Publicamos entrevista com Vera Lúcia, candidata a presidente pelo PSTU. Como falamos na edição anterior, O Corneta apoia a candidatura de Vera. Trabalhador tem que votar em trabalhador, não em engomadinho da burguesia. Mas mais do que votar em trabalhador, temos que votar em trabalhador que luta. Vera Lúcia não é como Lula e seus sindicalistas que traíram nossa classe: ela é um exemplo de combatividade. Leia a entrevista:
Vera, conte-nos um pouco de sua infância.
Eu nasci num município do sertão pernambucano. De lá a gente saiu ainda na década de 70, muito criança, e meus pais foram depois para Aracaju [Sergipe]. Sou filha de pequenos produtores, mas chegando na cidade os meus pais vão trabalhar com tudo o que aparece. Meu pai foi vendedor, trabalhou na construção civil, como vigilante, e minha mãe como lavadeira, como bordadeira. Tudo isso para sustentar os filhos, que eram muitos. Eu comecei a trabalhar desde muito cedo, desde os cinco anos de idade. Sempre cuidei dos meus irmãos mais novos e foi assim durante toda a vida. Um dos fatores que levou os meus pais a saírem do sertão foi, além da seca, a falta de escola. E os meus pais queriam que nós fôssemos estudar.
Foi lá em Aracaju que você começou a trabalhar?
Comecei a trabalhar fora de casa aos 14 anos, porque todo mundo tinha que trabalhar pra poder se alimentar. Fiz de tudo. Fui garçonete, datilógrafa, tudo que era possível fazer. Também trabalhei como diarista, fazendo faxina. Eu trabalhava e estudava, mas chegou um tempo que já não dava mais e eu parei de estudar quando estava fazendo o primeiro ano do chamado hoje Ensino Médio. Eu concluí o Ensino Médio quando minhas filhas cresceram, na forma de supletivo. Depois fiz um cursinho pré-vestibular, fiz o vestibular, passei na Universidade Federal de Sergipe e me formei em Ciências Sociais.
E quando você começou a trabalhar na Azaleia?
Eu entrei na fábrica com 19 anos de idade. A minha filha mais velha era um bebê. Na época, a jornada era de 10 horas e na sexta-feira a gente era obrigado a fazer hora extra. Então, da sexta para o sábado, essa jornada era elevada para 14 horas. Na fábrica eu comecei trabalhando nos serviços gerais e lá eu fui treinada e profissiona-
lizada como costureira.
Como era o trabalho político com os operários?
Muito intenso, porque o trabalho ocorre em turnos. No acordo coletivo nós conseguimos que depois da greve, por 6 meses, que nenhum trabalhador seria demitido. Conseguimos estabilidade no emprego, que a insalubridade fosse paga, que a refeição fosse de qualidade. Na fábrica nós lutamos muito para que as condições de vida e de salário dos trabalhadores da Azaleia fossem melhoradas, porque você não resolve nos marcos do sistema capitalista. A primeira greve de ocupação no setor privado, por mais de 40 dias, foi dirigida por nós lá no estado de Sergipe, na fábrica Alpargatas.
E a sua candidatura? Por que essa candidatura?
Nós estamos num momento de grande crise econômica, de efervescência política, de caos social, e é um ano cruzado pelas eleições. Nós não temos nenhuma ilusão que a eleição vai resolver os problemas dos trabalhadores, mas um partido como o PSTU, que tem como estratégia a construção de um partido para dirigir a revolução socialista e para que os trabalhadores tomem o poder, não pode se furtar da tarefa de durante as eleições apresentar um programa que de fato atenda às necessidades mais sentidas dos trabalhadores. Os trabalhadores no Brasil hoje, frente a essa crise, que só é comparável à de 1929, só terão atendidas as suas necessidades, no atual estágio de desenvolvimento do sistema capitalista, se eles se organizarem, se rebelarem de forma organizada. E isso se faz na medida em que você forja a sua própria democracia e organiza-se através dos conselhos populares, no seu local de trabalho, no seu local de estudo, no seu local de moradia.
Qual a sua opinião sobre as candidaturas que começam a se apresentar?
Tem candidatura pra todos os gostos nessas eleições. Vai desde Bolsonaro, que é um covarde, ditador, que tem 7 mandatos no parlamento, que teve o seu patrimônio mais do que duplicado nos últimos 10 anos — tanto ele quanto seus filhos —, que diz que é a favor da pena de morte, que faz apologia ao estupro… Agora tudo isso pra pobre, né? Porque ele fala em matar pobre porque diz que tem pobre que rouba. Se for pra matar quem de fato rouba, não ficaria um único rico nesse país vivo e nenhum corrupto vivo, inclusive ele e a família dele entrariam nessa. Do mesmo jeito que tem as candidaturas neoliberais, a exemplo do Rodrigo Maia, do Alckmin, que todo mundo sabe como são os seus governos: de privatização, de ataque aos serviços públicos… Tanto o Rodrigo Maia como o Bolsonaro votaram a favor da reforma que retira direitos dos trabalhadores. Então esse tipo de gente não serve!
Mas e o PT e o Lula? Não são diferentes desses candidatos?
Olha, Lula e o PT… Lula gosta de dizer que os banqueiros nunca lucraram tanto como durante o seu governo. Os empresários desse país lucraram absurdamente. Ele foi o “cara” de Obama, ele era companheiro de Bush… E sempre governou com a burguesia. Traiu descaradamente a classe trabalhadora. E esse caminho a classe já trilhou, já tem experiência, já viveu. Inclusive pra essas eleições está fazendo aliança com setores que eles chamam de “golpistas”… Então, não tem diferença nenhuma! O governo do PT, seja Lula ou qualquer petista que dispute as eleições, é um programa capitalista, que vai servir aos grandes empresários como já serviu nos seus governos anteriores. E Boulos [PSOL] vai no mesmo caminho… A candidatura dele [Boulos] é sob as bênçãos de Lula. Não é reforma, não é radicalização da democracia capitalista como diz o projeto do PSOL através do Boulos. Não é isso! Nós queremos uma democracia operária e pra isso precisa que os trabalhadores estejam organizados. É preciso que façamos revolução sim, porque ninguém vai dar nada de graça pra nós.