Agora não resta mais dúvidas de que Guilherme Boulos será o candidato presidencial do PSOL neste ano. Toda a bancada parlamentar do partido no Câmara, bem como a maioria dos vereadores, a maioria das correntes internas e a maioria da direção do PSOL, incluindo seu presidente, assinaram o manifesto “Vamos com Boulos”. Já são mais de 6 mil assinaturas. Boulos deve se filiar nos próximos dias. A Conferência Nacional do PSOL no dia 10 de março apenas o referendará.
A vitória de Boulos não significa apenas transformar o PSOL num “puxadinho” do PT. Isso é pouco. Boulos representa o esforço consciente e decidido do PSOL para ocupar o vazio deixado pelo PT. E não apenas no parlamento, mas principalmente na contenção social da classe trabalhadora. A burguesia sabe que manca de sua perna dita de “esquerda” e precisa de um novo instrumento para ajudar a conter a classe trabalhadora caso as coisas estourem amanhã. E estão prestes a estourar. Lembremos dos serviços sujos feitos pelo Syriza grego e o Podemos espanhol na manutenção da ordem burguesa, depois que faliram os tradicionais partidos ditos de “esquerda” (velhos partidos social-democratas e socialistas).
Para se compreender que o projeto do PSOL+Boulos não é de transformação social, basta ler a plataforma eleitoral de Boulos, a “Vamos!” (acessível aqui). É a velha ideia de o Estado tirar dos ricos para dar aos pobres, mas sem nunca acabar com os ricos e os pobres; inserir os pobres no mercado via consumo, sem jamais acabar com o mercado capitalista. É a ideia de que o Estado seria neutro e os “radicais” poderiam tomá-lo por dentro se tivessem a pressão “dos de baixo”. Há mais de 150 anos, Marx e Engels demoliram essa perfídia que envenena parte do movimento socialista e o faz adaptar-se à burguesia. Já comentamos isso em detalhes aqui. Vale ver também os comentários do marxista e professor da UNICAMP, Plínio de Arruda Sampaio Jr., aqui. Plínio é um dos representantes da ala esquerda do PSOL.
Não à toa, o processo de definição de Boulos no PSOL é coroado pelo “Manifesto Unidade para reconstruir o Brasil”, que esse partido assina junto a partidos burgueses como PT, PDT e PCdoB. Não à toa, esses mesmos partidos realizam agora debate público juntamente com Boulos. Não à toa, criou-se um tal “movimento” NÓS — divulgado também por Boulos — para lançar candidatos comuns de tais partidos (inclusive do PSB!). A ascenção de Boulos significa exatamente a efetivação de um arco amplo de alianças do PSOL com partidos burgueses.
O PSOL nasceu como um partido de centro, não de esquerda (na concepção verdadeira desses termos, não na usada pela burguesia e pela mídia, que impregna o senso-comum). Já esclarecemos isso. Ser centrista significa que dentro do PSOL há grupos com um programa pequeno-burguês parlamentar e base pequeno-burguesa (que puxam o partido para a direita, para o lado da burguesia), e, ao mesmo tempo, grupos que almejam honestamente o socialismo e tentam se aproximar da vanguarda da classe trabalhadora (que puxam o partido para a esquerda).
Até o último período, não estava absolutamente claro se o PSOL caminharia definitivamente para a direita, ou se a ala à esquerda teria algum respiro e crescimento. Agora está claro: a vitória de Boulos significa a vitória decisiva dos setores de direita sobre os de esquerda — decisiva porque se dá num momento decisivo da história brasileira. É a direitização do PSOL.
A confirmação de Boulos será a condenação histórica do PSOL enquanto instrumento que possivelmente auxilie na emancipação da classe trabalhadora brasileira. Se, na atual conjuntura, o PSOL assumisse outras posições, se sua ala à esquerda crescesse proporcionalmente (em vez de diminuir), se houvesse um grande afluxo de jovens radicalizados, de trabalhadores de base e lutadores honestos que aspirassem pela causa do socialismo, esse partido se tornaria um instrumento importante para a auxiliar na luta pela emancipação da classe trabalhadora. A disputa interna a esse partido seria uma questão séria para os socialistas. Não é o caso. Dá-se o contrário.
Confirmada a candidatura de Boulos, com o arco de novas alianças burguesas que ela coroa, manter-se no PSOL significará legitimar todos os dias a construção de um novo bloqueio para a classe trabalhadora, a serviço da burguesia. Não é isso de que necessitamos. Pelo contrário, mais do que nunca necessitamos de um verdadeiro partido revolucionário, que combata pelo socialismo, pela superação do capitalismo. Com a confirmação da candidatura de Boulos pelo PSOL, ficar no PSOL significará perder tempo e atrasar o socialismo. Não temos tempo a perder.