Depois de 24 dias, acabou a greve nas fábricas do grupo Bardella.
É hora de refletir: vencemos ou perdemos? A greve nos ajudou ou nos enfraqueceu? Um balanço sério e honesto da luta é importante para conseguir fazer outra amanhã. A verdade é que saímos da greve com o rabo entre as pernas, tão mal quanto entramos, senão pior. O que “ganhamos”? Uma migalha,
um cala-boca que somente aceitamos porque a situação estava desesperadora. Estávamos numa situação-limite, em que qualquer R$ 1000 ou R$ 1500 já eram vantagem. Acabamos a greve com esse pequeno valor, mas a maior parte do trabalho dos últimos meses não foi paga, sendo só promessa a ser
parcelada até 2018. Para piorar, ficamos sem o 13o salário. O sr. José Roberto Mendes, presidente da Bardella, prometeu que nos pagarão certinho a partir de outubro, mas é verdade? Quem garante? E mesmo que paguem, isso não apaga o que perdemos nem salda as dívidas contraímos nesses meses para sobreviver.
Como fomos parar nessa situação?
Juntando os operários das três plantas da Bardella, somos uns 600. Isso é uma potência de luta.
Como é possível que 600 trabalhadores, que conhecem cada detalhe da fábrica, tenham perdido pra um grupinho de empresários que nunca dá as caras por aqui? A única explicação possível é que fomos quebrados por dentro. A força de 600 companheiros foi enrolada, desmobilizada, desmotivada, até nos sentirmos fracos e sozinhos, na dependência da vontade do patrão. Já em agosto os companheiros percebiam que a coisa estava feia e ia ser preciso lutar. Desde lá, companheiros buscavam e divulgavam informações sobre as condições alarmante nas outras plantas, registravam denúncia no Ministério Público, recusavam fazer horas extras. Todos se preparavam para a luta, mas tinha uma pergunta que não queria calar: “cadê o sindicato?”, “o
sindicato sumiu?”, perguntavam as cornetadas. O diretor do sindicato dizia que não poderia haver greve sem o sindicato, e ao mesmo tempo não organizava nada. Isso atrasou o movimento. Perdemos o momento certo, perdemos o pé. A espera permitiu que a situação alarmante se estendesse a mais um atraso salarial, nos levando à situação-limite, humilhante e desesperadora, em que já nem conseguíamos lutar direito. Paramos a produção quando não havia mais qualquer opção, quando já estávamos em grande desvantagem, sem recursos para ir às assembleias. A verdade é que, mesmo após a
entrada do sindicato, foi a articulação dos próprios peões que garantiu a maior resistência. Enquanto o sindicato dizia que “quem quisesse podia entrar”, alguns companheiros faziam o trabalho de convencimento e impediam os fura-greves.
Qualquer pedido dos chefes para “terminar só esse serviço aqui” começou a ser recusado pelos que lutavam no chão da fábrica.
O terrorismo e a chantagem do José Roberto
Será mesmo que falta dinheiro? Em abril, numa reunião em que estava o próprio José Roberto, foi aprovado um orçamento de R$ 2 milhões para remuneração anual de apenas três membros do Conselho de Administração, e mais R$ 3,5 milhões para os três da Diretoria Executiva. E mais: tem a entrega para a Marinha Brasileira, que registrou em junho deste ano despesa de R$ 36 milhões com a Bardella para “fabricação, montagem e fornecimento do vaso e estruturas internas da contenção do tanque de blindagem primaria”. E tem a fabricação de trens da CPTM, a ser feita em parceria com a empresa chinesa CRRC, com orçamento total de R$ 316 milhões. Ora, se a empresa não tem mais saída, por que não entra logo com um pedido judicial de falência? Assim paga os funcionários direitinho, vendendo os ativos (máquinas, terreno do estacionamento…). Aí, ao menos
saímos desta instabilidade que sempre retorna, em que ficamos amarrados à empresa, e vamos em busca de outra coisa mais digna. Só queremos trabalhar em paz, que a Bardella honre o acordo de trabalho que assinou! Na verdade, ela não tem coragem de pedir falência e essa história só serve para o patrão fazer terrorismo, blefe para demitir e forçar companheiros a sair, pagando o mínimo e parcelando no maior número de vezes. Ela está só
fazendo reestruturação produtiva, contratando gente com salário mais baixo. Não esquecer tudo isso na próxima luta!