Qualquer um que tenha visto o primeiro debate de segundo turno, nesta segunda-feira 16/11, notou que Boulos e Covas são variações do mesmo tema. Acrescentamos: um tema burguês que se volta contra os trabalhadores. Não daremos qualquer apoio ao petista enrustido Boulos. Chamamos os que lutam pelo socialismo a não cair em sua charlatanice e a votar nulo neste segundo turno em São Paulo. Só assim se organiza a classe trabalhadora a resistir de verdade aos ataques capitalistas de um possível governo seu.
Boulos sinalizou no próprio discurso de vitória de primeiro turno (dia 15/11) que “governará para todos”, fazendo a “esperança vencer o ódio”. Governar para “todos”, numa sociedade dividida em classes, significa sempre governar para a burguesia. Boulos visa a governar para a burguesia, mas esconde isso com um discurso vazio sobre amor. Já criticamos diversas vezes seu programa, mostramos como é uma charlatanice que só favorece o capital e leva à exploração crescente da classe trabalhadora (veja aqui e aqui).
Boulos aparece como representante de “esquerda”, mas a verdade sobre ele se revela nos seguintes fatos recentes: encontrou-se com representantes da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), organização da burguesia, visando a comprovar que não era radical. O resultado, comentado pelo jornal Valor, foi este: “Um dos coordenadores da [liberal] ACSP na região sul da cidade disse a Boulos que o discurso dele estava tão ‘redondo’ que ele parecia ‘até candidato de direita’”. Na ocasião, Boulos lançou a seguinte pérola: “Não esperem de mim demonização do setor privado”.
Além disso, segundo notícia da Veja, Boulos tem em seu amigo Walfrido Warde um braço direito na relação com a burguesia. Warde é advogado de sucesso, com um escritório-mansão no nobre bairro dos Jardins. Warde, após organizar conversas de Boulos com setores empresariais, disse o seguinte: “A receptividade é impressionante. Pessoas que sempre apoiaram a direita aplaudiram de pé o Guilherme”. Além disso, Warde é, curiosamente, sócio de Leandro Daiello, que comandou a Polícia Federal entre 2011 e 2017. Daiello foi nomeado para tal cargo por Dilma e ajudou a instalar praticamente um Estado policial, de perseguição ilegal a manifestantes, em 2013 e 2014. Dilma inclusive, com beneplácito de Daiello, valeu-se da Lei de Segurança Nacional, da época da Ditadura Militar. Daiello recentemente disse o seguinte sobre Boulos: “Após conhecer o Boulos, percebi que tem boas ideias sobre segurança pública”. Não espanta, portanto, que capangas do MTST tenham perseguido e batido em manifestantes “anarquistas” em São Paulo e Goiânia. É só parte do que virá de sua gestão (aliás, Erundina, quando prefeita, mandou reprimir greves de trabalhadores rodoviários).
Boulos avançou porque ocupou o espaço deixado pelo PT, falido em sua política burguesa e corrupta. Boulos ocupou o espaço do PT entre a tradicional pequena-burguesia paulistana. Esta lhe serviu como catapulta para ocupar um espaço num público mais amplo, popular, trabalhador (basta ver que Boulos teve um bom resultado em praticamente todas as zonas eleitorais da cidade). Esse público mais amplo está sempre disposto a favorecer uma oposição, em busca de qualquer mudança, deslocando o governo de plantão. De certa forma, o segundo-turno paulistano é uma reedição da tradicional polarização entre PT (travestido de PSOL) e PSDB. Boulos tem a seu favor o privilégio de ainda não ser corrupto (ao menos é o que se sabe). Ciente disso, adota até o discurso anti-corrupção que ontem dizia ser coisa da “direita”…
O apoio da pequena-burguesia a Boulos não necessita de grande explicação. É o setor social que sempre terá ilusões em quem pregar amor e harmonia. A condição de classe desse setor – localizado entre a burguesia e o proletariado – condiciona seu pensamento em defesa da “liberdade” individual, de mudanças culturais e comportamentais, questões “gênero”, “raça”, drogas etc. Mas o caso do público que ultrapassa essa pequena-burguesia – um público genuinamente proletário – tem de ser explicado com mais calma. Tal setor amplo, que praticamente não conhecia Boulos até este pleito, não vota nele agora por qualquer imagem de “radical”. O fato de Boulos – taxado por alguns de “invasor de propriedades” – ter crescido em setores populares, não significa de forma alguma uma guinada à esquerda das “massas”. Tais setores não apoiam Boulos devido a seu dito passado radical, que desconhecem, mas devido a como se apresentou amplamente nesta eleição – de uma forma totalmente despolitizada e estúpida, característica de todo e qualquer político burguês. A massa proletária que vota em Boulos o faz de forma tão despolitizada, vazia e alienada como faz com qualquer candidato burguês quando não há alternativa genuinamente proletária.
Isso deixa claro que é completamente errado o argumento, usado por alguns “socialistas”, de que é necessário fazer um “voto crítico“ em Boulos para acompanhar o movimento das massas, para que ela faça uma “experiência” com o candidato. Isso é falso porque: 1) a pequena-burguesia não passará por experiência alguma; ela sempre votará em quem defende amor e liberdade; ela votou sempre no PT, agora vota no Boulos e amanhã, se este naufragar, votará em qualquer um com o mesmo discurso vazio. Só o desenvolvimento do movimento real da classe trabalhadora contra o capital pode fazer alguns setores pequeno-burgueses avançarem além de suas posições de classe, mas o programa de Boulos não defende nem favorece qualquer movimento desse tipo (pelo contrário, conscientemente impede-o); 2) os setores mais amplos, proletários, que votam em Boulos, não passarão por experiência alguma pois já não votam nele como algum tipo de caminho para a radicalização e o socialismo.
Caso houvesse algum risco real de fascismo (que usa também a via eleitoral para se concretizar), poderíamos até considerar um voto em Boulos. Mas não é o caso. Não só inexiste qualquer organização séria e ampla no Brasil com características fascistas, como o resultado das eleições mostrou que a tese da “onda conservadora” era um fiasco, mera narrativa charlatã do PT pra angariar apoio na pequena-burguesia. O próprio bolsonarismo se mostrou um tigre de papel, uma bolha de sabão, com seu bando de aventureiros de quinze minutos de fama.
O voto dos revolucionários tem de ser claro, demarcando e apontando outro caminho para a classe trabalhadora brasileira. É necessário falar a verdade às massas, à vanguarda, e não ter medo de ficar isolado. A realidade mostrará em pouco tempo que temos razão. O voto nulo é a única política consequente de quem quer realmente organizar a classe trabalhadora para se contrapor aos ataques do capital. O governo de Boulos necessariamente será um governo capitalista e piorará as condições de vida da classe trabalhadora no médio e longo prazos. Chamar voto em Boulos é dificultar desde já a resistência da classe trabalhadora contra tais ataques. Os que o fizerem, terão responsabilidade sobre possíveis derrotas amanhã. Nós estaremos entre aqueles que, caso Boulos seja eleito, denunciarão todos os dias as suas falcatruas, sua corrupção, suas maquinações contra a classe trabalhadora. E defenderemos abertamente, conjuntamente com a classe trabalhadora, a sua queda, caso as condições se apresentarem.
Voto nulo contra Boulos e Covas!
Por uma política proletária, revolucionária!
Pela criação de uma nova direção revolucionária neste país!