Durante esta semana, em meio ao aprofundamento das denúncias da Operação Lava-jato, foi noticiado que setores do PT estariam dispostos a iniciar um diálogo com o PSDB. A aproximação seria costurada por interlocutores comuns entre os ex-presidentes Lula e FHC e até o senador José Serra teria sido sondado. Logo vieram notas desmentindo o interesse, mas em seguida foi o próprio instituto Lula que emitiu outra nota dizendo que discutir os rumos do país é de interesse comum a todos.
FHC, em viagem, teria dito anteriormente que estaria disposto ao diálogo desde que feito com transparência. A coisa ganhou corpo e interlocutores do próprio palácio do Planalto sinalizaram que uma aproximação entre PT e PSDB neste momento era algo interessante. No sábado, entretanto, FHC usou as redes sociais para dizer que “o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo”, citando uma declaração anterior sua.
Em meio a tantas versões e notas, setores da imprensa veem essa nova manifestação de FHC menos como uma recusa ao diálogo e mais como uma resposta à pressão de outros líderes do PSDB para evitar uma aproximação pública. “Por que só agora?” indagam alguns. Outros, mais duros, rememoram as querelas da eleição de 2014 e afirmam que foram os petistas que “dividiram o país entre nós e eles” e que tal aproximação é um sinal de desespero: “não estão preocupados com o país, mas com eles mesmos”.
O fato é que a crise da dominação burguesa deve se aprofundar ainda mais. De um lado, a conjuntura econômica se deteriora, com o aumento da inflação, do desemprego e o sinal de recessão no horizonte. De outro, com o avanço das investigações da Lava-Jato, o cerco se fecha sobre a classe política e é questão de tempo até a crise eclodir como uma bomba no planalto central.
Tudo isso pesa no PT e na presidente Dilma, desaprovada por mais de 90% do país. Assim, os rumores sobre o impeachment crescem dia após dia. O problema é que repete-se aqui a história recente. Em 2005, o PSDB atuou para evitar o impeachment do então presidente Lula, FHC falava abertamente de uma crise institucional que poderia ser deflagrada. Hoje, embora o PSDB não tenha a mesma coesão, setores importantes do partido repisam nessa análise, como demonstrou o episódio envolvendo Eduardo Cunha — o partido preferiu não aplaudir seus ataques ao governo, nem comemorar a sua ida para a oposição; via um aprofundamento da instabilidade no centro da política nacional.
O PSDB recorre sempre à ideia de que é necessário zelar pelas instituições, uma conquista da democracia brasileira pós ditadura militar. Na verdade, o PSDB, como partido representante de significativo setor da burguesia nacional, teme que a retirada do PT do poder, por meios que não o regime eleitoral, possa abrir um processo de acirramento da luta de classes no país. O temor é real e se assenta nas ligações bastante sólidas que o PT mantém com o movimento social — da CUT ao MST, passando pela UNE e outros movimentos. O que aconteceria com essa base? O PT perderia o controle que hoje exerce tão bem?
Por outro lado, é oportuno recordar que o PT, quando era oposição, teve a mesma preocupação. Em 1998, quando a popularidade de FHC foi arrasada pela crise econômica, o PT recusava o “FORA FHC”, valendo-se de todo tipo de artimanha e retórica política. O então presidente do PT, José Dirceu, hoje condenado pelo Mensalão (e possível réu na Lava-jato), ameaçava renunciar à sua recondução ao posto caso o partido aprovasse o “FORA FHC”, e ele recorria também, para justificar a sua posição, à ideia da quebra da estabilidade política…
Assim, como se vê, por mais que FHC diga hoje que quer mesmo dialogar com o povo, é questão de tempo para PT e PSDB darem as mãos, repetindo o seu histórico de salvação mútua em momentos de crise aguda no país. Esta “unidade” não tem um átomo de conteúdo programático, servindo apenas para manter as regras do jogo, ou seja, o regime de explorados e exploradores, com o país sendo um dos mais desiguais do mundo todo.