Transição Socialista

Mais magra, mas ainda muito gorda

Hoje, 29 de setembro de 2016, os metalúrgicos do país fazem um dia nacional de paralisação contra as mudanças previstas na Previdência Social e nas leis trabalhistas. Estas são as reivindicações principais, decididas pelas Centrais Sindicais e sindicatos que organizam a categoria. No entanto, um fato é inegável: o que mais tem preocupado os trabalhadores metalúrgicos, neste momento, é a ameaça do desemprego.

Eles, assim como você que é ou foi um trabalhador assalariado, convive com a ameaça constante de ser enviado para o olho da rua, seja de forma direta e reta, seja através de Planos de Demissão Voluntária. Segundo dados do IBGE, amplamente divulgados, a taxa de desemprego no Brasil chegou a 11,6% em julho de 2016. Em números absolutos, isto significa que há cerca de 12 milhões de pessoas desempregadas no país. Somente nos sete primeiros meses deste ano, 623 mil trabalhadores com carteira assinada perderam seus empregos.

É a crise econômica e tem que cortar, não tem jeito…, dizem.

De fato há crise. Nenhuma dúvida sobre isso. No entanto, você já parou pra pensar se realmente há justificativa para o corte de tantos postos de trabalho? Muitos dirão que as empresas estão com dificuldades financeiras, que estão em prejuízo, que houve quedas nas vendas, etc. É verdade que muitos pequenos negócios foram à falência e que empresas de grande porte tiveram resultados negativos no último ano, mas um olhar atento aos dados contábeis das maiores empresas em operação no país mostra algo curioso. Principalmente quando deixamos de olhar para uma única empresa e passamos para o conjunto delas.

Vejamos os números.

Compilamos as informações referentes ao lucro líquido apurado pelas 1000 maiores empresas (não financeiras) e pelos 100 maiores bancos em operação no Brasil nos últimos dez anos. Entre estas empresas estão mineradoras, metalúrgicas, montadoras de veículos, construtoras, as do setor agropecuário, farmacêutico, de petróleo, gás, energia, química, plásticos, papel e celulose, água e saneamento, alimentos e bebidas, telecomunicações, comércio e serviços, universidades, hospitais, entre outras.

Perceba que em 2015 houve uma diminuição do lucro líquido do conjunto das maiores empresas e bancos, mas R$ 2,6 bilhões não é um valor desprezível. Essa diminuição reflete uma situação particular da Petrobrás e da Vale, que, juntas, apuraram um prejuízo líquido de R$ 81,6 bilhões em 2015. Esse prejuízo joga para baixo os volumosos lucros apurados por outras empresas. A Ambev, por exemplo, fechou 2015 com lucro líquido de R$ 12,8 bilhões, seguida pela JBS (R$ 5,1 bi), Cielo (R$ 3,6 bi), Telefônica (R$ 3,3 bi), BRF (R$ 3,1 bi), Rede Globo (R$ 3,0 bi), Braskem (R$ 2,9 bi) e Cemig (R$ 2,5 bi).

Outro dado impressionante: nos últimos dez anos, as 1000 maiores empresas e os 100 maiores bancos acumularam, juntos, um lucro líquido (ou seja, já descontadas todas as despesas) de R$ 1,62 trilhão. Não à toa, Lula sempre faz questão de dizer que nunca as empresas e bancos lucraram tanto quanto nos governos do PT. Nesse ponto, ele está completamente certo.

A pergunta é: onde estão esses trilhões de lucro?

Certamente não é no seu bolso, nem no dos outros milhões de trabalhadores. Afinal, em contabilidade, o seu salário é computado como despesa. Também não estão totalmente nas contas de deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, ministros, juízes, doleiros, etc, já que pagamento de propina também é despesa. Basta lembrar da contabilidade secreta da Odebrecht para pagamento de propina, que, na contabilidade oficial, é justificada com a apresentação de notas fiscais frias. Por fim, é certo também que esses quase R$ 2 trilhões não se dirigiram ao céu.

Onde, então?

Quem ficou com esses volumosos recursos são os proprietários dos negócios, uma minoria que atende pelo nome de burguesia, ou classe dos capitalistas. Ela existe, por mais que alguns não gostem de dar esse nome a ela. Não falamos aqui propriamente da enorme rede de administradores das empresas. Eles, em sua maioria, assim como você, também são assalariados (com a diferença de serem melhor remunerados) e não têm a propriedade nem das grandes empresas, nem dos bancos

Encontramos, enfim, a dona dos trilhões. Ela ficou mais magra em 2015, é verdade — afinal, como diz aquele verso, “de muito gorda, a porca já não anda” —, mas ainda continua gorda. Lembremos, mais uma vez, o R$ 1,62 trilhão acumulado em 10 anos.

Acontece que a burguesia quer retornar aos patamares de lucratividade dos anos anteriores e, por isso, iniciou um gigantesco processo de demissão em massa no país, acrescido do rebaixamento (ou não reajuste) dos salários daqueles que continuaram empregados. Mas, os números são claros. Não há justificativa para cortar empregos. Há muita gordura do outro lado. A própria Vale, que no ano passado apresentou prejuízo, já acumulou um lucro líquido de R$ 9,9 bilhões somente no primeiro semestre de 2016.

Voltemos, agora, ao que nos trouxe até aqui: a paralisação dos metalúrgicos. É possível que hoje, 29 de setembro de 2016, você tenha se deparado com o fechamento de alguma avenida, ponte ou rodovia. Foram os metalúrgicos, que, assim como você, precisam continuar empregados. A luta deles é a sua luta. Vista você um macacão e saia sujo de graxa, carvão ou cimento no final da jornada. Vista você terno e gravata, e conviva com um intenso estresse diário. Vista você uma farda e seja convocado a ser bucha de canhão da burguesia. Aliás, soldado, que talvez não conviva com a ameaça de demissão, quantas cestas básicas compra o seu soldo?

Vocês, que, com seus músculos e cérebros, extraem carvão, minérios, constroem pontes, estradas, edifícios, estradas de ferros, hidrelétricas, erguem navios, aviões, torres de transmissão, montam carros, caminhões, vagões de trem, produzem papel, vidro, plástico, tecidos, aram a terra, vendem tudo isso que foi produzido, fazem pesquisas científicas, projetam máquinas, administram a produção, fazem a defesa do território, e um longo etc. Se vocês tudo produzem, a vocês tudo pertence.

Nós, do MNN, estamos com vocês.

Nenhuma demissão! Se caíram as vendas, os estoques aumentaram e a produção ou volume de trabalho baixou, nada mais racional e justo que todos continuem trabalhando por menos horas, sem redução de salário. Esta reivindicação se chama ESCALA MÓVEL DAS HORAS DE TRABALHO. Com ela, a escala de trabalho torna-se móvel, de acordo com a necessidade de produção ou volume de trabalho. Dessa forma, podemos assegurar o emprego de todos.