Entenda:
O crescimento do PIB foi abaixo do esperado. As altas do dólar vêm batendo recorde há alguns dias, e o real já é a moeda mais desvalorizada de 2020. Hoje, a economia mundial avançou pesadamente em direção à crise, com o derretimento das bolsas ao redor do mundo.
O índice bovespa perdeu em um único dia tudo que havia ganhado no último ano. A perda de valor das principais empresas brasileiras chegou na casa das centenas de bilhões de reais. O valor do petróleo caiu para o preço mais baixo desde 1991, com a guerra do Golfo. As cadeias de produção e distribuição já estavam parcialmente interrompidas pela epidemia do vírus corona, o que tira parte da capacidade de reação capitalista à crise.
A primeira resposta do governo federal à situação caótica é alarmante: indica que o governo não tem nenhuma resposta. Paulo Guedes, como o cachorrinho do meme, está tranquilo dentro do quarto em chamas que é a economia brasileira. Bolsonaro, sem saber o que fazer diante da crise, apostou em mudar o assunto: anunciou ter provas sobre fraudes eleitorais – sem elas, teria sido eleito no primeiro turno, anunciou o presidente.
Não é assunto novo, basta puxar pela memória: ainda durante as eleições, o presidente já havia levantado a mesma acusação. Por que retomá-la agora, e jogar dúvidas sobre o pleito que o elegeu?
A crise econômica exigirá do governo uma resposta forte: muita esperança foi depositada em suas mãos. O governo, porém, não tem nenhuma resposta diante do cenário. A economia das reformas trabalhista e da previdência está prestes a ser posta à prova, e ela entregará o de sempre: uma meia dúzia de exploradores aguentará o tranco, e quiçá sairá ainda mais rica do processo. A grande maioria da população, entretanto, já intui o que a espera: alta dos preços, aumento da carga de trabalho, diminuição do poder do salário, desemprego, arrocho, aperto… economias de uma vida virando pó.
Bem no momento de demonstrar forças, Bolsonaro dá sinais de fraqueza: depois de mil peripécias para sair do PSL e fundar o seu partido, o esforço para colher assinaturas para a Aliança pelo Brasil deu resultado aquém do esperado. O novo partido não disputará as eleições municiapais deste ano, e o processo de validação encontrou indícios de fraude: assinaturas de pessoas mortas. Os atos chamados para o dia 15, a favor do presidente, perigam também dar um baixo resultado. A resposta insuficiente de Paulo Guedes, ainda por cima, estremece um dos pilares de sustentação de seu governo: Paulo Guedes é o avalizador de Bolsonaro perante o mercado, e sem ele, o governo de Jair torna-se mais rifável.
A única arma de Jair Bolsonaro é manter sua base aquecida, e, para fazer isso, ele necessita de ajuda. A acusação de fraude eleitoral sozinha não é suficiente para manter sua militância em estado de tensão. Mas ela pode funcionar se receber ajuda da histeria de tendência petista. Tudo que o presidente precisa é que mordam a isca.
Chamarão o presidente de golpista, defenderão o sistema de urnas eletrônicas, gritarão e se debaterão sobre tudo o que não importa. Esquecerão de muito boa vontade de cobrar aquilo que é central: qual é a resposta para a crise?
Fazem isso porque no fundo são irmãos: para além de toda a grita, para além de jogarem o papel de oposição, como o atual governo, não têm nenhuma resposta para a crise. Pior, também são responsáveis pela situação em que nos encontramos.
A burguesia de todo o mundo não encontrará saída para a crise que não o acirramento dos conflitos de classe. Os revolucionários devem se manter ao lado das massas trabalhadoras, com total independência de todo o jogo burguês. O que mais temem Bolsonaro e os petistas é a luta do único sujeito histórico capaz de impor um fim à barbárie e anarquia capitalista: o proletariado.
Por isso, as palavras que devem habitar nossa boca nas próximas semanas são:
Bolsonaro, dê uma resposta sobre a crise ou renuncie.
Oposição de esquerda, saia da asa do PT, deixem de lutar por direitos abstratos, preparem a defesa da classe e o momento de derrubar o governo quando ele não oferecer resposta à crise.
Chega de cair no jogo de gato-e-rato da indignação proposto por Bolsonaro. O derretimento das bolsas demonstra que não é hora para brincadeira. A situação é séria, e se não formos capazes de superá-la, ela nos engolirá a todos. Somente a força dos trabalhadores organizados será capaz de fazer frente à destruição capitalista.