A epidemia do coronavírus não é o elemento causador da crise, mas o elemento que ilumina o tamanho da crise da humanidade em nossa época.
Há muito o capital transcendeu as fronteiras nacionais. A destruição capitalista, porém, atingiu um ponto em que essa situação se revela cada vez mais a olhos nus. As mudanças climáticas que se manifestam como enchentes, secas, queimadas e suas consequências desastrosas demonstram na nossa pele que a destruição das forças da natureza afetam os trabalhadores em todo o globo. A pandemia revela agora a destruição a que está submetida a força que move a economia mundial: a força de trabalho.
A qualidade que diferencia esse vírus é a sua capacidade de contágio. Existem doenças que são individualmente mais letais ao organismo. Porém, o crescimento exponencial da contaminação faz com que os sistemas de saúde rapidamente atinjam seu limite, deixando milhares sem possibilidade de receber os cuidados adequados, o que aumenta as taxas de mortalidade. Do dia para a noite, os estados capitalistas revelam sua falência em garantir as mínimas condições para resolver os problemas que advêm das características da economia capitalista enquanto sistema planetário. Esses problemas desaguam inevitavelmente sobre as costas da classe trabalhadora mundial, hoje, a principal vítima do colapso dos sistemas de saúde.
Sob essa situação, os líderes burgueses paralisam e hesitam em tomar as medidas mais efetivas para controlar a pandemia e proteger os trabalhadores. São pressionados pela falta de visão e pela sede desmedida de exploração dos proprietários que representam. Como Dória no governo de São Paulo, dizem temer parar a economia, voluntariamente ignorando que a economia necessariamente parará se boa parte da força de trabalho se encontrar impedida de trabalhar em decorrência da sua falta de ação.
Por fim, a falta de uma força organizada a nível mundial capaz de lutar pela defesa das condições de vida da classe faz com que em cada país os trabalhadores sejam empurrados por diferentes políticas para lidar com a mesma crise. Abandonada, ela se torna alvo fácil do contágio de um lado, e do pânico, de outro.
Dessa forma a TS orienta a todos os seus militantes, simpatizantes, e às organizações de esquerda as seguintes diretrizes para a situação de emergência que se ergue diante de nós:
As direções sindicais, oposições e militantes inseridos na categoria devem exigir o cancelamento das atividades no local de trabalho agora, sem prejuízo do salário. Onde for possível, devem parar mesmo o trabalho.
O mesmo vale para as organizações nos locais de estudo: diretórios e centros acadêmicos, grêmios estudantis, e estudantes, universitários, secundaristas e, onde for possível, mesmo no nível fundamental, devem exigir o cancelamento das atividades nas escolas e faculdades.
Exortamos outras organizações de base, como organizações comunitárias, a seguirem diretrizes equivalentes, adaptadas a suas características e funcionamento.
Na medida do possível, as organizações devem também se responsabilizar pela proteção de suas bases, realizando campanhas para evitar o pânico e ensinando os cuidados adequados de higiene que dificultam o contágio.
Por fim, a atual crise também desvela o resultado das reformas trabalhista e da previdência. Hoje, existe um enorme contingente de trabalhadores em trabalhos extremamente precários, que não lhes oferecem a mínima proteção quando ela é mais necessária. Entregadores, motoristas, faxineiros, cujo pagamento depende diretamente do serviço que realizam no dia, e que serão extremamente afetados em sua fonte de renda. Exigimos a criação imediata de um seguro-renda, para que esses trabalhadores não sejam jogados à míngua com a diminuição da atividade que inevitavelmente virá a seguir.
Está mais do que claro que os trabalhadores só podem contar com sua própria força. Passemos a contar com ela então.