A greve dos caminhoneiros revelou que há muito grito preso na garganta da população brasileira. O ódio não é pouco contra Temer, contra os corruptos de todos os partidos e contra miséria social. O índice de desocupados está na casa dos 27 milhões, o salário não dá pro final do mês e o endividamento da população desespera. Este país virou um barril de pólvora e não tem copa do mundo que impeça a explosão.
Mas a greve dos caminhoneiros também ensinou que não dá pra lutar para controlar preço de cada mercadoria do mundo (como o diesel, por exemplo). Há milhares de mercadorias. Vamos tentar controlar os preços de todas, uma a uma? Qual o sentido disso?
Para piorar, o governo anunciou que ia tirar da educação e da saúde os 40 centavos que os caminhoneiros queriam de subsídio no preço. E tirou. O mesmo aconteceu em junho de 2013, quando a massa exigia a diminuição de 20 centavos da passagem. Os canalhas Alckmin e Haddad vieram a público anunciar que atenderiam o povo, mas tiraram os 20 centavos da saúde e educação.
A primeira grande lição dos caminhoneiros é a seguinte: não adianta ter uma reivindicação onde a vitória entra pela porta da frente e sai pela janela. Ganhar aqui e perder ali dá na mesma. Para lutar contra a miséria, precisamos de uma reivindicação única e geral, que a gente possa controlar de verdade e com a qual o governo não possa fazer enganação.
O que todo trabalhador tem de comum é a capacidade de trabalho. O fundamental é garantir nossos empregos e reajustar os salários todos os meses de acordo com a inflação. Aí não importa se gasolina aumentou 1%, 10% ou 1000%. Se o arroz aumentou 5000% e o aluguel 40%, basta aumentar o salário mensalmente na mesma velocidade. É mais fácil controlarmos o nosso salário, de forma coletiva (numa greve, por exemplo), do que controlar o preço de todas as mercadorias. Mas para isso, temos que conseguir lutar de verdade.
A segunda grande lição da greve dos caminhoneiros é a importância da unidade da base e dos representantes legítimos. Apesar de ter um monte de associação falsa de caminhoneiro nas negociações com Temer, alguns poucos representantes que estavam lá representavam de verdade a base e queriam lutar de verdade pelas reivindicações.
Isso nós não temos na grande maioria das fábricas hoje. Aliás, um monte de companheiro ficou entusiasmado com a greve e com vontade de lutar, seja no chão de fábrica, seja nas ruas, saindo pra protestar em solidariedade. Mas como? Ninguém veio ajudar. Cadê o sindicato para corresponder à vontade de luta nessas horas? No final, ficamos vendo tudo de fora, pela TV.
O mesmo aconteceu em junho de 2013, quando os sindicatos não chamaram os trabalhadores das fábricas para a rua.
A greve dos caminhoneiros ensina que é preciso e possível ter união pela base, bem como criar representantes legítimos. É possível retomar os sindicatos para os peões, tirando das mãos dos que vivem de negociata com os patrões. É difícil, mas possível. Só conseguiremos isso se nos organizarmos de forma mais séria em cada fábrica. Só aí teremos condições para defender nossos empregos e salários, inclusive numa forma em que o governo e os patrões não possam enganar os trabalhadores. Aí seremos exemplo nacional, como os caminhoneiros!
Cornetadas da greve
Sair da inércia
Bardella / Guarulhos
Os caminhoneiros deram o pontapé inicial, fizeram o mais difícil que é sair da inércia. Era pra parar tudo, fazer outras greves. Mas nas outras categorias, caíram matando. Meteram multa pesada pros petroleiros, o governo caiu em cima, não cumprirá nada do que prometeu, os sindicatos não ajudam. Como disse a rapazeada na Bardella, tinha que ser como a música do Raul Seixas: “o dia em que a terra parou!”
Guerra é guerra
Bardella / Guarulhos
Faltou a população apoiar de verdade os caminhoneiros e não passar ridículo fazendo fila pra abastecer. A gasolina que apodreça! A gente não vive sem feijão, mas pode ficar sem bolacha recheada, em momento de crise, tinha que fazer um sacrifício a mais pra apoiar! A gente sabe que toda guerra tem baixas, mas guerra é guerra!
Pelego enche o tanque
Bardella / Guarulhos
Os caminhoneiros fizeram uma greve justa, todo mundo que é peão apoiou porque estavam lutando não só por eles, mas por nós. Mas os motoristas de caminhão que atendem a Bardella são tão pelegos que furaram a greve, e só conseguiram rodar porque fizeram esquema com o posto Sakamoto pra encher o tanque.
Greve de exemplo
Meritor / Osasco
A greve dos caminhoneiros seria um exemplo se os trabalhadores parassem pra fazer a greve junto. Mas falta união e organização. O Sindicato cada vez mais se vende para o Patrão, é uma troca, querem uma boquinha e fechar acordos e quem paga é o trabalhador