Neste momento só um milagre salva o governo Dilma. Quadros importantes do PT (no parlamento ou fora) já jogaram a toalha. Grande parte dos movimentos sociais jogou a toalha.
Com sua queda aprofunda-se seriamente a crise de dominação da burguesia em nosso país. Isso já está contido na figura de Lula. Até ontem onipotente, capaz das mais inusitadas articulações políticas, hoje simplesmente um pateta; tentou virar ministro, não conseguiu e passou vergonha nacional… Agora, se se tornar ministro, cairá com Dilma. Ontem, Lula rastejou atrás de Temer, implorando para o PMDB se manter no governo.
Quem afinal é esse Temer atrás de quem o grande Lula vai? Um sujeito nem mesmo eleito deputado por mérito próprio (somente graças ao coeficiente eleitoral de sua legenda); um obscuro e decorativo vice-presidente, há pouco desconhecido da nação.
Engana-se quem acha que agora algo se move para uma resolução positiva para a burguesia. Algo se move (finalmente!), mas para a piora da dominação burguesa. Pode haver um momentâneo esfriamento da revolta popular e das ruas, mas isso será só a aparência do processo. Um governo Temer será muito mais frágil do que o de Dilma, mesmo apoiado no PSDB; estará totalmente entrelaçado nas teias da corrupção e terá altas chances de ser derrubado. Temer entra com menos aprovação popular do que Dilma hoje. PMDB e PSDB já foram testados historicamente. Todos já provaram do seu gosto amargo. Logo a população trabalhadora reconhecerá as mesmas nefastas figuras que vampirizam a política brasileira há décadas, perceberá que tudo mudou para continuar igual e erguerá a cabeça!
A classe trabalhadora não aceitará ser enganada novamente. Com seu instinto, perceberá a fragilidade política desse governo burguês e passará à ação. Lembrem-se: após a ditadura militar burguesa instalou-se a democracia burguesa, e logo a população viu-se dirigida por José Sarney. Tudo mudara para continuar igual: o mesmo sujeito da Arena, do MDB, biônico dos militares, etc. Resumo da ópera: total insatisfação popular, descontentamento crescente com a economia (inflação), índices baixos de aprovação e, o mais importante, a greve histórica dos operários da CSN contra o governo. A próxima revolta tende a ser da classe trabalhadora, pois a pequena-burguesia provavelmente sairá de cena, confusa. Logo mais há campanha salarial de importantes setores produtivos e a burocracia sindical, sobretudo a CUT, estará desmoralizada e enfraquecida materialmente graças ao impeachment. Será a hora da classe passar à ação. A vanguarda das fábricas já espera, impaciente, o primeiro sinal para defender com métodos radicais seus empregos e salários.
A vanguarda socialista já deve erguer o próximo alvo e dizer: “Temer, você é o próximo! Já costuramos sua queda!” Não se deve por isso esquecer de Dilma, ou, como se diz, “tudo só termina quando acaba”. É preciso não abandonar o “Fora Dilma”; garantir que Dilma cairá e levará consigo o Lula. Todo cuidado para não adiantar o processo dialético, que exige táticas diferentes para atravessar o longo caminho contra diversos inimigos.
Só quem pode atravessar o processo e se fortalecer ao final é a esquerda socialista. Ela é a única independente, comprometida apenas com a classe trabalhadora. Com ela não há seletividade. Enquanto os petistas falam #RenunciaTemer, ou “desembarca Temer, junto com o PMDB!” (escondendo envergonhadamente seu “Fica Dilma”), os socialistas podem falar em alto e bom som: “Fora Dilma já! Temer é o próximo”.
Há outros exemplos de seletividade oportunista: a Força Sindical fala grosso contra o governo Dilma, defende sua queda, mas e amanhã, quando Temer assumir? Ela se calará e necessariamente ficará dissociada das massas. Sua desmoralização será ainda mais rápida que a da CUT hoje. E, na verdade, mesmo hoje a Força não tem coragem de mexer uma palha contra Dilma nos locais de trabalho, pois teme ser atropelada pela base. Seu “Fora Dilma” é retórico. A situação da CUT é igual, mas inversa: hoje defende Dilma e é vaiada nas principais fábricas. Amanhã falará grosso contra o governo Temer, mas não se mexerá de verdade para colocar sua base operária contra esse governo, pois teme que isso deflagre algo incontrolável nos locais de trabalho. A bravata do senador petista Humberto Costa, do alto da tribuna, contra Temer — “Vossa excelência será o próximo a cair!” — não é mais do que isso: uma bravata.
