Vemos a chantagem em todos os cantos: “se não fizer a Reforma da Previdência o Brasil não vai crescer”. Era o que diziam da Reforma Trabalhista que só piorou a situação do peão. No último trimestre fechado em fevereiro, o desemprego passou de 11,6% para 12,4% (IBGE) e o único emprego que cresceu foi o subemprego. Hoje os economistas já temem que o PIB brasileiro de 2019 fique mais próximo de 1% do que 2%. A única receita burguesa: cortar mais!
Apesar do gigantesco desemprego e exploração cotidiana do trabalhador brasileiro, a indústria não se reergueu. A “retomada” da produção iniciada em meados de 2017 é ridícula. A economia se debate no fundo do poço, pois os empresários brasileiros ainda não conseguem um lucro satisfatório em suas vendas. Afinal, eles não mantêm suas empresas para o bem da nação, mas para lucrar às nossas custas.
Dados recentes mostram que a indústria brasileira (que alavanca ou derruba o comércio e os serviços) não dá sinais de recuperação, mas de desaceleração. A produção de máquinas e de bens duráveis está no negativo há vários meses, indicando a tendência geral da economia nacional para 2019. Em março, segundo o CAGED, a indústria de transformação fechou 3.080 vagas e ainda um secretário do governo afirmou que se tratava de “um movimento natural do mercado”. Natural para quem? Para os demitidos?
Outro desastre “natural”: em março, o salário médio de admissão foi de R$ 1.571,58. Após corrigida a inflação (oficial) houve queda de 0,51%, ou R$ 8,1 na comparação com o mesmo mês em 2018. Parece pouco, mas estes são os dados oficiais (mais ilusórios) e mesmo neles vemos nosso prato esvaziar de grão em grão. O que dizer, então, da peãozada demitida que é recontratada pela metade do salário? O arrocho na realidade é muito maior!
Indústria mundial troca de pele
Para recuperar a margem de lucro perdida ao longo dos anos, as empresas fazem as malas e percorrem o mundo em busca de novas condições de exploração. Saltam para a China, África do Sul, México, Vietnã, Brasil e por aí vai. Esta viagem por lucro causa demissões aqui e arrocho acolá, criando um rastro de destruição.
Na realidade, as empresas nem mesmo precisam sair de um país, basta que elas consigam rebaixar as condições do contrato de trabalho. Trata-se de uma reestruturação produtiva do capital, ou seja, quando as cadeias industriais e comerciais são redesenhadas mundialmente.
Basta ver a situação das montadoras, importante coluna de sustentação da indústria. A Ford anunciou o fechamento da tradicional planta do ABC. A GM norte-americana segue o mesmo protocolo e ameaça fechar sua planta em Lordstown (EUA), ao mesmo tempo em que ameaçou fechar neste ano as plantas de São José dos Campos e São Caetano do Sul.
Na planta americana, mesmo após facão, lay-offs, terceirização, acordos trabalhistas rebaixados e 148.000 carros Cruze entregues no ano passado, a GM noticiou que precisava fechar a fábrica que emprega mais de 1.400 operários e garante centenas de empregos indiretos na região. “Fizemos tudo o que a empresa quis, agora essa é a resposta dela”, diz uma operária que trabalhou por lá 24 anos. Qual o argumento da multinacional? “Margem de lucro pequena”. Caras de pau!
No Brasil a GM tocou o terror e dobrou os sindicatos à sua proposta absurda. A GM e Dória ainda saem na foto como defensores do emprego.
Em resumo, a GM está trocando de pele para novas condições de lucro. Mas a burguesia só troca de pele esfolando a pele da classe trabalhadora.
Uma nova crise econômica está chegando
Os Estados Unidos, economia que domina o ritmo econômico mundial, teve seu crescimento alongado artificialmente nos últimos anos pelo governo Trump e agora dá sinais de estar atingindo o limite. Se a indústria norte-americana cair no mesmo grau que subiu, veremos talvez ainda neste ano uma grave crise econômica mundial.
Isso significa que para além da paralisia atual da economia brasileira, ainda se pode somar a ela uma crise mais ampla. Se hoje as empresas já não garantem o básico, imagine em um cenário pior amanhã!
É preciso desde já se precaver. A única chance de sobrevivência da classe operária é se defender com suas próprias forças, dentro e fora dos sindicatos. A tarefa hoje, sobretudo nas fábricas, é preparar a luta contra as demissões e o arrocho salarial. Se os patrões não conseguem se salvar e o governo só sabe usar o Estado para nos atacar, é preciso aprender a lição e lutar por nossos próprios interesses de classe.
Nas imagens, no topo, charge de Di Cavalcanti (1950) O capital dançando com a morte; no corpo do texto: operários da GM nos EUA (Lordstown) protestam contra ameaça de fechamento de planta.
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