A Conferência eleitoral do PSOL deste sábado (10/03) confirmou a candidatura de Guilherme Boulos à presidência em 2018.
Boulos representa o lulismo pois é produto legítimo do lulismo. Não fossem os governos de PT e seus programas assistencialistas (Minha Casa, Minha Vida), Boulos e seu movimento quase não teriam destaque na política nacional. O problema é que a essência do lulismo — que preenche a alma de Boulos — consiste no uso da miséria para aumentar a acumulação capitalista (e consequentemente a barbárie). Boulos cresceu durante o MCMV do PT, mas não só ele: durante os mesmos anos cresceram vertiginosamente a acumulação capitalista das empreiteiras e o déficit habitacional no país. Dados do camarada Plínio Jr. comprovam que o déficit habitacional aumentou 1,5 milhão no período de Lula e Boulos.
Isso não é mera coincidência. Não é fruto de uma luta ainda “insuficiente” contra o déficit habitacional por parte do movimento de Boulos. Isso é fruto lógico e necessário do que Boulos reivindica e o PT aplica (reforma urbana como mercadoria capitalista financiada pelo Estado-burguês). Trata-se de uma política comandada pelo setor privado, que tem Lula e Boulos como títeres. Como também esclareceu o companheiro Plínio, trata-se de uma política urbana capitalista concebida nos moldes do BNH da Ditadura Militar. Quanto mais essa política é aplicada, mais miséria ela produz. E para Lula e Boulos, quanto mais miséria, melhor, pois mais usarão a crescente desgraça popular para se fortalecer e engordar os capitalistas.
Por que Boulos venceu?
Os lutadores honestos do PSOL precisam se colocar seriamente essa questão. Ela diz tudo sobre o seu futuro agora.
Boulos venceu exatamente por causa das políticas do PSOL em relação ao PT desde 2015 (ou seja, desde que o descontentamento social de junho de 2013 se voltou conscientemente contra o PT).
Quando as massas populares se ergueram em legítima revolta contra Dilma no início de 2015, a direção do PSOL se lançou para salvar o PT, desmoralizando o próprio partido. Alguns parlamentares do PSOL foram enaltecidos pelo PT como mais defensores de Dilma do que os próprios petistas. O PSOL, na contramão do anseio das massas, votou contra o impeachment e depois repetiu até à exaustão o discurso petista idiotizante de um suposto “golpe” no país. Depois, quando Lula foi indiciado, acusado e condenado, o PSOL esteve sempre na linha de frente do burguês corrupto Lula, desmoralizando o partido ante os setores minimamente esclarecidos da classe trabalhadora.
Verdade seja dita: a ala à esquerda do PSOL não compactuou com isso, mas em sua maioria vacilou e também não teve coragem de dizer abertamente “Fora Dilma” e “Lula na prisão”.
A política vendida da direção do PSOL e a paralisia da maior parte da esquerda fizeram com que o partido não estivesse antenado nas massas e não crescesse com a revolta proletária contra o PT. O PSOL não recebeu nenhum afluxo verdadeiramente significativo de trabalhadores revoltados nesse período (e a “direita”, por sua vez, multiplicou-se como cogumelo com um antipetismo fácil e vazio entre as massas). Proporcionalmente, o número de oportunistas que ingressaram no partido nesse período foi muito superior ao de proletários honestos e revoltados. Em sua maioria, entraram setores pequeno-burgueses adaptados ao PT ou com interesses privados (sobretudo no parlamento). O melhor símbolo talvez sejam os grupos MAIS e NOS, desde o primeiro momento aliados da ala direita do partido, visando a conseguir verbas do fundo eleitoral para lançar candidatos.
Se amplos setores de trabalhadores revoltados contra o PT tivessem entrado no PSOL desde 2015, Boulos nem mesmo existiria como possibilidade.
Criar um polo revolucionário!
A vitória de Boulos não é um raio no céu azul, uma coisa inesperada: ela é fruto do processo descrito acima; é o coroamento, o salto de qualidade na degeneração. Ela é a decantação do oportunismo na estrutura partidária. Isso significa que a possibilidade de se reverter a burocracia partidária, que já era questionável, é agora ínfima ou nula.
Ficar dentro do PSOL agora significará perder tempo. Uma conjuntura tão explosiva quanto a nossa, todavia, pede urgentemente uma alternativa revolucionária. Não dá pra esperar até 2020 ou 2022. Todo dia perdido na construção dessa alternativa é não apenas atraso, mas condenação das possibilidades da revolução socialista. Os companheiros estão colocados contra a parede pela própria realidade: devem decidir se continuarão no PSOL — e assim demonstrarão cretinismo parlamentar — ou sairão para formar o quanto antes um pólo revolucionário.
O melhor que os companheiros podem fazer é sair do PSOL para escancarar aos setores mais esclarecidos da classe trabalhadora a verdadeira essência do novo PSOL — um instrumento lulista. Ficar no PSOL significará dar cobertura de “esquerda” a isso, portanto, necessariamente, significará esfumaçar a essência do novo PSOL e aumentar a ilusão dos trabalhadores num instrumento lulista.
O que é um polo revolucionário? É exatamente o trabalho fraterno e cooperado de todos aqueles que colocam a necessidade do socialismo antes das suas necessidades particulares e privadas (eleger um parlamentarzinho aqui ou ali). É o trabalho conjunto daqueles que estão mais preocupados com um único passo sério do movimento operário do que com todos os fundos partidários.
É muito melhor que os companheiros rompam com o PSOL e venham formar um pólo revolucionário com o PSTU e conosco (não falamos do PCB, pois vendeu-se vergonhosamente ao lulismo, sem nem mesmo ganhar o cargo de vice de Boulos!). Além do PSTU e de nós, evidentemente, há diversas outras pequenas organizações espalhadas pelo país, bem como diversos lutadores independentes à espera de uma alternativa verdadeiramente de luta.
O PSTU, sem dúvida, devido a seu tamanho e ao fato de ser legalizado, está destinado a assumir um papel importante nesse polo de revolucionários, essa convergência de socialistas aos poucos criada pela própria conjuntura. Os companheiros sabem disso e, corretamente, colocam parte da estrutura de seu partido (inclusive a legenda) à disposição de lutadores honestos da nossa classe.
Companheiro Plínio de Arruda Sampaio Jr., companheiros da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), companheiros da Luta Socialista, companheiros do Primeiro de Maio, companheiros do Comunismo e Liberdade, companheiros de diversas outras correntes socialistas pelo Brasil, com quem temos orgulho de lutar no dia a dia, rompam com o PSOL, estabeleçam suas organizações e correntes do lado de fora desse partido, não percam tempo, aglutinem-se num polo de revolucionários, abram o quanto antes negociações com o PSTU para verificar a viabilidade de uso de legenda solidária com esses companheiros. Há pouco tempo.
Quem sabe até se o companheiro Plínio Jr. não poderia ocupar o cargo de candidato a vice-presidente na campanha da lutadora Vera Lúcia do PSTU, representando assim os setores saídos do PSOL? Isso arrancaria setores ainda mais amplos do PSOL, setores que sem dúvida alguma não querem fazer campanha para o lulista Boulos, e aceleraria a reorganização dos revolucionários.
Companheiros, construamos conscientemente e fraternamente uma nova força política neste país!
Deixar o lulismo se afundar! Não perder tempo!
Criar o polo dos revolucionários!
Erguer duas vezes mais alta, sem máculas, a bandeira do socialismo!