Transição Socialista

Quer acabar com Bolsonaro? Acabe com Lula!

Ninguém sabe por onde atacar Bolsonaro. A candidatura dele é sustentada e alimentada pelo “risco Lula”. Mas Lula não irá ao segundo turno, e sim – se os planos petistas derem certo – Haddad. Haddad, entretanto, é o único candidato que tem dificuldades para vencer Bolsonaro no segundo turno.

Ninguém sabe por onde atacar Bolsonaro

Para criar uma alternativa a Bolsonaro não basta falar que ele é anti-democrático. Afinal, parcelas significativas da população estão contra este regime democrático-burguês falido e corrupto, e querem uma alternativa radical. Para atacar Bolsonaro, não adianta falar de minorias e direitos humanos. Afinal, a população ouviu esse discurso por anos da boca do PT e percebeu que significa o contrário do que quer dizer (significa mais exploração, miséria e opressão). Para quebrar o ex-capitão, não basta falar que ele não entende de economia. Afinal, os que “entendem”, como Meirelles, são os responsáveis diretos, junto a Lula, Dilma e Temer, pela situação catastrófica da economia nacional.

A polarização é entre lulismo e antilulismo

Por mais que muitos queiram, ao que tudo indica a polarização eleitoral não será entre PT e PSDB. Há água a rolar, mas é provável que Bolsonaro tenha se consolidado (como apontaram as últimas pesquisas Ibope e Datafolha) e irá ao segundo turno. O índice de votos espontâneos (não estimulados) também aponta isso (apenas Lula e Bolsonaro aparecem). A não ser que surja algum escândalo envolvendo seu nome.

Do outro lado, espera-se que Alckmin cresça quando for iniciada a campanha na televisão, todavia Alckmin tem se mostrado pequeno nas últimas quatro pesquisas (XP-IPESPE / CNT-MDA / Ibope / Datafolha). Além disso, os que dizem que Alckmin crescerá com a televisão esquecem-se de que essa mídia também favorecerá Lula — o segundo com mais tempo de TV depois de Alckmin. Lula tende a manter sua candidatura até quase meados de setembro.

Assim, o início da campanha na televisão provavelmente servirá ainda mais para alavancar Lula — e assim garantir, na sequência, a transferência de votos deste a Haddad. Note-se que nas últimas duas pesquisas do Ibope Lula saltou de 33% para 37%. Agora, na do Datafolha, aparece com 39%.

Quem brinca com fogo?

Ora, quem brinca com fogo é o próprio PT. Os petistas vivem dizendo que preferem Bolsonaro no segundo-turno, pois o absurdo de sua candidatura faria todos votarem criticamente em Haddad. Mas será que a tática funcionaria? E se o tiro sair pela culatra? Bolsonaro também fala que o que mais quer é um lulista no segundo-turno!

Ir ao segundo turno com um candidato fraco e desconhecido como Haddad pode ser perfeito para o populismo de Bolsonaro. Isso significa fazer a polarização lulismo x antilulismo com um lulista fraco. Haddad pode até perder votos lulistas para Bolsonaro (que também sabe ser populista e chegar em setores empobrecidos que antes votavam em Lula). É o voto que desde o final de 2017, nas pesquisas, aparece como “Bolsolula”. Cerca de 6% dos votos de Lula devem ir a Bolsonaro, segundo o Ibope. E, segundo o Datafolha, Haddad, ao menos por enquanto, é o único dos grandes candidatos que não vence Bolsonaro no segundo-turno.

A tática correta

Em vez de assumir o risco que favorece Bolsonaro, a tática correta é acabar o quanto antes, nestas eleições, com a polarização lulismo X antilulismo. Isso significa focar todas as energias em tirar Lula o quanto antes da eleição — e inviabilizar, assim, o quanto antes, que este erga seu frágil poste chamado Haddad. Quanto antes Lula sair do páreo, antes se enfraquecerá a polarização e mais facilmente se esvaziará Bolsonaro; se iniciará a queda deste, metralhado pelos demais postulantes.

E ao menos não haverá risco imediato de caminharmos para um populismo autoritário (seja de Bolsonaro, seja dos asseclas lulistas). Um segundo turno entre Bolsonaro e qualquer um dos demais grandes postulantes criará mais facilmente uma comoção social contra Bolsonaro.

Três condições para uma alternativa de esquerda ao lulismo

Bolsonaro cresceu desde a crise do PT após junho de 2013 (e início de 2015). Dado que a esquerda não teve coragem de fazer oposição de verdade ao PT (falando besteiras como as de um “golpe” imaginário), Bolsonaro assumiu o espaço antilulista no âmbito dos partidos políticos. Bolsonaro é uma negação indeterminada do lulismo e deste regime falido, porque é a negação que não aponta para o futuro algum (e sim para o passado, para o regime que antecedeu este, o regime dos militares). Para se contrapor a Bolsonaro, uma candidatura radical de esquerda precisa ser norteada por três pontos:

1. Ser radicalmente antilulista (não cair no discurso ridículo do “golpe”);

2. Ser radicalmente contra o falido e corrompido regime democrático-burguês, apresentando a necessidade de um novo regime, de “ditadura da maioria” contra a minoria corrupta da velha política que usurpou o poder em nosso país;

3. Apresentar um programa político de estabilidade absoluta nos empregos e salários (demissão zero e inflação zero), que contenha também a criação de obras públicas para a absorção dos desempregados. Ou seja: Escalas Móveis e Frentes Públicas de trabalho.

Dá tempo?

Ainda dá tempo de construir uma alternativa de esquerda nestas eleições? Não sabemos. A esquerda — PSTU e PSOL — errou ao não saber fazer uma aliança antilulista nestas eleições. E o PSOL errou mais feio ainda ao eleger uma cópia mal feita de Lula como candidato. A fragilidade da esquerda em todas as pesquisas comprova isso.

A esquerda, aliás, perdeu tempo demais desde o início da crise política (2013/2015), sem saber se diferenciar do PT. Ela própria criou o Bolsonaro, para com ele se espantar e voltar medrosa para baixo das asas do PT. Talvez não haja tempo para tirar o atraso nestas eleições, mas não há outra opção. Afastar Lula das eleições o quanto antes e atender às três condições acima são o caminho para a construção de uma alternativa real ao país.

Nem Lula, nem Bolsonaro:
Vera Lúcia por um partido revolucionário!