No dia 15 de março haverá uma importante jornada de luta contra a reforma da previdência de Temer. A atividade é produto de uma ação articuladora da CSP-Conlutas, que pressiona demais centrais sindicais. Como insistimos em muitos textos, a unidade geral dos trabalhadores – a frente única de todos os sindicatos – é importante para começar a colocar a classe em movimento, e essa é a condição de qualquer mudança política. Estão corretos os companheiros da CSP-Conlutas que pressionam pela atividade unitária e pelo dia de luta.
Ainda assim, é preciso lembrar que as maiores jornadas de paralisação operária se deram próximas aos dias de grandes atos de rua contra Dilma, tanto em 2015 quanto em 2016. Portanto, esses atos não podem ser desprezados. Foi o descontentamento geral da população trabalhadora brasileira contra o governo burguês que, influindo nas categorias organizadas, fez com que as centrais sindicais mais acomodadas ou burocratizadas (CUT, Força, etc.) se mexessem. A possibilidade de movimentação operária está estreitamente vinculada, neste momento histórico, ao ânimo geral das massas em relação ao governo. O movimento operário e o das ruas se inter-influenciam como uma só e mesma coisa.
O governo Temer é continuidade do governo Dilma. A política econômica e a submissão ao grande capital são as mesmas. A crise política nacional, embora tenha altos e baixos, é a mesma. O processo político geral que se dá no país desde 2015 é um só – passando por Temer e Dilma –, justamente porque o que está por trás é um conflito agudo (embora nem sempre visível) entre capital e trabalho, numa condição de crise econômica profunda, particularmente em nosso país. Os dilemas políticos da esquerda (e de sua construção) são os mesmos. Por isso, é importante refletir também, além do dia 15, a respeito do dia 26/03, e não desprezar a sua importância (por mais que este ato possa ser menor, se comparado aos anteriores).
Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre, os grupos de direita que chamam o ato do dia 26/03, só o fazem porque se sentem pressionados por sua base, a base que derrubou Dilma. Basta ver como são criticados em seu facebook. VPR e MBL têm rabos presos com o governo Temer (com PMDB, PSDB e DEM); chamam os atos à revelia. Apesar do que falam MBL e VPR, a massa pressiona para lutar contra Temer. Ao contrário do que eles falam, a massa de sua base é totalmente contra a reforma da previdência. Assim, quando a esquerda deixa de disputar esses atos, quando ela não separa direção e base, ela deixa de dialogar com um dos elementos principais nesta conjuntura – uma certa mola propulsora – da movimentação geral da classe trabalhadora (incluída nela os setores operários): ela deixa de dialogar com um importante setor proletário revoltado contra o governo burguês.
Não há porque separar os dias 15 e 26/03. O ideal até é que fossem um só dia. A esquerda deveria saber atuar para transformar isso tudo num só dia de luta. Num mesmo dia, poderia haver paralisações operárias e manifestações grandes de rua, contra Temer e a reforma da previdência. É evidente que os grupos de direita não iam querer isso, mas se a esquerda tivesse tática, rapidamente roubaria a base da direita. A massa dos atos quer falar contra Temer, mas a direita a abafa. A massa dos atos é contra reforma, mas a direita é a favor.
Ainda assim, se a esquerda revolucionária não consegue transformar os dois atos num só, ela pode (e deve) atuar nos dois atos, 15 e 26, com um só e mesmo conteúdo: contra Temer e as suas reformas. A “esquerda” até hoje gritou “Fora Temer”, mas ao que parece da boca pra fora, como palavra de ordem de festa ou de carnaval. Na hora de realmente se relacionar com a massa que está ficando cada vez mais revoltada com o governo e suas reformas, a esquerda prefere se fechar em seu próprio gueto pequeno-burguês. Na hora de pegar a massa que está na rua e é realmente contra Temer, boa parte da esquerda vacila por mera frescura.
A serviço de quem está essa frescura?
Por que a “esquerda” não vai no ato do dia 26, ou não faz nenhuma pressão por unidade, dado que as pautas poderiam ser as mesmas? Pelo simples fato de que a “esquerda” – leia-se PT e agregados – quer mais defender Lula e sua candidatura do que lutar contra a reforma da previdência. Na verdade, o único elemento que não é comum, entre os dias 15 e 26, é Lula. A “esquerda” não vai em atos como os do dia 26 porque isso impede totalmente a campanha velada que ela faz para Lula em todo momento. Lula é o único plano dessa falsa esquerda para voltar à lama do poder e da corrupção burguesa.
A realidade é implacável e cobra seu tributo. Não adianta enfiar a cabeça em baixo da terra e fingir que a realidade não existe. A traição ou vacilação de boa parte da esquerda hoje cobrarão um alto preço amanhã. A eleição de Lula poderá abrir um novo capítulo, muito mais grave, do fortalecimento do Estado burguês contra as organizações independentes da classe trabalhadora.
Também não adianta olhar aliviado a atos menores da “direita” e torcer para que eles diminuam mais e mais. Pequenos fatos políticos podem reascender as ruas e o conjunto do proletariado, numa situação de crise econômica ainda profunda e de gigantesca ingovernabilidade da classe capitalista brasileira. Temer está por um fio. Todos os seus assessores principais ou caíram ou estão na mira. Geddel já caiu. Padilha, o mais próximo de Temer, foi fritado pelo próprio presidente para se salvar, e deve cair em poucos dias. Moreira Franco ainda é um ministro aguardando para ser e verá um processo aberto pelo MPF contra si. Jucá preside o governo no Senado, mas é também odiado. O núcleo duro do governo ruiu. Temer assumiu praticamente sozinho (com o pouco hábil politicamente Meirelles), nesta semana, a negociação com os partidos pela reforma da previdência. O congresso está todo dividido. A chance de Temer não conseguir aprovar a reforma da previdência é grande. E se isso ocorrer, o governo Temer terminará sem conseguir fazer nada. O que a esquerda pode fazer? Facilitar ou dificultar para Temer.
Lula, em 2003, quando chegou ao poder, chancelou a reforma da previdência de FHC, a mesma que havia falado contra. Não só chancelou, como fez outra por cima, pior, atacando ainda mais os trabalhadores (época em que, por isso, parte do PT rachou). Se Lula voltar ao poder, com absoluta certeza chancelará a reforma da previdência de Temer e do “companheiro” Meirelles. Assim, ignorar a massa proletária que apoia atos como os do dia 26, ou seja, cair na lógica do lulismo, não é só trabalhar para Lula, mas é também facilitar para Temer e facilitar a aprovação da reforma da previdência. É preciso saber lutar em todas as frentes que eletrifiquem o proletariado contra o governo burguês.
Dilma não conseguiu atacar a classe trabalhadora em seu segundo mandato devido à pressão das massas desde o início de 2015. A questão agora é saber se Temer conseguirá. É possível adiar os ataques do capital ainda mais, mas isso depende também da política correta da esquerda revolucionária. Tudo é uma correlação de forças, ou melhor, luta de classes. À esquerda cabe estar ao lado do ódio das massas trabalhadoras contra este governo e suas reformas, onde quer que ela esteja, sem trocar a política revolucionária pela frescura ou vacilação pró-lulismo.