O bolsolulismo está vivo e é a principal corrente política em Brasília hoje. O nome de Augusto Aras para a PGR foi indicação velada de Jaques Wagner, quem hoje dá as cartas do PT em Brasília. Aras é a materialização do acordo Bolsonaro-PT para que os ladrões de ambos os lados se salvem. A CPI da Lava-Toga pode quebrar o acordão
É difícil saber quem mente mais, Bolsonaro ou os petistas. Os petistas de base estavam ontem “putos” porque Bolsonaro não escolheu um Procurador Geral da República entre os nomes da lista tríplice do Ministério Público Federal. Seria a “comprovação do autoritarismo” do presidente, segundo eles. Mas o petista graúdo Jaques Wagner disse o seguinte à reportagem do Congresso em Foco:
“O que se pode contestar é o fato de ele ser escolhido fora da lista, mas isso para mim não é uma obrigação. No nosso governo do PT sempre se falava a favor da lista, mas não tem previsão legal, era questão de o governo aceitar”.
O petista ex-ministro da Dilma, Eugênio Aragão – que sempre se destaca por ser transparente e, assim, desmontar as narrativas petistas – disse o seguinte para a mesma reportagem:
“Existiam escolhas piores. Se fosse qualquer um da lista tríplice, seria a representação do corporativismo mais bruto do Ministério Público. Sob esse aspecto, Bolsonaro não se deixou levar pelo corporativismo. Todos apoiavam sem fazer autocrítica à Lava Jato e faziam parte do DNA corporativo do Ministério Público.”
Aragão descreve Aras como um “bolsonarista nato que era marxista convicto quando tentava o STF (Supremo Tribunal Federal) nos anos Dilma”. É evidente que Aras – assim como os petistas – não é de esquerda nem marxista, mas a frase serve para destacar o absurdo do que se passa nesta conjuntura. Aras é o homem que dava festas em sua casa à cúpula petista, onde discursava, entre outros, José Dirceu.
Na verdade, o que se passa em Brasília hoje é um acordão entre Bolsonaro e os petistas para que ambos os lados se salvem em seus crimes de corrupção burguesa. Bolsonaro está se cercando de graúdos petistas para não ser derrubado. As indicações principais vêm diretamente da cúpula do PT (com aval de Lula). Além de Aras, indicado por Jaques Wagner, sabe-se que Bolsonaro apontará André Mendonça – Advogado Geral da União – para a vaga no STF. Mendonça é indicação do presidente do STF, José Dias Toffoli, pau-mandado de José Dirceu. Foi Toffoli quem disse há pouco que impediu a conspiração de impeachment contra Bolsonaro, pois isso “faria mal à democracia” (ora, mas não era “fascismo”?)
A questão central agora é quebrar o acordo entre Bolsonaro e os petistas, pois aí está a única possibilidade real de se derrubar o presidente. O PT virou um verdadeiro entrave à derrubada de Bolsonaro e o será cada vez mais. Veja-se isso com a instalação da “CPI da Lava-Toga”. Seu principal intuito é ampliar a investigação contra José Toffoli, petista, presidente do STF. Toffoli rebrilha nas planilhas do propinoduto da Odebrecht com a bela alcunha de “amigo do amigo do meu pai” (em referência a Lula, amigo do pai de Marcelo Odebrecht).
A CPI da Lava-Toga pode quebrar ao meio a corrente bolsolulista, mas isso levará à investigação de Flávio Bolsonaro no caso da “rachadinha” com as milícias cariocas; levará, assim, ao envolvimento de toda a família Bolsonaro; levará, portanto, à queda do governo. Eis por que Flávio Bolsonaro nada mais faz do que lutar energicamente para impedir a instalação da CPI. Flávio ligou aos senadores Selma Arruda (PSL-MT), Soraya Thronicke (PSL-MS) e Major Olímpio (PSL-SP), tentando dissuadi-los de assinar a abertura da CPI. Flávio não poupou berros e xingamentos. Selma Arruda agora ameaça se desfiliar do partido do presidente e ir para o Podemos.
Mas Flávio tem a felicidade de ter no senado muitos nobres aliados. Além da honrada e imaculada nata do PP, DEM e PMDB, tem a seu lado os impolutos petistas dirigidos por Jaques Wagner e Humberto Costa. Este declarou que “vê na Lava Toga uma tentativa de intimidar o Judiciário e de se atender a demandas do procurador Deltan Dallagnol”. O PT no Congresso está mais empenhado em criar, junto com PSB, PCdoB e PSOL, a chamada “CPI da Vaza-Jato”. Nada resume melhor a realidade brasileira atual do que o fato de que a nata política corrupta não quer investigar a corrupção e abuso de autoridade dos tubarões e bagres do judiciário mas é vingadora contra os lambaris do MPF.
A CPI da Lava-Toga precisa agora de 27 assinaturas para ser instalada. E conta exatamente com esse número. Pode cair por terra de hoje para amanhã, a depender da pressão do governo e aliados petistas. Especula-se sobre a possibilidade de ela ser instalada ainda nesta semana – mas dependerá, é claro, da vontade final de Davi Alcolumbre (DEM), presidente do Senado.
A situação toda comprova o que dissemos desde sempre: PT e Bolsonaro são farinha do mesmo saco. Ambos se retro-alimentam. O PT criou Bolsonaro e Bolsonaro recria o PT. Tudo comprova como estávamos completamente corretos ao não votar em nenhum dos dois em outubro de 2018, e em denunciar como posição pequeno-burguesa a daqueles que votaram em Haddad com medo de um “fascismo” ou “autoritarismo” inexistentes… Como se o PT fosse um “mal menor”. Em vez de política proletária e revolucionária, baseada em princípios e análise fria da realidade, a “esquerda” adaptou-se à política burguesa, à narrativa daqueles que falam (e mentem) a partir de seus cargos no Estado burguês.
Hoje, quando Bolsonaro vai à falência entre os que o elegeram – justamente devido à sua aliança com o PT –, nada há para se por no lugar, porque a “esquerda” de verdade não existe, não soube nem quis se construir como alternativa histórica ao PT desde o início da crise política brasileira (2015). A chamada “esquerda” em nenhum momento assumiu uma política audaciosa, direta e clara de disputa da maioria da população. Ela foi cúmplice do PT e, por isso, somente o PT é que pode voltar a ocupar o espaço político na queda do Bolsonaro.
Ainda assim – a despeito de nossa “esquerda” inerte e apática –, o atraso tem de ser tirado. Uma nova esquerda revolucionária tem de ser construída urgentemente. Para isso, a primeira coisa que se deve falar na próxima semana é:
Abaixo o acordão Bolsonaro-PT!