“A nossa primeira medida, em primeiro de janeiro de 2019, será propor um plebiscito para que o povo possa decidir se quer manter ou revogar as medidas tomadas por Michel Temer”.
Foi assim que Boulos respondeu à primeira pergunta no Roda-Viva nesta segunda, dia 07/05. Parece muito radical, mas não é. Na verdade, um lutador honesto deveria responder algo absolutamente diferente:
“Não tem primeira medida porque eu não vou ser eleito para a presidência e nem pretendo isso. Não estou aqui pra gerir o Estado burguês. Apenas aproveito o espaço da discussão eleitoral, como este, para esclarecer o caráter de classe, burguês, deste Estado, denunciar a eleição como farsa e convocar a população a construir uma organização socialista, revolucionária, de combate, para acabar com o capitalismo. Essas ninharias, minúcias de gestão do Estado burguês, vocês devem discutir com os candidatos burgueses, não comigo”.
Mas obviamente Boulos nunca diria isso. Como Lula em 1980, Boulos adora as cascas de banana lançadas pelos jornalistas da burguesia, sente-se em casa nessa situações, gesticula com seus numerosinhos… Seria um ótimo e perspicaz gestor, pensam os jornalistas, visivelmente tomados de compaixão em vários momentos da entrevista. Boulos arranca sorrizinhos. Afinal, não seriam também estes jornalistas trabalhadores submetido à ideologia burguesa? Não querem eles um capitalismo mais justo?
O debate nem precisaria ser visto por completo. Tudo se resume em sua primeira resposta. Socialismo como igualdade de oportunidade, não demonização de empresário, o respeito à propriedade privada, tudo isso é detalhe – absolutamente todo o seu discurso está impregnado da mesma lógica. O quadro intelectual de Boulos é o do pequeno burguês que quer fazer uma reforma no capitalismo, usando o povo como bucha de canhão. É a ideia de que o Estado é neutro e pode ser usado para a maioria dentro de uma sociedade de classes, algo que nunca teve precedente na história da humanidade.
Em nenhum momento Boulos propõe qualquer coisa para acabar com a forma capitalista de exploração do trabalho (o que mantém o sistema capitalista). Boulos defende até que o PIB do país tem que crescer, pra gerar “renda” e emprego. Acaso se esquece de que crescimento do PIB é crescimento da mais-valia, ou seja, aumento da exploração da classe trabalhadora pelo capital?
Seja como for, é evidente que as massas populares desconfiam desse discurso meia-bomba de intelectual pequeno-burguês, cheio de dedos, números e sorrisos falsos. Infelizmente, preferem até um Jair Bolsonaro, que aparece como mais original e menos contraditório (e, de fato, em sua política burguesa nefasta, o é).
Boulos é a imagem da miséria da nossa “esquerda”, mas também revela (negativamente) a nós, revolucionários, que muito chão há de ser trilhado para nos diferenciarmos e nos afastarmos das figuras charlatãs que mancham a imagem do socialismo.
A classe trabalhadora tomar o poder é algo milhares de vezes mais factível, provável e possível do que Boulos gerir o Estado burguês a favor da população trabalhadora.