Só os revolucionários socialistas podem atravessar todo o processo incólumes. Em cada passo, é preciso saber fazer alianças para aprofundar conscientemente a confusão e desmoralização política da burguesia enquanto classe. Nesse sentido, amanhã, após a queda da Dilma, se o PT e CUT falarem que vão mobilizar suas bases contra Temer, devemos dizer: pois bem, façam-no! Mobilizemos juntos! Após a queda da Dilma, façamos um acordo de ação para isso! Devemos desafiá-los. O PT e a CUT na oposição, enfraquecidos, são algo bom para a esquerda revolucionária. Amanhã, após a queda da Dilma, em cada negativa de ação real tais organizações serão mais desmoralizadas diante da classe e se abrirá maior espaço para o novo na esquerda. As centrais sindicais verdadeiramente de luta ganhariam um importante espaço nas bases sindicais da CUT com um chamado à ação desses. Na verdade, é preciso não deixar pedra sobre pedra do castelo petista. Isso é condição para surgir uma nova esquerda no Brasil. Não basta o impeachment: é preciso mostrar amanhã, após a queda de Dilma, os compromissos petistas com a burguesia mesmo quando esse partido se diz “oposição”. Sua máquina é ainda muito e forte, capaz de conter com eficácia nossa classe.
Alguns nos acusam de sermos “demasiado antipetistas”. Essa acusação é infeliz, pois podemos bem fazer amanhã, após a queda da Dilma, sem problema algum, aliança com a CUT e o PT para mobilizar suas bases. E para isso suspender algumas críticas a eles. Nossa política é de classe, não de ocasião; está muito além da lógica binária dos que nos acusam e visa a fragilizar a burguesia como classe.
O único argumento que realmente poderia ser considerado hoje contra a queda de Dilma é o de que a classe trabalhadora não tem ainda sua direção revolucionária, e que abrir demasiadas contradições hoje é muito arriscado, pois poder-se-ia criar um monstro de repressão e perseguição à classe após sua ação ousada. Colocando na balança, uma grande derrota seria mais custosa do que arriscar sem direção, argumenta-se. Nesse sentido, é até lógica a defesa de alguns companheiros socialistas por novas eleições. Dado que o governo Dilma não tem mais chance de ficar em pé, novas eleições — que possivelmente seriam resolvidas pela eleição de Aécio Neves do PSDB — talvez dariam uma maior estabilidade burguesa ao país do que um frágil governo de algumas figuras corruptas e sinistras do PMDB. Esse período de estabilidade, pensam alguns companheiros, traria melhores condições para a esquerda seguir seu trabalho de construção.
Todavia, é preciso ser franco: a esquerda socialista está tomada por uma rotina perniciosa há décadas. Com uma política assim, estabilidade burguesa não é sinônimo de melhores condições para a construção da direção revolucionária. A esquerda segue — mesmo os melhores exemplos, infelizmente — com uma política sindical de calendário e um programa adaptado ao PT (aliás, o programa do “PT das origens”, não dialético e portanto reformista). Ela tende sempre à reafirmação da ordem burguesa, com reformas, vias apenas parlamentares e políticas morais pequeno-burguesas, democrático-burguesas. A construção de uma nova vanguarda exige um corte profundo na gênese da esquerda socialista brasileira; exige o fim deste ciclo de dominação da burguesia, com todos os seus fantasmas (seus partidos e representantes). Isso hoje só pode se dar com um corte também profundo na estabilidade burguesa, produzido pela forte ação espontânea das massas (inclusive, arrastando suas “direções”).
A esquerda revolucionária jamais conseguiu — nem mesmo os bolcheviques — determinar o momento de um ascenso, muito menos sua dimensão. A história se coloca, aparece, apesar da vontade consciente dos melhores agrupamentos. Não é hora de pensar em “novas eleições” (algo que, a rigor, nem se sabe onde pode dar), mas de favorecer a revolta radical da classe operária e a abertura de formas diretas de organização popular, nos bairros e sobretudo nos locais de trabalho. É hora de aprofundar conscientemente a crise de dominação da burguesia e favorecer a abertura da dualidade de poder. Num processo assim a classe trabalhadora aprenderá em um mês mais do que nas décadas de existência do PT. Somente sobre essa experiência se consolidará a vanguarda no próximo período histórico.
Fora Dilma!
Temer é o próximo!
Erguer a força direta dos trabalhadores e da juventude!