Algo significativo na semana que passou foi a proibição, por parte de Toffoli (presidente do STF), do compartilhamento de informações do COAF com o Ministério Público e a Polícia Federal. Só poderiam agora ser compartilhadas com autorização judicial. O compartilhamento de tais informações fora legitimado pelo próprio STF em votação de 2016, quando 9 ministros foram favoráveis e 2 contrários.
Toffoli, desrespeitando tal maioria, fez uma manobra de mestre: primeiro, quando ainda havia expediente no STF, jogou uma rediscussão de tal compartilhamento de informações para novembro de 2019; agora – quando já adentraram nas “férias” dos magistrados –, decretou monocraticamente que tal compartilhamento deveria cessar.
O caso gerou um rebuliço. Antes de tudo, entre os membros das corporações afetadas, deslegitimadas (MP e PF). Mas também entre pessoas de mínimo bom senso. Afinal, tal proibição conduz à impunidade em dezenas de milhares de crimes hoje investigados, de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, entre outros. São assim favorecidos diversos criminosos no país, entre eles a lumpem-burguesia (PCC e variantes, como milicianos) e a canalha parasita burguesa envolvida na Lava-Jato (PT, PMDB, PSDB, PP etc.)
Por que Toffoli fez isso?
Antes de tudo, porque sua própria mulher está sendo investigada, por lhe passar uma “mesada” de R$ 100.000,00 (a qual ele divide com a ex-mulher). Todos os indícios apontam para lavagem de dinheiro. Além dele, o caso se repete com colegas da corte, muito dedicados à salvação dos ratos burgueses enlameados. Falamos de Gilmar Mendes, cuja esposa, Guiomar – a mesma que foi nomeada por Temer para o conselho da Itaipu –, também está embrenhada nas malhas do COAF.
Mas não pára por aí. O notório – e que deu base à ação – foi o pedido do filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Este teme a investigação no MPRJ a partir de dados do COAF sobre suas contas, pois indicam que ele montou um laranjal para favorecer sua família e articular-se com milicianos. O caso Fabrício de Queiroz.
Assim, a ação da Toffoli atende “à direita” e “à esquerda” (note-se as aspas, pois na realidade os grupos aqui comentados são praticamente a mesma coisa, de direita). Toffoli atende tanto a corja tucana (G. Mendes, Aécio), quanto a corja petista (ele próprio e outros investigados na Lava-Jato), a corja mdbista (Temer, Geddel etc.), e a corja dos bolsonaristas. Trata-se de uma conspiração evidente dos bandidos e parasitas burgueses contra a maioria da população trabalhadora brasileira.
Qual foi o acordão de Toffoli com Bolsonaro? Nada público, é claro, mas o tico e teco, ao se unir, permitem supor algo.
Bolsonaro disse há pouco mais de um mês que quer um ministro “terrivelmente evangélico” para o supremo. Até aí, nada de novo, pois em 2007 Lula nomeou Carlos Alberto Menezes Direito, “terrivelmente evangélico”, ao STF. Mas o curioso é que nesta semana Bolsonaro disse que o “pastor” André Mendonça – Advogado Geral da União-AGU – é “terrivelmente evangélico”. Coincidência? Certamente não. Note-se que outros AGUs já viraram ministros do STF (os próprios Toffoli e Gilmar Mendes). Da AGU para o STF há quase um caminho reto, dado que o papel do advogado na AGU é defender juridicamente a presidência e a indicação para o STF é do presidente. Tudo politicagem.
E quem é André Mendonça? Petista de carteirinha no início dos governos Lula, acompanhou com lágrimas nos olhos a chegada de Lula ao poder (que registrou na imprensa do Paraná). Emocionado, afirmou que a chegada de Lula ao poder em 2003 equivalia à chegada do povo ao poder. Esteve à frente da AGU no Paraná e depois ascendeu, estreitando laços com ninguém menos que… Toffoli.
Hoje todos sabem que André Mendonça é “faz-tudo” de Toffoli nos altos escalões. Aliás, virou AGU na gestão do Temer, por indicação de Toffoli, e Bolsonaro não teve coragem de tirá-lo dessa função pois não podia ficar frágil no STF (não podia melindrar o apoio de Toffoli). Quando os ministros do STF foram denunciados por pedir vinhos e champanhes da mais alta qualidade, bem como por comprar lagostas e caviares, quem saiu em sua defesa? André Mendonça (ou seja, representando a própria presidência). Quando Toffoli e Alexandre de Morais tentaram impor censura à imprensa (no caso da revisa Crusoé), quem os defendeu? André Mendonça, em nome da AGU, ou seja, da presidência.
O tico e o teco revelam que o acordão é o seguinte: Toffoli, bem como possivelmente Gilmar, Lewandovski e Alexandre de Moraes ajudarão a salvar Flávio Bolsonaro. Por outro lado, capangas do petista ascenderão e a corja da bandalheira se estabilizará, diminuindo contradições dentro da corte, tornando-se maioria, quebrando a ala que, pressionada – à despeito de suas vacilações e limitações de classe –, tem tomado posições deletérias à canalha nacional.
As brancas cãs recentemente adquiridas por Toffoli lhe revelam que urge fazer maioria, dadas as décadas que terá no principal órgão jurídico do país. Lula agradece. Bolsonaro agradece.