que podem arrancar suas reivindicações. Soma-se na consciência geral a revolta com os gastos públicos no evento, a corrupção escancarada nas obras, a total ausência de melhorias de infra-estrutura e a mesma vida precária de sempre nas cidades.
Enquanto a esquerda vacila em adotar o ‘não vai ter Copa’ e diz em cima do muro que ‘na Copa vai ter luta’, em qualquer processo grevista aparece espontaneamente o grito mais radical contra o evento. As palavras de ordem chamadas por Zé Maria e pelo PSTU no dia 15 – ‘Dilma, escuta, na Copa vai ter luta’, sempre dialogando com a ‘companheira’ – ficaram para trás até das pesquisas de opinião: segundo o Datafolha, em abril 55% pensavam que a Copa traria mais prejuízos do que benefícios ao país e apenas 48% eram a favor da realização do evento. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro 45% disseram que não vão sequer torcer pela seleção.
Mas se o país parece prestes a explodir, a própria dispersão dos atos, pautas e reivindicações no dia 15 é uma manifestação da fragilidade atual de todas essas movimentações. Até onde é possível ir? É possível barrar a Copa e todos os ataques que ela representa? É possível transformar as lutas fragmentadas em uma luta nacional da juventude e da classe trabalhadora?
É impossível prever – ou fabricar – uma explosão como a que vivemos no ano passado, cujo sujeito são as massas. Faltam lideranças para a classe trabalhadora, sem dúvida. Mas em toda parte sente-se a oportunidade e sobram os motivos.