Transição Socialista

PT, PSOL, PCB e PSTU traem luta para derrubar Bolsonaro

Capitulação política no dia 12 já demonstra – com um ano de antecedência em relação à eleição! – que PSOL, PCB e PSTU agem na prática para eleger Lula em 2022.

Como já tem virado costume nos últimos tempos, o socorro a Bolsonaro em mais um momento de grande dificuldade veio da parte do PT. Desta vez, por tabela, contou com o apoio de toda a auto-intitulada “esquerda radical” do nosso país. PSOL, PCB e PSTU optaram por “ficar em casa com Lula no domingo”. Contra tudo o que disseram nos últimos anos sobre o risco autoritário de Bolsonaro, tais partidos optaram por dar tempo para o presidente se recuperar e fortalecer e só irão às ruas em outubro!

Após as demonstrações de força do bolsonarismo no 7 de setembro, menores do que os organizadores esperavam mas de forma alguma desprezíveis, os atos convocados originalmente por Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua para o domingo (12) poderiam ter assumido ares de uma resposta coletiva, abarcando diversos setores políticos favoráveis à derrubada imediata do presidente. O próprio MBL recuou do tom mais particular da convocatória inicial (“Nem Bolsonaro, nem Lula”), disposto a receber outros setores, que pudessem ajudar a engrossar o coro, e publicou texto na Folha de São Paulo apontando apenas o “Fora Bolsonaro” como foco da manifestação (os ataques a Lula só retornaram, foram re-inseridos, depois que toda a “esquerda” se negou a participar).

Alguns partidos burgueses aderiram ao chamado de MBL e VPR e a unidade se estendeu até a organizações estudantis paulistas, mas… incrivelmente parou quando bateu na porta da chamada “esquerda”!

Setores amplos da “esquerda”, coerentes com seu discurso anterior (para derrubar Bolsonaro o quanto antes), declararam inicialmente acordo em ir às ruas. Foram diversas as declarações individuais de membros do PSOL e PSTU e há até mesmo um vídeo de Ivan Pinheiro (ex-secretário geral do PCB) afirmando, no próprio dia 7 de setembro, que era necessário ir às ruas com todos os setores para derrubar o presidente o quanto antes. Mas de repente, um a um, os partidos e organizações foram se contrapondo ao dia 12. Que teria se passado? A resposta é a seguinte: o PT decidiu não ir, porque não quer derrubar Bolsonaro agora (quer vencê-lo na eleição) e impôs sua vontade a seus satélites. Após a nota do PT, PSOL, PCB e PSTU, um por um, soltaram notas próprias negando a presença no ato contra Bolsonaro! Cada um apresentou uma desculpa mais esfarrapada do que outra. Há melhor exemplo para a metáfora “correia de transmissão”?

Entre as desculpas esfarrapadas, vale destacar a do PSTU. Este disse que não poderia aderir ao dia 12 pois era um ato com interesses eleitorais. Como se a não resposta imediata a Bolsonaro após o dia 7 e o espaçamento (e divisão) dos atos oposicionistas nos últimos meses não tivessem o interesse eleitoral do PT em fazer o presidente sangrar sem cair! Como se os atos oposicionistas não estivessem formatados para quebrar a participação popular e criar agitação e palanque para Lula! As faixas, bandeiras e camisetas com a cara do ex-presidente, ostentadas pela base eleitoral pequeno-burguesa lulista, não nos deixam mentir. Curiosamente, neste dia 13 o próprio Bolsonaro fez coro com o PSTU e disse que o ato de domingo tinha sido desmoralizado porque tinha candidatos à eleição.

Já se configura tudo o que teremos no longo e sofrível ano de 2022: a “polarização” Lula versus Bolsonaro consumirá toda a política; não permitirá jamais o surgimento de outra via, que negue ambos os candidatos – seja ela uma via burguesa, seja uma via proletária e independente a ser idealmente criada. E toda a “esquerda radical”, que se finge de independente, já dá suporte a isso, já se auto-sabota! Ela já está instrumentalizada para eleger Lula. O PSOL nem mesmo terá candidato próprio ao governo federal (e Boulos se lançou candidato ao governo de SP para mostrar subserviência a Lula). Já partidos como PCB e PSTU – que dependem mais de suas bases e têm de ludibriá-las – se valerão do estratagema de apresentar um candidato próprio, para fingir independência frente à polarização, mas na hora decisiva darão apoio ao PT, alardeando o risco autoritário de Bolsonaro (risco que, entretanto, não justifica uma resposta rápida a manifestações autoritárias, como a do 7 de setembro…).

