Essa pergunta hoje ressoa na classe operária e nos trabalhadores em geral: PSOL pior que o PT? Sim, é uma pergunta que hoje se levanta como fundamental, liquidado o PT, que serviu de barreira para a construção de um partido revolucionário no Brasil. A partir da decadência absoluta da ditadura no início de 1980, surgiu o PT para barrar a construção de um partido revolucionário dos trabalhadores. Lembro-me que em 1979, Pierre Broué, um dos maiores teóricos do trosquismo, esteve no Brasil, e apontou que a OSI (Organização Socialista Internacionalista) estava então certa ao caracterizar a base sindical do PT como similar àquela do peronismo. Dizia ele então: a Convergência Socialista está errada ao apoiar o PT; existe um levante de massas no Brasil, tanto estudantil como operário, que pode levar aos conselhos. Estava certo Broué, a OSI crescia mensalmente, de forma aproximada, cem militantes por mês. Da mesma forma, outras organizações que se postulavam como revolucionárias e socialistas cresciam em ritmo similar. Basta lembrar nas assembleias operárias de 100.000 na Vila Euclides. Assembleias operárias se espalhavam por todo o Brasil. Por exemplo, a cidade de Sertãozinho, próxima a Ribeirão Preto, uma cidade metalúrgica, parou inteira em 1980. Da mesma forma, nas universidades, os estudantes se aliavam com os operários numa luta conjunta contra a ditadura semimorta e lotavam assembleias nos diversos campi. Em poucos meses poderia surgir uma opção revolucionária no Brasil, o caminho dos conselhos operários estava aberto!
No entanto, o que ocorreu? Todos os setores trosquistas que atuavam no movimento operário e os setores centristas aderiram ao PT! Broué ainda havia advertido: é inviável construir um partido embasado nos sindicatos no século XX, essa etapa foi cumprida e esgotada pelo partidos sociais-democratas que nasceram no fim do século XIX e que mostraram-se impotentes para barrar a chegada ao poder dos diversos partidos fascistas na Europa, da Alemanha à Espanha nos anos 30. Assim como agora, perguntava Broué: quando as forças produtivas pararam de crescer, quando os desempregados aumentam dia a dia desde a crise de 1929, pensam que é possível construir um partido social-democrata progressista embasado nos sindicatos? Ora, certamente, esse partido será traidor da classe operária e um bloqueio para o movimento de emancipação do proletariado.
Hoje, mesmo aqueles que não acreditaram nas colocações de Broué assistem ao fim melancólico e trágico do PT. Ele cumpriu o seu papel: bloquear a construção de um partido revolucionário e sobretudo bloquear totalmente o avanço para os conselhos operários. Surgiram as comissões sindicais de fábrica que, na verdade, são uma extensão dos sindicatos no interior da fábrica e anulam o caráter de dualidade de poder que tinham as comissões de fábricas independentes. Em suma, a comissão de fábrica é hoje, muitas vezes, apenas mais um dedo-duro dos patrões.
Mas, se isso aconteceu com o PT, que se poderia esperar do PSOL? O PT pelo menos tinha um embasamento nos sindicatos metalúrgicos, ou seja, um embasamento vinculado à produção direta e chave na indústria nacional, que, em cadeia, envolve centenas ou até milhares de empresas que produzem para a indústria automobilística. Que dizer do Psol? Além de embasar-se em sindicatos, um modelo superado já no século XX, os sindicatos do PSOL, que são poucos, são, em geral, de setores terciários, tais como educação, saúde e outros, que não têm capacidade de paralisar a produção em grande escala. Se o PT foi cada vez mais engrossado por pequeno-burgueses e abandonado pela classe operária, o PSOL, praticamente já nasceu como pequeno-burguês e, assim, totalmente incapaz de enfrentar a grande burguesia e o capital, passando a ser apenas o novo e talvez último bloqueio que resta para a burguesia.
Nesse sentido, parece-nos lamentável aqueles que se dizem “marxistas” e que apoiam ainda mais essa última boia que a burguesia e o capital possuem para bloquear o avanço das massas.
Não por acaso, em São Paulo, Dória, o candidato vencedor perdeu para os votos nulos e abstenções, enquanto a pobre Erundina, do PSOL, teve pouco mais de 3%. Da mesma forma, no Rio de Janeiro, vemos agora Marcelo Freixo do Psol, no segundo turno, tecnicamente empatado com votos nulos e abstenções.
Seria despolitização, desinteresse, ou, ao contrário, a abertura para os conselhos e para um partido revolucionário, algo além das eleições burguesas?