Com este texto, iniciamos uma série de curtos comentários ao programa apresentado pelo PSTU para discussão no Polo Socialista. Veja o texto do PSTU aqui.
O primeiro elemento que vale comentar no texto do PSTU é a atitude vacilante frente ao PT. A nosso ver, o texto expressa uma posição que dá base ao apoio a Lula num possível segundo turno da eleição de 2022.
O PSTU diz em seu texto: “Sabemos que Lula e Bolsonaro não são a mesma coisa. Bolsonaro defende a implantação de uma ditadura no país e não se pode subestimar a importância de derrotá-lo. Mas isso não nos desobriga de constatar que nenhuma das alternativas burguesas atende aos interesses da classe trabalhadora” [página 5].
Como se vê, frente a Bolsonaro há um imperativo da ação: derrotá-lo. Frente a Lula, há o imperativo do discurso: constatar (que é um falso representante etc.). Tal tática parte da compreensão de que Bolsonaro seria mais deletério do que Lula para a classe trabalhadora. Assim, o PSTU prepara o apoio prático a Lula – apesar do discurso crítico – para derrotar Bolsonaro nas urnas.
Ainda que este não seja o espaço para apresentar nossa divergência, pontuamos que a nosso ver somente a posição de voto nulo seria a correta num possível segundo turno entre Bolsonaro e Lula. Não é possível dizer hoje qual desses dois representantes burgueses é mais deletério para a classe trabalhadora. O que é possível dizer é que em nome da discussão sobre o “menos pior” a independência de classe usualmente é jogada fora.
Sigamos na análise do texto de programa do PSTU. Este parece aderir ao discurso do risco iminente de golpe ou de fascismo. Por exemplo, afirma: “[…] é fundamental desenvolver a auto defesa das massas, para enfrentar a ultradireita e qualquer tentativa golpista do genocida” [página 4]. À frente, repete: “Agora se organizou a nível nacional a ultradireita, à sombra do governo Bolsonaro. Existem grupos semifascistas e fascistas, milícias armadas, que podem ser bases militares para uma tentativa de golpe de Bolsonaro” [página 7].
Em textos e debates públicos anteriores, entretanto, o PSTU se posicionara contra a tese do fascismo ou do risco real de golpe. Por que agora fazer coro com a narrativa que amedronta a militância (como o faz o PT)? Para que agitar o espantalho do “semifascismo” ou “fascismo”?
A posição auto-contraditória ou dúbia facilita a mudança de linha política a qualquer momento. O PSTU pode assim fazer um discurso radical contra o PT quando convém, mas prepara na prática o apoio “crítico” ao mesmo partido nas eleições.
O Polo Socialista ganha vida hoje por atrair o setor do PSOL revoltado com o sequestro lulista desse mesmo partido. Justamente por isso, não há por que manter uma posição vacilante frente ao PT. É necessário conduzir os companheiros da ala à esquerda do PSOL a uma posição que de fato os esclarece sobre a conjuntura, em vez de confundi-los com algo dúbio. É necessário elucidar, em detalhes, quão claramente a ascensão de Bolsonaro é tributária da política petista, bem como – em detalhes – quão necessário foi o PT para impedir a queda de Bolsonaro. O PT impediu a queda do presidente não apenas nas manifestações de rua de 2021, mas em todos os acordos políticos relevantes nas cúpulas do poder desde o início de 2019 (analisamos exaustivamente tais acordos em diversos textos). É preciso parar com o discurso de que há risco real de “golpe” ou de “fascismo”, de que o PT é “menos pior”, de que Lula é um “conciliador de classes” ou “reformista”. Lula é um agente burguês tão deletério ou mais do que Bolsonaro. Não educar a vanguarda da classe trabalhadora nisso é o maior mal que pode ser feito na conjuntura atual.