Panfleto do MNN para o ato “Fora Temer” deste domingo, 21/05, na Av. Paulista, em São Paulo. Baixe o PDF do panfleto aqui: 20170521_panfleto
O Estado brasileiro está numa das suas maiores crises na história. Todo o sistema político está falido. O presidente tampão cairá de sua pinguela. Outro mais fraco entrará. A ordem, o status quo, estão paralisados… E, diante disso, faremos o quê? Defenderemos apenas “diretas já”? Ficaremos na miséria do “possível”?
Por que queremos repetir o passado? Quando a crise da Ditadura Militar estava em seu ápice — 1980 —, os esforços da esquerda foram canalizados para a campanha da “diretas já”. O PT construiu-se nessa campanha, centralizando as forças da esquerda para o projeto “democrático”, parlamentar, que se mostrou afinal apenas como projeto de eleição de Lula. E aí? De lá para cá, os problemas foram resolvidos? Todo um ciclo político se passou — o ciclo “democrático” — e os mesmos problemas capitalistas retornaram, agravados. Por que então devemos repetir os erros do passado? Não aprendemos nada? Não é hora de sermos mais ousados e radicais?
Na verdade, PT e Lula estão com receio de defender a queda de Temer neste momento (como revelou a coluna painel do jornal Folha de SP). Lula e Dilma praticamente não se pronunciaram exigindo a renúncia de Temer, desde o dia em que vazou a gravação da JBS com o presidente. Lula sabe que a renúncia de Temer será uma vitória da Lava-Jato, de Edson Fachin (STF) e de Rodrigo Janot (MPF) — os mesmos que tentam prender Lula. Por isso Lula torce para que Temer comprove que o áudio é uma “montagem criminosa” e desmoralize esses poderes. Eis por que o PT não está colocando grande força em manifestações pela renúncia de Temer. Eis por que o sociólogo André Singer (que foi porta voz da Presidência da República nos governos de Lula) escreveu artigo na Folha de São Paulo contra a renúncia de Temer.
No fundo, o PT quer apenas usar a conjuntura, falando de “diretas”, para construir a noção de que a salvação virá pela via eleitoral… Mas em 2018. Assim Lula teria mais tempo para se salvar da Lava-Jato. No fundo, a posição de Lula hoje é a mesma da “direita” (MBL e Vem Pra Rua), que quer que Temer fique. O “Fora Temer” do PT, na hora H, na hora de derrubar Temer de verdade, mostrou-se uma farsa.
De qualquer forma, o caminho para os revolucionários não é aumentando ilusões no poder burguês. Se o Estado burguês brasileiro está em frangalhos, com crise fiscal e falência do sistema político, isso é problema da burguesia, e não da classe trabalhadora. Se os partidos burgueses estão se matando, isso é problema da burguesia. A classe trabalhadora deve até incentivar essas brigas, colocar “lenha na fogueira”, agir de forma consciente para aprofundar os conflitos burgueses. A paralisia do conjunto da classe burguesa favorece a classe trabalhadora.
Portanto, os revolucionários não devem defender “diretas já”, nem “constituinte” ou outras propostas que criam ilusões no Estado burguês, que fortalecem ou reconstroem esse Estado. Os revolucionários devem agir para construir o poder operário, contraposto ao poder burguês. Esse poder não existe hoje objetivamente, o que faz com que muitos lutadores caiam, por pragmatismo, na lógica da miséria do possível, achando a “eleição direta” mais “factível”. Ora, o fato de não haver ainda, objetivamente, embriões de outro poder (um poder operário, como o de Comitês de Fábrica), não nos deve levar à defesa de saídas oportunistas, eleitoreiras, que reorganizem o Estado burguês. Como falamos, isso é problema da burguesia. Os revolucionários têm de atuar para que o regime burguês fique menos legítimo, e não o contrário.
Os revolucionários precisam entender que ainda têm de realizar a tarefa zero — vincular-se à classe operária nas fábricas, ajudando na criação dos organismos mínimos de duplo poder, os Comitês de Fábrica. Só assim, lastreado na produção material, nascerá o poder operário, contraposto ao poder oficial, da burguesia. Os revolucionários perdem muito tempo (em universidades, em pautas democrático-burguesas, feministas, lgbts etc.) e abandonam a classe trabalhadora à própria sorte. Quando a crise de classes estoura, os revolucionários não têm o que fazer, não conseguem ajudar a classe a abrir o poder operário, que é o que mais interessa e mais faz falta. Ora, não há tempo a perder. É preciso, neste momento, não capitular às falsas saídas, eleitoreiras e oportunistas, não gastar tempo com “diretas”, “constituinte” e outras panacéias. É preciso, acima de tudo, ir às fábricas com o triplo de forças, relacionar-se com a classe operária e preparar-se para o grande estouro que necessariamente virá amanhã!
O tempo é escasso, mãos à obra!