Com o agravamento da pandemia e da crise econômica, o cerco se fecha novamente em Brasília. A insatisfação popular pressiona à ingovernabilidade, o que já leva setores da burguesia a buscar novamente por uma saída institucional para a crise política. É hora de engrossar o ódio legitimo da população contra Bolsonaro, e ir às ruas em unidade para enterrar seu governo de uma vez por todas!
Já dizíamos em abril do ano passado que “a queda imediata de Bolsonaro é um requisito para a sobrevivência de dezenas ou centenas de milhares de brasileiros”. Hoje, essa afirmação fica cada dia mais evidente ao conjunto da população brasileira, frente ao atraso do governo na imunização e descaso com as milhares de mortes diárias. Os trabalhadores brasileiros, além de enfrentarem crescentes demissões, reduções salariais e aumento da miséria, fruto de um índice de desempregado alarmante – algo que não é propriamente resultado da pandemia, mas de uma crise cíclica do capital –, arriscam a vida todos os dias, seja pelo risco de serem contaminados, seja por perderem vagas em hospitais superlotados; e seja, ainda, por não terem condições mínimas de sobrevivência frente à crise econômica. O caso trágico de Manaus foi apenas a gota d’água num cenário de barbárie em que se encontra a população brasileira.
O cerco se fecha, assim, para Bolsonaro, que teve uma queda considerável na taxa de aprovação nas pesquisas, se equiparando aos dados do início da pandemia, quando quase caiu: em Abril de 2020, tinha aprovação de 33% e reprovação de 39%; agora, tem 31% de aprovação e 40% de reprovação. A cena absurda que vimos em abril, quando Bolsonaro precisou posar junto a toda a equipe de governo, o que apenas atestou a sua real fragilidade, é um retrato que volta a assombrá-lo. Junta-se a isso a divulgação dos gastos do governo, atestando para a população esfomeada que é apenas mais um dos mesmos corruptos que ela tentou se livrar nas últimas eleições de 2018.
Mas por que Bolsonaro não caiu em abril/maio de 2020? O motivo principal disso foi a ausência de pressão social organizada, que deixou o governo livre para continuar com seus acordos com o centrão e, claro, com a suposta oposição. Não houve qualquer movimento sério no sentido de organizar a população a protestar contra o governo, nos moldes de um movimento popular que derrubou Dilma em 2016. O PT e seus satélites (como o PSOL) se articularam para impedir manifestações ou dispersá-las, pois sua estratégia, como sabemos, é fazer o governo sangrar até 2022. Uma explosão social não ajuda nesse objetivo, e muito pelo contrário: indica uma possibilidade de superação de suas próprias direções políticas, dada a dimensão da revolta popular.
Hoje, num cenário ainda pior das condições de vida da população trabalhadora do país, a pressão social é ainda maior. Diferentemente do período do impeachment de Dilma, há ainda mais setores a favor da queda de Bolsonaro, embora a burguesia, de conjunto, tema a abertura de um novo período de ingovernabilidade no país. Como alertou FHC desde o impeachment de Dilma, a possibilidade de um segundo impeachment em tão pouco tempo coloca em descrédito a democracia burguesa. Não à toa setores do empresariado divergem sobre o momento adequado para abertura do processo, repetindo as divisões e incertezas que antecederam a queda de Dilma. De todo modo, a burguesia buscará resolver a situação antes que a explosão social se torne mais incontrolável. Apesar da tentativa de blindar o presidente, a PGR abriu inquérito para investigar o general Pazzuelo; os principais jornais burgueses já pedem a cabeça de Bolsonaro em seus editoriais; mais parlamentares se sentem pressionados para agir; e as ruas voltam à perspectiva de resolução do problema, com atos convocados tanto pela tradicional “esquerda”, quanto pelos grupos de direita do MBL, Vem Pra Rua, etc.
É evidente que as condições sanitárias para aglomerações não são favoráveis, mas a pressão das ruas é uma necessidade inadiável desta conjuntura. As massas devem ser convocadas às ruas, em um único dia, com todos aqueles que se posicionam pela saída do presidente. É hora de batermos juntos, com “o diabo e sua voz” para arrancar Bolsonaro do poder.
