Convidamos os revolucionários do PSOL a sair do partido e a iniciar uma discussão programática, tendo em vista a construção de uma nova organização revolucionária no Brasil.
Desde o final de 2018 – quando Guilherme “Boa Noite Lula” Boulos virou candidato à presidência –, não apoiamos mais a ala à esquerda do PSOL em suas disputas internas. Dissemos que aquele fato fora um divisor de águas e estávamos certos. Mantemos tal posição.
Se nas campanhas presidenciais de Plínio de Arruda Sampaio e Luciana Genro havia espaço no PSOL para se falar de socialismo – melhor na primeira campanha, pior na segunda –, ao final de 2018 o oportunismo político se tornou hegemônico. As prévias eleitorais municipais deste ano comprovaram o que defendemos. Em vez de revelar uma tendência de reconquista de terreno por parte da ala à esquerda, comprovou-se o avanço do bloco oportunista-pragmatista, interessado apenas em verbas do Estado. São os futuros bombeiros do fogo da revolta social, prontos a ocupar o espaço de ontem (de décadas atrás) do PT.
Na cidade de São Paulo, venceu a chapa Boulos-Erundina, com 60% dos votos. As outras duas chapas nem deixaram claro se eram oposição à chapa principal, pois nem mesmo se uniram! Dividida, a oposição facilitou ao oportunismo e se mostrou totalmente frágil (ostentando candidatos a vice ainda desconhecidos).
Alguns lamentam que a votação foi presencial e não virtual. Ora, alguém realmente acha que uma “oposição” assim – frágil, dividida, mostrando amadorismo – teria tido melhor resultado se o voto fosse virtual? Proporcionalmente, a derrota seria maior.
Após tal demonstração de fraqueza e falta de espírito coletivo, que ocorrerá? A oposição avançará ou o oportunismo majoritário? A resposta também é óbvia, e vê-se na facilidade com que militantes da corrente MES aceitaram o resultado. No segundo posterior à divulgação, vieram a público com declarações sobre respeito à deliberação e “lealdade partidária” (como se houvesse lealdade num partido onde qualquer um se filia, onde a direção é autônoma e conspira cotidianamente contra parte dos próprios militantes!).
No Rio de Janeiro o arco de alianças foi alargado para partidos burgueses, de direita (no sentido correto do termo “direita”, não no sentido do senso comum e da mídia), como PT, PSB, PV e PCdoB. A justificativa, como sempre, foi a necessidade da “frente única antifascista”, a suposta necessidade de aliança com setores “democráticos” da burguesia contra o espantalho do fascismo (inexistente) de Bolsonaro. Aqui se comprova como a análise errada da conjuntura é só pra encobrir acordos nefastos com a burguesia. Teve papel de destaque na ampliação dessa aliança a corrente MES (embora depois do fato consumado ela tenha feito uma autocrítica). Tal corrente se consolida como o centro partidário, interessada cada vez mais em cargos parlamentares.
Em Campinas, importante cidade industrial do estado de São Paulo, uma questão que ali nunca esteve em questão se concretizou: o PSOL ocupará o espaço de vice-prefeito numa chapa conjunta com o PT (tendo em vista crescer no parlamento da cidade).
Tais são apenas alguns exemplos do que se passa nacionalmente no partido. Em suma: em todo o processo anterior, dos dois últimos anos, a tendência ao oportunismo se consolidou e a ala à esquerda foi esmagada, diminuída e dividida (passando por rachas e desaparecimentos de correntes). Tudo isso é também resultado da falta de firmeza, nessas correntes, no combate ao PT após 2015.
É preciso que os lutadores honestos da esquerda do PSOL tenham clareza de que construir esse partido hoje se tornou atraso à emancipação da classe trabalhadora. Cada dia, hora, minuto e segundo de pertencimento a esse partido é agora tempo desperdiçado, jogado fora, não dedicado à construção da ferramenta necessária à emancipação socialista dos trabalhadores. A história cobrará um preço muito alto dos revolucionários caso essa ferramenta não esteja construída na próxima explosão social.
Os revolucionários têm de decidir se querem novamente repetir a história do PT e matar mais uma geração ou abrir um novo caminho.
Companheiros, saiam do PSOL! Não demos um verniz de esquerda aos oportunistas! Deixemos que o barco se afunde sozinho! Quanto antes os socialistas saírem desse barco furado, menos ele manchará a bandeira do socialismo, usando-a (graças a vocês!) para enganar os trabalhadores. Dado que não há retorno, exponhamos o caráter oportunista do PSOL, por meio da aglutinação de revolucionários fora do PSOL. Hoje, a luta interna ao oportunismo leva mais à legitimação deste do que a luta externa.
Não é necessário estar no PSOL para fazer uso tático da legalidade eleitoral burguesa. Partidos mais à esquerda, como os companheiros do PSTU (que deveriam fazer um chamado como este nosso), têm cedido legenda democrática a lutadores em vários estados. É verdade que há limites da cláusula de barreira, mas não devem ser os decisivos para os revolucionários (pois não impedem a agitação eleitoral, nem são intransponíveis se nos juntarmos).
Chamamos todas as organizações de esquerda revolucionária do PSOL (bem como os companheiros do PSTU), a realizar reuniões amplas, de discussão programática, estratégica, tendo em vista a formação de uma nova organização revolucionária no Brasil. Em uma conjuntura explosiva como a nossa, não é hora de preciosismo ou nostalgia, não é hora de reciclar velhas camisas e nomes (já gastos, viciados ou sob suspeita de muitos trabalhadores e jovens), mas sim de recomeçar coletivamente, de erguer uma bandeira completamente nova, sem manchas, apontando um horizonte socialista para a classe trabalhadora brasileira!