O governo Bolsonaro perdeu bastante força no último mês, mas, paradoxalmente, encontrou estabilidade que não via há tempos na última semana e meia. Pros padrões do circo instituído, a coisa avançou muito, sobretudo desde que os militares controlaram o presidente e Carlos, o “zero dois”, conseguiu conter a si mesmo.
As manifestações de 15 e 30 de maio demonstraram disposição de luta entre a juventude e os setores da classe trabalhadora mais afetados pelos cortes na educação. Milhões foram às ruas em mais de 200 cidades pelo país. O ato do dia 26, convocado em apoio ao presidente, por outro lado, demonstrou que o governo ainda conta com a fidelidade de um setor relativamente numeroso da população, apesar da sua expressiva perda de apoio.
Os atos do dia 26 e do dia 30 praticamente empataram em força e repercussão, embora os do dia 15 tenham sido os maiores atos de rua ocorridos no Brasil em alguns anos – desde 2013, talvez.
Ou seja: nas ruas, o governo ainda tem respaldo, mas já não é o setor mais forte. E está claro que o futuro do Brasil passará cada vez mais pelas ruas no próximo período. Entraremos num cenário em que as massas pautarão o debate político, ainda que, a princípio, com pouco controle sobre ele.
Depois de uma série de revezes, o governo emplacou algumas vitórias. A aprovação do Decreto da Reforma Administrativa pelo Senado, com a confirmação da retirada do COAF do Superministério de Moro, indicada pela Câmara, evitou que o governo fosse obrigado a recriar os ministérios da gestão Temer. Isso certamente ocasionaria novos meses de caos administrativo e poria em risco a Reforma da Previdência, então na berlinda.
Ao mesmo tempo, o oportunismo petista volta a dar o ar de sua graça, tentando aproveitar-se do movimento contra os cortes para defender a liberdade do caixeiro viajante da Odebrecht, Lula.
O curioso é que essa persistência dos petistas ajuda o governo, pois freia o ritmo de decomposição da sua base de apoiadores. O setor ainda fiel ao governo tem um núcleo mais radical, porém pequeno, que ainda aglutina em torno de si uma camada relativamente grande de trabalhadores, sobretudo pela oposição, ainda que mais frágil, ao petismo – visto como responsável pela roubalheira e caos que tomou conta do país em sua história recente. É também pelo medo do retorno do PT que parte dos trabalhadores ainda preferiu ir ao ato do dia 26 do que ao do dia 30.
O bolsonarismo depende, para sobreviver nesse momento difícil, daquele que é ao mesmo tempo seu grande antagonista e seu pai-criador, o petismo. É por isso que é crucial lutar contra qualquer tentativa de captura ou aparelhamento do movimento contra os cortes pelos petistas. Afastar o “Lula Livre” do movimento em defesa da educação e da previdência é requisito para o movimento não ser isolado.
Lula e Bolsonaro são apenas duas faces da mesma moeda, dois fantasmas que dependem um do outro para existir. Os trabalhadores que foram ao ato do dia 26 e que ainda confiam neste governo têm de saber que os jovens não estão indo às ruas pelo Lula, mas pela educação e pela previdência, pelo nosso futuro.
Temos de dissolver cada vez mais essa oposição entre fantasmas que só serve para eles próprios disputarem o poder. Nem Lula é vermelho de verdade, nem Bolsonaro verde-amarelo. Acreditar nas imagens que eles fazem de si mesmos só serve para nós, trabalhadores, nos dividirmos, quando temos o interesse comum entre nós de defender nosso pedaço de pão.
Em outra vitória recente do governo, o Senado aprovou na segunda-feira, 3 de junho, a chamada Medida Provisória do “pente fino” no INSS. Sob a justificativa de combater fraudes, o governo vai avançar agora no corte arbitrário de aposentadorias por invalidez, além de dificultar a obtenção de aposentadoria pelo trabalhador rural e a obtenção do auxílio reclusão pelas famílias dos contribuintes que forem presos.
