Memória Operária:
Quem vê a Bardella assim – tendo que alugar galpão, pressionada pela Marinha a entregar peças, dando calote nos funcionários, demitindo a rodo e praticamente acabando com seu pátio produtivo – pode achar que se trata de uma boca de porco, mas muito se engana!
A empresa em mais de cem anos, administrada pelo chamado professor pardal do empresariado brasileiro, oscilou entre fases ditas áureas e crises. Faturou mais de R$ 200 milhões anuais nas décadas de 70 e 80 e nos anos 1990 menos de R$ 50 milhões por ano. Após viver essas ‘dificuldades’ nos anos 90, no início dos 2000 a empresa se vangloriava pelos contratos abertos com CSN, Cosipa, Grupo Caemi e Galvasud e outros. Essas são as crises endinheiradas da Bardella: sempre mimadas por investimentos robustos do Estado e o BNDES sempre lhe estendeu a mão.
A realidade é que a Bardella sempre foi protagonista das obras de infraestrutura do país, sobretudo nos ciclos de bonança da ditadura (a Bardella é responsável por uma das maiores pontes rolantes do mundo, para Itaipu) ou na era Lula-Dilma-Temer (Belo Monte, Jirau, Eletronuclear). Ciclos de grandes obras e colossais esquemas de corrupção.
Lula e uísque do Bardella
A crise da Bardella se dar ao mesmo tempo em que Lula está na prisão não deixa de ser irônico. A famosa greve de 1979 no ABC, que encerrou com derrota para os trabalhadores um ciclo de amplas mobilizações operárias contra o regime militar, foi negociada justamente por Claudio Bardella e Lula. O empresário foi o escolhido para negociar, e Lula entregou o movimento de bandeja fazendo vigorar o que depois ficou conhecido como o carnê Lula (com pagamento parcelado das horas paradas).
No encontro, relatado no livro Ditadura Acabada de Élio Gaspari, Bardella oferece cachaça ao sindicalista que diz preferir uísque. A gentil visita teve até autógrafo para o filho, Claudio Bardella, e selou um capítulo importante da relação promíscua entre empresários e sindicalistas no Brasil. Como a história mostrou, os interesses de Lula e Bardella se encontrariam muitas vezes adiante.