Dois casos de demissão na Cinpal retratam a situação dos trabalhadores brasileiros: só podem contar com as próprias forças para reagir à ditadura dos patrões.
Demitidos por se organizarem
Após terem participado de uma assembleia na frente da empresa, exigindo a abertura de negociação da PLR, trabalhadores da Cinpal foram demitidos. Um dos companheiros conversou conosco e contou como ocorreu:
O sindicato chegou de manhã convocando o pessoal para parar, mas a maioria entrou e ficaram mais ou menos umas 80 pessoas. Depois o sindicato aconselhou que entrássemos, já que estávamos em minoria. Então o pessoal bateu o ponto com 1, 2 ou 3 minutos de atraso.
Depois de uns 3,4 dias o encarregado veio com um papel, nem chamou para conversar no particular nem nada, foi na frente dos colegas e disse: “sua demissão é devido ao sindicato”. No RH, questionei o motivo dado pelo encarregado. Aí falaram para eu não pensar que era por causa disso, que estavam apenas cumprindo ordens.
Os companheiros buscaram a via da organização para enfrentarem as péssimas condições salariais e de trabalho da empresa. Não pensei só em mim. Esses 80 que ficaram, ficaram pensando em todos. Acreditamos que temos direito a PLR, direito a que as pessoas sejam tratadas como seres humanos e de melhorar e lutar pelos nossos direitos.
Apesar do sindicato ter dirigido os peões nessa luta, de ter proposto a reunião em frente à empresa, não tratou as demissões como um ataque político da Cinpal à organização dos trabalhadores. Cheguei a falar com um dos diretores que me perguntou se era do meu interesse permanecer na empresa. Como minha resposta foi negativa, eles não fizeram nada. Acho que eles falharam nessa parte. Deveriam abrir a boca e falar mais. Informar o que muitos passam todos os dias na empresa. Deveriam divulgar essas demissões injustas que acontecem.
O companheiro disse ter certeza de que foi demitido para servir de exemplo, para amedrontar os trabalhadores que ousam se levantar para cobrar da empresa. E as pessoas que estão com medo deveriam se posicionar, pensar por todos. A empresa comemorou recentemente um ganho de mais ou menos 4 milhões de reais em um único dia e não tem dinheiro pra pagar PLR? A empresa não olha o lado dos trabalhadores. Muitos trabalham há muito tempo como operadores ganhando salário de ajudante. Aqui sofremos muitas ameaças.
Arcando com custos de processo
Conversamos também com uma trabalhadora terceirizada da Cinpal, que foi demitida de forma humilhante, tendo sofrido assédio moral e problemas de saúde no tempo em que esteve na empresa. Ela entrou com um processo na justiça e teve, recentemente, sua audiência:
Perdi o processo, eles ganharam. A advogada, no dia da audiência não foi, mandou outro no lugar.Sei não se eles não compraram a advogada… A juíza, não sei. Todo mundo fala que eles compram todo mundo aqui no Taboão e não deve ser mentira não, porque eles estavam bem tranquilos. O advogado da Cinpal ofereceu 300 reais, o outro 500. Aí a juíza perguntou: “por que mandaram ela embora?”. Nenhum soube dizer, nem o advogado da Cinpal, nem o representante da executiva e nem o da empresa. Daí, no fim, a juiz deu causa ganha para eles, porque calúnia e difamação cai em processo.
Parece que… você vai falar, a juíza te interrompe, te questiona. Ela taca terror. Do jeito que ela fala, é lógico que… Aí, o advogado, que foi mandado para me defender, pegou e pediu a justiça gratuita. Mas eles não querem dar, entendeu?
A companheira, além de perder, terá de arcar com os custos judiciais do processo que abriu. É uma possibilidade aberta na legislação pela recém aprovada Reforma Trabalhista.
Coloquei na justiça mais ou menos no mês de maio ou junho. Que eu vi, essa lei foi aprovada no final de novembro… Perguntei para a advogada: “por que a senhora não me avisou?” . Ela respondeu: “eu não sabia”. Pois é, se ela que advoga não sabia, quem dirá eu? Eu não vou pagar, eu sou pobre, eu moro em comunidade, desempregada ainda, saí de lá com um monte de problemas de saúde, com os quais eu não entrei.
A Cinpal já era do jeito que era, com essa nova lei eles vão deitar e rolar. E, infelizmente, se o povo não se unir contra essa ditadura, vai ficar do jeito que tá. Pobre pra eles é lixo. Funcionário? Enquanto você tá bem de saúde você serve, mas, se apresentou um defeito, você é descartado, é tratado como lixo, essa é a verdade, você não serve mais.