O governo anunciou que 2017 terminou com a inflação mais baixa dos últimos 20 anos (2,95%). Mas vamos no mercado e pagamos as contas e notamos a mágica de sempre: o dinheiro desaparece ao final do mês. E cada vez desaparece antes!
O baixo índice é justificado pelas autoridades pela safra recorde registrada em 2017, aproximadamente 30% maior que a de 2016. A produção de batata cresceu 11%; arroz, 17%; soja, 19%; feijão, 26%; e milho, 55%. Segundo o IBGE, o preço dos alimentos encolheu 1,87% e, por representar 1/4 das despesas familiares, exerceu o principal impacto negativo no índice oficial da inflação.
Mas isso é apenas 1/4 das despesas familiares! Os outros 3/4 contêm elementos básicos que subiram bastante no último ano, como os custos com transporte, 4,10%; habitação, 6,26%; saúde, 6,52% e educação, 7,11%. Na verdade, esses índices, fundamentais para o peão, ficam escondidos atrás de preços de mercadorias de luxo que ele não consome e que não oscilam tanto.
A mágica do governo ocorre porque ele se baseia no IPCA (Índice de Preços do Consumidor Amplo), que faz uma média de mercadorias consumidas por famílias que recebem entre 1 e 40 salários mínimos! Ou seja, esse índice coloca lado a lado o aluguel do peão e a compra do carro de luxo do patrão! Por isso a inflação oficial é totalmente diferente da inflação real que atinge o peão!
Para comprar temos que ter emprego, mas as novas vagas têm salários mais baixos! A crise econômica significa desemprego e miséria para nós. A Reforma Trabalhista é apenas uma forma da crise do capital. A tendência é o achatamento dos salários dos trabalhadores como um todo.
Não basta olhar quanto a gasolina subiu em relação ao ano passado. É preciso olhar o quanto o salário médio do trabalhador subiu ou diminuiu em relação ao ano passado. É o salário que compra tudo (o que consegue) e devemos defendê-lo!
Mesmo com a inflação oficial baixa o governo conseguiu anunciar um reajuste do salário mínimo abaixo da inflação! Com o aumento de 1,81% em relação a 2017, acumula-se dois anos de perdas reais nos salários e aposentadorias baseados no piso nacional. A inflação oficial baixa tende a enfraquecer as campanhas salariais, completando o arrocho. Segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), no primeiro semestre de 2016, mais da metade dos reajustes salariais foram abaixo da inflação, e, em janeiro de 2017, menos da metade tiveram ganhos reais. A previsão dos economistas é de mais perdas pela frente e, como vimos, o salário nem de longe é salvo pela baixa inflação dos produtos alimentícios.