A aposentadoria de um juiz custa ao Estado R$ 4,77 milhões a mais do que aquilo com o que ele contribuiu ao longo da vida, segundo dados do próprio Ministério da Economia. Mas é de quem vive com quase nada que o governo quer tirar!
Nesse momento, o governo começa a acelerar suas tesouras sobre o orçamento do INSS, sonhando com a aprovação da Reforma da Previdência, aquela tão exigida pelos banqueiros, latifundiários, industriais, grandes comerciantes… Enfim, aquela desejada pela nata do empresariado nacional e também internacional, para criar melhores condições de exploração sobre os trabalhadores daqui.
Como já dissemos antes, a Reforma é nefasta não apenas porque concentra praticamente 90% da economia de 1,23 trilhões em 10 anos no bolso daqueles que vivem com até dois salários mínimos. Não apenas porque joga na miséria os idosos pobres, que terão de viver com 400 reais, e as pessoas com deficiência, que poderão deixar de se aposentar mesmo que um acidente de trabalho as torne inaptas a continuar trabalhando. Não somente porque aponta a redução drástica da aposentadoria após prolongado período de contribuição. Não somente porque deixa claro que a aposentadoria será anualmente desvalorizada ao bel prazer do governo, já que não estará mais vinculada ao reajuste do salário mínimo.
A Reforma já seria ruim por tudo isso. Jogaria milhões e milhões na miséria. Mas ela carrega em si um potencial destruidor ainda maior, porque ao aumentar a “vida produtiva” do trabalhador, vai aumentar o número de trabalhadores disponíveis para contratação e pressionará os salários para baixo, consideravelmente, ao longo das próximas décadas.
Em médio prazo, a reestruturação das forças produtivas em curso vai reduzir o uso de mão de obra em praticamente todas as cadeias centrais da economia global. A repercussão disso no Brasil já se faz sentir, por exemplo, na indústria automobilística. O fechamento da icônica planta da Ford do Ipiranga expressa, infelizmente, tendência, e não fato isolado. Isso significa que a oferta de emprego no Brasil não tem perspectiva de crescimento no médio prazo nos setores mais produtivos da economia. Qualquer crescimento terá de vir, portanto, por meio de remunerações menores em setores menos produtivos. E, mesmo quando vier nos mais produtivos, a massa de trabalhadores dispostos a receber menos pressionará os salários pra baixo.
Com um Exército de desempregados e desalentados que soma 18,1 milhões de pessoas no país hoje, temos ainda outros 7 milhões que relatam trabalhar menos do que gostariam, por não encontrarem mais ocupação. Esse deve ser o futuro de um setor crescente da classe trabalhadora brasileira no curto prazo.
Quando somamos a isso os milhões de pessoas em idade de se aposentar que não o farão nas próximas décadas se a Reforma for aprovada, fica óbvio o quanto se forçará o aumento da concorrência entre os trabalhadores, jogando nossos salários ladeira abaixo.
Nesse cenário, é preciso mais do que nunca defender o mínimo, o nosso direito a um emprego e a um salário suficiente pra pagar as contas no fim do mês. É preciso defender o direito a uma aposentadoria digna. Por isso, é fundamental irmos às ruas no dia 14 de junho, quando a classe trabalhadora brasileira vai parar o país contra a Reforma da Previdência.
Se a Reforma da Previdência for aprovada, viveremos décadas perdidas, de contínuo rebaixamento das nossas condições de vida, de desemprego e salários de fome.
Quanto mais forte for a demonstração de força dos trabalhadores brasileiros no dia 14/06, maiores serão nossas chances de derrotar este governo, maiores serão nossas perspectivas de futuro.
Todos às ruas no 14/6!
Parar ar fábricas, empresas, universidades e escolas!
Parar o país em defesa de nosso futuro!
NÃO À REFORMA DA PREVIDÊNCIA!