Entre maio e agosto de 1978, aproximadamente 100 mil trabalhadores em 132 empresas metalúrgicas realizaram greves na cidade de São Paulo conseguindo um aumento salarial médio de 15% e de 10% de antecipação. Consta ainda, nos registros do sindicato, a existência de 103 acordos de salários, sendo a maior parte efetivada via Comissão de Fábrica. Uma dessas comissões foi a da fábrica Massey-Fergunson da zona sul de SP como contam operários da época:
“Desde 1974, existiu na Massey um grupo pequeno de pessoas (4 a 8) discutindo os problemas da fábrica, distribuindo responsabilidades entre si e tocando o trabalho. Essas lutas, apesar de parciais, tornaram-se mais organizadas e foram crescendo em qualidade até o ponto máximo da greve de 1978, quando se formou a Comissão de Fábrica e se juntaram as eleições sindicais metalúrgicas.”
“As nossas reivindicações eram as seguintes: 21% de aumento, melhoria no departamento médico, vale refeição, melhoria na alimentação e instalação de equipamentos de segurança em algumas seções.”
Nas reuniões preparatórias da greve fomos discutindo a importância de uma comissão formada por companheiros combativos e de confiança.“Na última assembleia, antes da greve, com a presença de 120 companheiros, com representantes de todas as seções, escolhemos a comissão. Na primeira comissão foram escolhidos dois representantes por seção.”
“Decidimos parar na quarta-feira às 8h da manhã. A hora marcada foi ao final do apito para a entrada dos mensalistas. Foi uma sensação inexplicável. Fui entrando na fábrica e quando subia para minha seção ouvi todo aquele barulho de máquinas em funcionamento pararem de uma só vez, como uma bomba de água engasgada. A partir daí foi um corre-corre dos chefes, supervisores, diretores. A fábrica toda se mexia.”
“Assim que a fábrica parou, fomos todos para a assembleia do restaurante. Participaram da assembleia 90% dos operários. Houve uma tentativa dos supervisores de criar divisões entre o pessoal e indicar elementos de sua confiança para a Comissão.
Insistiam em chamarmos o sindicato para negociar. A assembleia rejeitou por maioria a participação do sindicato gritando: ‘O sindicato não, o sindicato não! Nós temos condições de resolver o negócio sozinhos.’ Quando os operários diziam não à participação do sindicato, referiam-se à diretoria por já ter traído a luta dos ônibus.
Os operários não estavam contra o sindicato entidade, mas sim contra a participação da diretoria nas negociações, pois esta diretoria já era conhecida como traidora dos interesses da classe.”
“Os dias foram passando e as negociações não avançavam. Os patrões disseram que estavam encerradas as negociações e que não reconheciam mais a Comissão e no dia seguinte pediram para formar outra Comissão.”
“Após o impasse com os patrões ficou mais claro para os companheiros da Comissão que sem estabilidade não se podia negociar. Portanto, quando os patrões pediram para formarmos outra Comissão, só aceitamos depois de assinado na presença do DRT que legalizava a estabilidade. Nossa proposta era de dois anos e conseguimos.”
“Nós confiávamos na firmeza da fábrica. Eles não voltariam ao trabalho sem o acordo firmado. Os patrões preparavam várias jogadas, mas os companheiros permaneceram firmes, aguentando todas as pressões; mantínhamos a fábrica informada do clima das negociações e da importância de não ceder e não acreditar nos patrões.”
Os critérios para escolha dos membros da comissão eram companheiros mais combativos, que estavam na luta, possuíam conhecimento dos problemas da fábrica e tinham representatividade junto aos operários. Os trabalhadores conseguiram 15% de aumento, melhoria no atendimento médico e restaurante, instalação de equipamentos de segurança, diminuição da repressão interna e estabilidade de 2 anos para a comissão. E mesmo com dificuldades foi possível dar continuidade ao trabalho e participar das eleições sindicais de 78 na chapa de oposição.
(*) trechos retirados do livro “Comissão de fábrica – uma forma de organização operária”, Editora Vozes, Petrópolis, 1981.