Desde o início da crise política atual (março de 2015), toda vez que um governante acha que consegue rebater a crise e se segurar, supondo refluir o descontentamento, é em seguida surpreendido por uma onda ainda maior, que lhe enfraquece mais. Foi assim com Dilma: seu governo foi descendo a ladeira, “combatendo” sempre a partir de patamares inferiores, até ser derrubado. Será assim agora com Temer. Este considera que fez pronunciamentos fortes, que re-ganhou parte dos partidos e parte da imprensa… Mas isso não durará. Já nesta semana mais e mais ratos pularão do barco e seu governo ficará totalmente inviável. Será rifado pela burguesia, exatamente como foi Dilma. Aliás, como sempre falamos, o governo Temer era apenas a paródia do governo Dilma.
Por que isso ocorre? Na verdade, esta crise é a mesma de junho de 2013. Sua essência é que amplas camadas de trabalhadores brasileiros não suportam mais o atual grau de exploração capitalista. Ao entrarem em cena, as massas colocaram em crise o andar de cima, dividindo os setores da burguesia, que hoje brigam entre si. Na ausência de uma organização revolucionária, as massas entram e saem de cena espontaneamente com certa frequência. Todavia, a cada vez diminuí o tempo em que as crises aparecem, refluem, e ressurgem. Dilma segurou-se por dois anos. Temer por um ano. O próximo presidente — Meirelles, o amigo de Lula e Temer? — será a paródia da paródia, mais fraco ainda, e ficará menos tempo. Aproximamo-nos do momento de auge da crise, em que o período de choques se torna tão curto que vira paroxismo, abrindo o desfecho do conflito.
O desfecho tenderá a ser um conflito amplo. Talvez algo como um novo junho de 2013, mas em patamar superior, pois conterá os ganhos que o movimento de massas adquiriu espontaneamente desde lá. De 2013 para cá, as massas perceberam que o problema não era só uma mercadoria isolada (“não são só 20 centavos!”); perceberam que as grandes empresas estão mais preocupadas com seus lucros do que com a saúde das pessoas (como no caso dos frigoríficos que produzem carne podre e compram fiscais); perceberam que o problema não era só a corrupção de um partido, mas de todo o sistema político; perceberam que todo o sistema político é títere nas mãos de grandes empresas capitalistas, e que os partidos trabalham para o interesse privado e não para o “bem comum”.
Ou seja, nesse longo processo a realidade ganhou determinações de classe; ela saiu de sua aparência “neutra” e mostrou-se aos poucos em sua essência, como dominação da classe burguesa sobre a classe trabalhadora. É por isso que o novo junho de 2013 tenderá a ser superior, enquanto uma revolta de classe muito mais séria. O Brasil caminha para um novo estouro da luta de classes, num patamar qualitativamente superior. Numa situação assim, o que os revolucionários devem fazer? Devem apontar para a ordem burguesa ou para uma nova ordem? Devem depositar esperanças em vias por dentro do Estado burguês, ou em vias por fora?
A saída não é diretas já. Não podemos repetir o erro do início dos anos 1980, quando o PT bloqueou a via revolucionária e ajudou a resolver a crise da Ditadura Militar, canalizando as energias da esquerda para dentro do parlamento e do Estado burguês. Chega de repetir os erros nefastos do passado. É preciso sair do que parece “factível” e “realista”, pois isso é apenas a miséria do possível. Esse pragmatismo (empirismo) não serve para a transformação da realidade. A esquerda precisa apostar em outro caminho, não aberto: o caminho de um novo poder, o poder da classe trabalhadora, oposto ao poder oficial, oposto ao Estado burguês.
Mas um poder assim não brota do nada. O poder dos trabalhadores é lastreado nos locais de trabalho, primeiro a partir dos Comitês de Fábrica, e depois a partir dos Conselhos. Esse poder não existe hoje, objetivamente, o que faz com que muitos lutadores aceitem a lógica da miséria do possível, achando a “eleição direta” mais “factível”. Ora, o fato de não haver ainda, objetivamente, embriões de outro poder, de um poder dos trabalhadores (como os Comitês de Fábrica), não nos deve levar necessariamente à defesa de saídas oportunistas, eleitoreiras, que reorganizem o Estado burguês. Os revolucionários têm de atuar para que o regime burguês fique menos legítimo ainda, e não o contrário.
Os revolucionários precisam entender que ainda têm de realizar a tarefa número zero — vincular-se à classe operária nas fábricas, ajudando na criação dos Comitês de Fábrica, pois é daí que nascerá o poder operário. Os revolucionários perdem muito tempo e abandonam as questões comuns da classe trabalhadora. Quando a crise de classes estoura, os revolucionários não têm o que fazer, não conseguem ajudar a classe a abrir o poder operário, pois não se prepararam para isso. Ora, não há tempo a perder. É preciso, neste momento, não capitular às saídas falsas, eleitoreiras e oportunistas, gastando tempo com “diretas”, “constituinte” e outras panacéias. É preciso, acima de tudo, ir às fábricas com o triplo de forças, relacionar-se com a classe operária e preparar-se para o grande estouro que necessariamente virá amanhã!
O tempo é escasso, mãos à obra!