Convocações dispersas de atos (de um lado, o PT e a “esquerda” e do outro, grupos de direita, como MBL e Vem Pra Rua) apenas facilitam para o governo. Esses grupos, em geral, são oportunistas com a revolta da população e, apesar da retórica oposicionista, atuam para estender ao máximo a permanência de Bolsonaro. Estão de olho nas eleições de 2022 e não os interessa aumentar a instabilidade política da burguesia, e sim manter a revolta popular nos limites da ordem institucional e tirar saldo eleitoral do descontentamento das massas. É nesse sentido que os basta manifestações inexpressivas (como as dispersas carreatas do final de semana), que os ajudam a apenas marcar posição pro eleitorado. Se as ruas forem tomadas pela derrubada de Bolsonaro, será apesar das direções políticas ditas oposicionistas de “esquerda ou direita”, não graças a elas.
Também pelo interesse na manutenção da ordem institucional burguesa, é que todos os partidos burgueses ditos de oposição, e aqui os acompanha o degenerado PSOL, jogam as expectativas no teatrão parlamentar das eleições para presidência da Câmara e do Senado. Ao que tudo indica, os candidatos do governo serão eleitos, mas se tornam os favoritos na mesma medida em que cai a aprovação do presidente, e o clima de impeachment favorece o assédio pelos parlamentares e encurrala o governo. O Planalto liberou 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores aplicarem em obras nas suas bases eleitorais. A liberação teria sido articulada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, cujo gabinete virou o QG das candidaturas do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Analistas burgueses já apontam que enquanto permanecer no poder, nos próximos dois anos, terá que pagar a conta e ficará refém do “Centrão” para nomeação de cargos e destinação de verbas. Contraditoriamente, o resultado das eleições, caso se confirme, indica de todo modo o enfraquecimento do Executivo.
Embora não se deva menosprezar a questão, o determinante para a queda de Bolsonaro não são as presidências das casas parlamentares, são as ruas e a luta direta! O “maior partido da oposição”, o PT, embora formalmente componha o bloco de oposição ao governo na Câmara dos Deputados e apoie a candidatura de Baleia Rossi (MDB), no Senado se alia ao bolsonarismo para eleger o candidato governista Rodrigo Pacheco (DEM). O centrista PSOL se divide publicamente com trocas de acusações sobre a candidatura própria no primeiro turno das eleições na Câmara, que na prática não fará nenhuma diferença no resultado. Na acomodação ao cretinismo parlamentar, todo tipo de retórica é possível (ainda mais quando a divergência não faz nenhuma diferença para o resultado). No caso do PSOL demonstra-se mais uma vez a inutilidade deste partido para o que realmente importa: a organização da luta direta dos trabalhadores. Se mutilam quanto à candidatura na Câmara, enquanto esvaziam totalmente as ruas como sujeito da crise. A quem se esquive com o problema da pandemia – muitas desculpas podem ser alegadas – mas quem já se esqueceu das suas centenas de militantes amontoados e super engajados na recente campanha eleitoral municipal?
Além de tomar as ruas, ainda mais importante é avançar na organização direta dos trabalhadores nos locais de trabalho, apesar do gigantesco bloqueio das direções sindicais. Professores da rede pública já ameaçam greve caso sejam obrigados ao retorno das aulas presenciais em plena pandemia; trabalhadores da saúde se organizam para garantir sua vacinação imediata, tendo em vista todos os desvios das vacinas para burocratas privilegiados e para a burguesia, enquanto permanecem sem proteção aqueles na linha de frente da contaminação; também há mobilizações entre os bancários; a ameaça de greve de caminhoneiros para o início de fevereiro; e várias fábricas avançam em demissões em massa, o que exige a resistência imediata pela classe operária para defesa de seus empregos.
A gravidade da situação atual, onde se juntam os elementos de crise econômica (com perspectiva de agravamento ainda maior) e da crise sanitária (atingindo a barbárie em todo país) implica em uma revolta gigantesca entalada na garganta da população trabalhadora. Chamamos todos os que nos acompanham e as demais organizações de esquerda a tomar as ruas neste próximo Domingo, 31/01, às 15h, em ato convocado anonimamente pelas redes sociais, para começarmos a dar vazão a essa imensa força social que deve acentuar a ingovernabilidade do regime. A queda de Bolsonaro criará melhores condições para a luta da classe trabalhadora por sua urgente imunização, e favorecerá a resistência geral aos ataques às suas condições de vida. Sua derrubada ainda é o primeiro passo para salvar as nossas vidas!
Fora Bolsonaro!
Pela convocação de um grande ato unificado contra o governo! Às ruas!