O PSOL acabou de aprovar, na reunião de sua Executiva Nacional (30/03/22), a federação partidária com a Rede Sustentabilidade. Para ser definitiva, tal deliberação tem de ser chancelada pelo seu Diretório Nacional. Ao que tudo indica, isso ocorrerá com relativa facilidade na próxima reunião desse órgão, em 18/04.
A federação visa a superar a nova cláusula de barreira, aprovada em 2017. Ela produz, na prática, uma quase-fusão entre as duas legendas. A composição com o partido burguês Rede Sustentabilidade comprova, para além de qualquer dúvida, que o verdadeiro interesse da maioria da direção do PSOL é a manutenção das verbas provenientes do Estado burguês. Qualquer traço restante de “coerência classista” é jogado fora quando o dinheiro está realmente ameaçado.
Todavia, esse é o menor dos problemas do PSOL hoje. A Rede Sustentabilidade é um partido pequeno; a federação pouco ou nada deve mudar na política real da direção do PSOL e seus parlamentares. A Rede precisa mais do PSOL do que o contrário. Na realidade, muito mais grave é o apoio que o PSOL dará a Lula (e a Alckmin).
Mais grave, embora também não novo. A única coisa verdadeiramente nova hoje é o esvaziamento total da política do PSOL. É impressionante; é como se o partido tivesse perdido qualquer vocação. Sua alma saiu do corpo. Ele não tem candidato a cargos-chave, apenas espera ordens do PT. Mesmo Boulos, o nome mais conhecido do partido, rebaixou-se à posição de candidato a deputado federal. De possível presidenciável há dois anos, a possível governador há um ano, a possível deputado federal hoje. Que Lula fará dele amanhã?
O PSOL entregou todos os pontos ao PT, sem ganhar nada em troca. O nome disso é falência política.
Nós constatamos essa falência há exatos quatro anos. Quem tiver dúvida, leia este antigo editorial. Em 2018 já havia elementos suficientes para afirmar que o PSOL tinha falido, ou seja, entrado num ponto de não-regeneração. Não haveria mais disputa real e possibilidade de mudança de caminho. Eis por que afirmamos que cada mês, dia, hora e minuto nesse partido, por parte de seus militantes honestos, seria um bloqueio à construção de uma alternativa revolucionária. As correntes de esquerda se enfraqueceram ou se liquidaram de lá para cá.
A questão, quatro anos depois, retorna: até quando os lutadores honestos vão esperar? O que vocês precisam para sair? Qual o tamanho do sapo que estão dispostos a engolir? Até que ponto vão se acomodar?
Na proposta de federação entre PSOL e Rede consta uma “cláusula de infidelidade”. Ela se aplicará aos militantes que não votarem nos candidatos oficialmente indicados pela federação. Não serão punidos pelo ato de “rebeldia”. A cláusula parece ter sido inserida por insistência da Rede, pois Marina Silva e Heloísa Helena, contrariando a maioria de seu partido, já anunciaram que não votarão em Lula no primeiro turno, e sim em Ciro. Mas cabe questionar: a cláusula não virá bem a calhar a alguns do PSOL? Quantos não a usarão para seguir nesse partido, mesmo sem votar em Lula no primeiro turno, em nome de seguir nas “disputas”?
Quando você acha que não é mais possível acomodação, os mestres da conciliação, em nome de cargos, encontram a acomodação da acomodação!
Há muita vida – senão toda ela hoje – além do PSOL. No início de 2018, no referido texto, defendemos que a ala à esquerda saísse do PSOL e criasse um polo socialista com o PSTU. Em 2020, em outro texto, determinamos a proposta do polo, argumentando que deveria conter discussão estratégica para a construção de um novo partido, pois a falência da esquerda brasileira hoje é antes de tudo programática.
O Polo Socialista e Revolucionário, ora proposto pelo PSTU, aglutina parte da ala à esquerda do PSOL exatamente no sentido que propusemos em 2018. É uma frente eleitoral da esquerda relativamente afastada do lulismo. E o Polo também contém parte do que propusemos em 2020, quanto à necessidade de discussão programática. Todavia, não fica claro nele como e se a discussão programática definirá o que será apresentado nas candidaturas (ou seja, se terá verdadeira consequência prática). Por tudo isso, o Polo é neste momento um progresso, embora frágil, que pode se perder após a eleição.
O melhor que a ala à esquerda do PSOL pode fazer hoje é se aglutinar com mais lutadores nesse espaço e lutar para que esse avanço não se perca; para que se materialize num novo programa a ser apresentado ao proletariado brasileiro. Eis o urgente da atual conjuntura.
Lutadores honestos do PSOL, saiam desse partido e aglutinem-se no Polo Socialista e Revolucionário! Avancemos no debate estratégico à altura da necessidade histórica!