Transição Socialista

O país patina…

O PIB do Brasil recuou 0,2% no primeiro trimestre de 2019, quando comparado ao trimestre imediatamente anterior (outubro a novembro de 2018). Foi a primeira variação negativa desde o quarto trimestre de 2016, quando o país deixava para trás a pior recessão da sua história.

Economistas dos grandes bancos brasileiros vêm sistematicamente revisando as projeções do PIB de 2019 para baixo. Conforme o Relatório de Mercado Focus, divulgado na última segunda-feira (17/06) pelo Banco Central, a expectativa de alta para o PIB em 2019 é de pífios 0,93%. Há cinco semanas, a estimativa era de 1,45%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) parece ainda mais realista: em sua publicação Carta de Conjuntura, número 43, afirma que “caso permaneça estagnado nos próximos três trimestres, o PIB fechará o ano com alta de 0,2%”.

De acordo com os dados das Contas Nacionais Trimestrais, publicados pelo IBGE no último dia 30/05, a atividade industrial recuou 0,7% e a agropecuária outros 0,5% quando comparamos o primeiro trimestre de 2019 com o quarto trimestre de 2018. Dentre as atividades industriais, a queda foi puxada pelas Indústrias Extrativas (-6,3%), mas também houve recuo na Construção (-2,0%) e nas Indústrias de Transformação (-0,5%).

Quando analisamos a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), também publicada pelo IBGE, percebemos que a indústria brasileira está longe de uma recuperação. Tomando-se como referência o ano de 2012 (ou seja, 2012 = 100), o índice de produção física da Indústria Geral foi, em abril de 2019, de apenas 87. Quando olhamos o segmento de Bens de Capital, a situação é ainda pior: 77,6 para abril de 2019.

O índice IPEA de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que indica o investimento em máquinas, equipamentos e construção, também não deixa dúvidas de que estamos muito longe de uma recuperação econômica. Tomando-se como referência o ano de 1995 (ou seja, 1995 = 100), o índice de FBCF atingiu em pico em 2013 (214,12), desceu ladeira abaixo até atingir 127,11 em abril de 2017 e, há dois meses (abril de 2019, último dado disponível), ainda estava em 140,91, valor muito próximo de março de 2008.

Mas, a pergunta é: o que tantos números revelam? Por ora, podemos afirmar que a economia brasileira patina. É muito difícil prever os movimentos futuros, mas a ameaça de uma nova crise mundial pode deteriorar as já frágeis condições de um país que sequer se recuperou da sua última recessão.

A classe trabalhadora brasileira sente tudo isso na pele. O mercado de trabalho segue muito deteriorado, com altos contingentes de desempregados, desalentados e subocupados. A parcela de desempregados que está nessa condição há pelos menos dois anos, saltou de 17,4% no primeiro trimestre de 2015 para 24,8% no primeiro trimestre deste ano. Segundo o presidente do Movimento Estadual de População em Situação de Rua, em depoimento ao jornal Folha de SP, há atualmente na cidade de São Paulo cerca de 32.600 moradores de rua, mais do que o dobro do calculado em 2015 pela prefeitura.

Tamanho contigente de desempregados acaba exercendo uma pressão violenta sobre aqueles que ainda continuam empregados, forçando-os a acatar salários mais baixos, não reajuste salarial e, mais grave, a optar pelo silêncio momentâneo à adesão a uma greve, dado o risco de demissão.

Compreendemos esse justo sentimento, resultante de uma violenta pressão objetiva. Mas, se é nosso dever compreender tal movimento objetivo, também o é dizer que o problema apenas pode ser resolvido subjetivamente, ou seja, através da tenaz organização política daqueles que produzem e manejam a Formação Bruta de Capital Fixo, a Produção Física e o Produto Interno Bruto.

Tal organização política, mais precisamente um partido político revolucionário, ainda não está pronto. Ele nos falta e precisa ser construído. E defendemos que na linha de frente das suas bandeiras estejam justamente a defesa intransigente dos empregos, do poder de compra dos salários e a luta contra o desemprego.  

Como?

Contra as demissões, a reivindicação da escala móvel das horas de trabalho, ou seja, o reajuste mensal da jornada de trabalho conforme a necessidade de produção (assegurado, é claro, um limite máximo para a jornada).

Contra a inflação, a reivindicação da escala móvel de salários, ou seja, o reajuste mensal dos salários conforme a inflação básica (assegurado, é claro, um piso salarial).

Contra o desemprego, a reivindicação das frentes de trabalho, ou seja, a construção de hospitais, escolas, creches e outras obras necessárias para absorver os trabalhadores que foram excluídos do mercado de trabalho.

Se o processo produtivo tem seus altos e baixos, se as necessidades da sociedade se modificam, nada mais justo que o principal componente desse movimento — a força de trabalho — seja preservado.