Um dos principais motivos de tal capitulação política é financeiro: é o medo frente ao fim do fundo partidário, que passa a valer a partir da eleição de 2022. Partidos que não passarem pela “cláusula de desempenho” ficarão sem dinheiro estatal (leia-se: mais-valia extraída da classe trabalhadora) em 2023. Isso é sufocante para as suas burocracias internas. O PSOL é o único que passa (raspando) pela cláusula de desempenho. Em tal situação, tais partidos não podem se afastar; têm de se unir mais e mais, tendo em vista a subsistência ou possível união amanhã (possivelmente no PSOL, já sequestrado pelo lulismo). E se Lula for eleito, talvez – acreditam eles – possa até revogar a reforma eleitoral.

A esquerda que tiver coragem de se contrapor às vontades do pelego-mór será atacada por todos esses partidos. As poucas lideranças mais à esquerda presentes nas manifestações de domingo – como a presidente da UNE e a deputada Isa Penna, do PSOL – estão sendo perseguidas e xingadas nas redes sociais pela tropa de choque lulista, numa tentativa de silenciamento e coação àqueles que ousaram não seguir a linha oficial petista. Aliás, nos dias 12 e 13 viu-se a verdadeira “frente ampla”: lulistas, psolistas, membros do PSTU, anarquistas (anarco-petistas), filhos do presidente e o próprio Bolsonaro postando em suas redes imagens do ato do dia 12, comemorando o esvaziamento. Bolsonaro, no “cercadinho” voltado a seus apoiadores, rindo à beça, falou que foram “atos de dar dó”. O general Mourão, vice-presidente, mais sóbrio em sua declaração, afirmou aliviado que a manifestação foi pequena “porque a esquerda não aderiu”.

A ideia de que não se pode ir às ruas com o MBL beira o cinismo, quando pensamos que as lideranças acusadas de “fascistas” pela nossa “esquerda” são, em grande parte, aquelas com as quais Lula e o PT nunca tiveram o menor pudor em compor governos. Na realidade, o próprio PT pode aceitar PSDB, MBL etc., em manifestações, mas com a condição de serem convocadas e controladas por ele (e o próprio PSTU transparece essa ideia, quando mostra disposição a ir em atos amplos se eles forem organizados de forma “unitária”, ou seja, dirigidos pelo PT e pela CUT). A mensagem do PT é clara: só haverá luta contra Bolsonaro, inclusive em unidade com MBL, PSDB etc., onde e quando o candidato Lula deixar.

Apesar das nossas óbvias e gigantescas diferenças com o MBL, VPR etc., é preciso dizer claramente: eles são hoje um risco muito menor à organização da classe trabalhadora do que o petismo. Ao contrário do partido de Lula, nunca estiveram nem no executivo federal nem em nenhum governo estadual ou municipal relevante; nunca retiraram sistematicamente – por anos a fio – direitos dos trabalhadores, nem realizaram reformas previdenciárias e trabalhistas contra a nossa classe. Suas propostas de leis direitosas sempre foram diversionismo político – nunca foram realmente passíveis de aprovação nem eram o que mobilizava o grosso das pessoas em seus atos (interessadas em tirar Dilma, a gestora capitalista de plantão). E o mais importante: eles não têm qualquer relevância no local mais relevante para a luta de classes – a esfera de produção de valor, de exploração da força de trabalho, onde surge a riqueza capitalista. MBL e VPR não têm máfias sindicais, gângsters e bate-paus que impedem violentamente qualquer organização revolucionária de panfletar para operários na porta de fábricas importantes (como faz a CUT). MBL e VPR não têm sindicatos que denunciam qualquer operário que se revolte contra as suas condições de trabalho. Dizer hoje que é perigoso se juntar a MBL e VPR nas ruas para derrubar Bolsonaro só pode ter o sentido de dizer que isso põe em risco os planos de Lula para manter Bolsonaro até o fim de seu mandato.

O esvaziamento dos atos do dia 12 comprova o que a TS sempre afirmou: organizações como MBL e VPR são epifenômenos das contradições reais. Elas não têm consistência nem são um risco real. Elas só juntaram gente em atos nos últimos anos porque souberam cavalgar gigantescas contradições reais, objetivas (e porque a “esquerda” de oposição ao PT se absteve de enfrentar tais contradições, a mando de Lula). Mas o fato de MBL e VPR serem organizações desprezíveis não significa, de forma alguma, que não se deveria dar coletivamente uma grande resposta ao 7 de setembro de Jair Bolsonaro. Em meio às mortes da pandemia, que persistem, em meio aos desdobramentos políticos da CPI da Covid, em meio a tantos crimes cometidos pelo presidente, em meio à fome que grassa e ao desemprego que aterroriza, deixar de atacar o presidente num momento em que pode se fragilizar mais e cair, deixar de demonstrar força, é uma atitude política criminosa!