O Corneta
O Corneta conversou com Samara, professora no Paraná e integrante do Movimento Mulheres em Luta (CSP Conlutas) que está acompanhando e atuando em apoio à greve dos operários da Renault.
Então, eu sou a Samara, eu sou do movimento mulheres de luta e tô acompanhando aqui em Curitiba a greve dos trabalhadores da Renault. Primeiro que a mobilização ela tem uma adesão ampla de todos os trabalhadores da empresa, que entenderam que não têm os seus empregos garantidos e que serão os próximos da lista, mesmo se não lutarem esse momento. Então, é necessário a união de todos, né? A sensação que já vem das demais tentativas de ataque da companhia se soma de um modo geral com as relações que a empresa vem tendo com os operários, né? Isso já de antes, desde a renovação da empresa, quando a fabricação da Nissan foi pra fábrica lá no Rio com uma nova gestão assumindo. E nas palavras dos próprios trabalhadores, né? Que tão incorporando a greve, alguns que foram demitidos, é que a relação da empresa é de completo uso dos trabalhadores e depois descartar mesmo sem nenhuma consideração sobre o trabalho deles. O fechamento do terceiro turno que fizeram há dez dias atrás e rompeu unilateralmente as negociações que tavam sendo travadas durante todo esse período de pandemia e ela só reforça a revolta dos trabalhadores no chão da fábrica.
Então, é total, né? Os trabalhadores que não foram demitidos junto com os trabalhadores que foram demitidos, não estão somente lutando como já perceberam que essa luta já passou das demissões, ela é pra mais do que resolver os problemas de quem tava na lista do dia vinte e um, é uma luta fundamental pra preservação dos empregos e dos direitos de todos os outros que ficaram. A demissão dos que foram agora né? No dia vinte e um se não for compartida por todos os trabalhadores ela colocará uma enorme pressão dos empregos e na qualidade da relação da pressão pra quem fica. São menos postos, menos um turno inteiro de produção, mais metas de produtividade, persistindo período anterior, além das condições mesmo dos salários e benefícios. No pacote das demissões, existia uma cláusula Renault de discutir os salários somente em dois mil e vinte e dois, isso veio lá no áudio que a empresa enviou aos trabalhadores se justificando dos setecentos e quarenta e sete lá no dia vinte e um. Em contrapartida, a empresa adiantaria o abono e manteria os valores como vale mercado, ou seja, ataque e migalhas pra quem vai ficar, sem nenhuma garantia de emprego pro próximo período. Realmente, um absurdo, por isso que todos estão de fato apoiando, integrando a luta e participando das mobilizações.
Bom, aqui na cidade os operários, assim como os familiares desses operários e a população da cidade inteira que tá mobilizada, se deram conta quando apareceu por denúncia do sindicato e do movimento de apoio a repercussão da imprensa e da Câmara de Deputados Estaduais o fato da empresa ganhar desde a sua implantação de mil novecentos e noventa e sete à isenção do imposto como ICMS, refletindo em milhões de reais nos da empresa todos os anos, mas por outro lado, quando a situação econômica se complica, justamente os trabalhadores precisam da contrapartida da empresa da Renault, e ela simplesmente ignora cada família, que paga justamente mesmo sem comprar nenhum carros, lucros altíssimos das empresa. A sensação realmente é de indignação, de ser usado o tempo todo pela empresa e depois descartado como disse a galera lá.
Então assim, o sindicato aqui faz parte da Força Sindical do Brasil, né? Que é o sindicato da região de Curitiba, ele vem se mostrando atuante numa dinâmica que vem à esquerda, né? Da CUT e a CTB, por exemplo, que nacionalmente vem numa dinâmica de entregar a luta antes dela começar, jogando toda a responsabilidade da resistência nas costas dos trabalhadores, sem fazer mobilização de base, sem fazer a disputa política. Aqui em Curitiba já há algum tempo temos uma postura até que progressiva assim de unidade pra lutar, tendo sido nas últimas grandes mobilizações da cidade, como nas greves nacionais, um um aliado nas mobilizações.
Bom, o número de trabalhadores lesionados ou que adoecia devido ao ritmo de trabalho era enorme e era muito comum conversas durante ônibus, né? No trajeto que era ônibus fretado até a fábrica, você ouvir que remédio que você tá tomando pra dor ou como que você tá usando esse remédio aqui ou tem remédio aí na tua bolsa? E agora com a pandemia? O ritmo de trabalho diminuiu, mas o número de afastados aumentou, trabalhadores do grupo de risco tentando evitar o contágio, trabalhadores afastados por acidente ou por doenças relacionadas ao trabalho, inclusive quarenta por cento dos demitidos estava ou tavam de atestado médico ou fazendo algum tratamento, isso conforme o levantamento feito pelo sindicato, e receberam cartas, nem foi presencialmente que foram demitidos, né? Foram demitidos à distância.