Dez anos após as jornadas de junho de 2013 sobram falsificações a respeito daqueles eventos. Há no interior da autointitulada “esquerda” um intenso debate acerca da relação entre aqueles acontecimentos e toda crise política que teria se sucedido na década seguinte. O PT e seus satélites, vítimas de primeira linha […]
“Toda ciência seria supérflua se houvesse coincidência imediata entre a aparência e a essência das coisas”, nos ensina Marx em sua obra teórico-programática, O Capital. Mas tal fundamento parece passar mais uma vez despercebido pela dita esquerda revolucionária brasileira, que continua a tomar a aparência imediata dos fatos por sua essência.
Desde a campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad, ganhou força entre as diversas organizações de esquerda do país a opinião de que a “democracia havia dado lugar ao fascismo”, ou de que “a ditadura militar de 1964 retornava”. Na imprensa e até mesmo na academia, não é difícil ouvir falar de uma “escalada autoritária e golpista” do atual presidente e da sua corja miliciana. Diante do quadro de corrupção desenfreada, de descaso com as mortes pela COVID-19 e de silenciosos ataques aos trabalhadores brasileiros, inúmeros revolucionários honestos se levantaram para combater o bolsonarismo sob a bandeira “antifascista”.
LULA E BOLSONARO: INIMIGOS DOS TRABALHADORES
Cartazes da TS colados pela cidade!
Vote Vera 16!
Se tiver segundo turno: vote nulo!
Manifesto do Comitê de Enlace sobre o voto nulo do segundo turno das eleições de 2022
Já entramos, neste momento, no mais novo capítulo do eterno retorno ao processo de chantagem política que nos assola nas últimas décadas: o PT pedindo voto contra um suposto “mal maior” e assumindo, mais uma vez, sua única identidade restante para fins de propaganda, a de “mal menor”.
Declaração de voto nulo da TS num eventual segundo turno presidencial. Hoje, quanto todos saem para salvar a democracia burguesa do risco da própria democracia burguesa, é preciso dizer claramente: a ilusão na democracia burguesa é mais deletéria, para a vanguarda da classe trabalhadora, do que o teatro golpista de Bolsonaro.
Burocracia sindical e partidária de “esquerda” se unificou para impedir que manifestações saíssem do controle, avançassem das ruas para os locais de trabalho, e, assim, atrapalhassem o próximo ano eleitoral. Ela quer tranquilidade, e, sobretudo, quer Bolsonaro como antagonista de Lula no segundo turno do próximo ano.
lsonaro furou o teto de gastos para turbinar o bolsa-família. Agora, toda a dita “esquerda” o denuncia, falando que é uma medida apenas eleitoreira. Será que é por aí mesmo que se deve criticá-lo? O que tal crítica frágil revela sobre a própria esquerda?
O socorro a Bolsonaro em mais um momento de dificuldade veio do PT. Desta vez, com apoio claro da “esquerda radical”. PSOL, PCB e PSTU optaram por “ficar em casa com Lula no domingo”. A capitulação política já demonstra que tais partidos agem na prática para eleger Lula em 2022.