Transição Socialista

“Se não for hoje, quando será? Se não formos nós, quem será?” Entrevista com Padial, candidato d’O Corneta

Entrevistamos o companheiro Rafael Padial, candidato a deputado federal pela legenda do PSTU. Padial tem 31 anos, milita na esquerda revolucionária desde os 17, é professor e doutorando em Filosofia. Além disso, é membro da organização Transição Socialista, que ajuda a fazer o jornal operário O Corneta. Nesta primeira conversa, Padial fala da descrença no sistema político nacional e da necessidade de os trabalhadores colocarem a mão na massa sem esperarem nada de ninguém.

OC: A descrença no sistema político é muito grande. O PT fala que isso começou no impeachment da Dilma, que eles chamam de “golpe” e que desde então vivemos uma situação de retrocesso nacional. Como você enxerga essa situação?

RP: Olha, é mentira que a descrença no sistema político começou no impeachment. A descrença começou em junho de 2013, naquelas enormes passeatas contra o aumento da passagem. Foi lá que a Dilma despencou em popularidade, e depois não se reergueu mais. Só se reelegeu por sorte. Desde então foi crescendo aos poucos, entre a população, a ideia de que todo o sistema político é podre, desde o PT ao PSDB, passando pelo PMDB e todo o resto. Então essa descrença é um sentimento muito positivo. Não tem nada de “reacionário”, como fala o PT, nessa descrença. É o ódio legítimo da maioria a todo o sistema corrupto. A questão então não é só derrubar Dilma ou prender só Lula, mas derrubar e prender eles e também todos os dos outros partidos. O caminho é pra frente, não pra trás!

OC: Mas as reformas do Temer, trabalhista e previdenciária, não são provas de que teve uma onda de retrocessos depois do impeachment?

RP: São provas de que vivemos numa sociedade de tipo capitalista, que precisa necessariamente atacar sempre vida da população. Não quer dizer que não sejam medidas que Dilma e Lula não fariam. Pelo contrário: todas as reformas de Temer foram planejadas por Dilma, todas elas, sem exceção. Todas elas foram desenhadas por Joaquim Levy, o ministro da Fazenda da Dilma, e só não foram levadas adiante porque Dilma caiu. E lembremos: pouco antes do impeachment, Lula fez de tudo para colocar Henrique Meirelles como Ministro da Fazenda e assim salvar a Dilma. Meirelles, o cara que implementou essas reformas nefastas!

Então a realidade é bem o contrário do que eles falam, como sempre. A realidade é a seguinte: se essas medidas contrárias à população estão passando hoje, é exatamente porque o PT ajudou a quebrar qualquer organização séria e de luta da classe trabalhadora nas últimas décadas, é porque esses pelegos sempre quebraram as energias dos trabalhadores. E agora, na hora de fazer as paralisações gerais para lutar contra essas reformas, eles deram para trás e fizeram um monte de acordão com as empresas para não mobilizar os trabalhadores e não parar o país. Eles são, por terem planejado enquanto governo, e depois por terem ajudado o Temer a implementar, os maiores responsáveis por essas medidas nefastas.

OC: Vocês votarão na Vera Lúcia, do PSTU. Mas e o Guilherme Boulos do PSOL, ele não é uma alternativa de esquerda? Ele é mais conhecido do que a Vera…

RP: O Boulos não é de esquerda. Assim como o PT não é de esquerda. O PT, particularmente, é de direita. É um partido burguês. O Boulos é de centro, é um radical pequeno-burguês, mas não é de forma alguma de esquerda ou representante dos interesses da classe trabalhadora. Sua maior vontade é ocupar o espaço do Lula, ser um novo Lula. Por isso seu discurso paz e amor na televisão. Seu programa é o programa do PT de administrar a miséria, mas não acabar com a miséria. Para esse tipo de gente, quanto mais miséria, melhor.

Já o caso da Vera Lúcia é diferente. Ela é de um partido pequeno, pouco conhecido, mas tem toda uma história de luta. Acontece que as coisas nem sempre são ideais: praticamente não existe esquerda de verdade no Brasil, então é preciso construí-la. A classe trabalhadora vive a miséria cotidiana, aguentando as mais terríveis privações e humilhações todos os dias, porque não existe uma organização de combate, de luta, um partido verdadeiramente revolucionário, para mudar esta situação. É isto que tem que ser construído hoje.

Pode ser que o PSTU e a Vera não sejam perfeitos. Nós não temos acordo absoluto com eles. Mas temos certeza de que a construção de uma organização de luta passa hoje, nesta eleição, por apoiar a candidatura deles, por defender um caminho próprio para os trabalhadores.

Os trabalhadores que aqui estão lendo esta entrevista têm que saber de uma coisa: não adianta ficar escolhendo candidato que parece menos pior a partir do que viu na televisão ou no santinho, ou que leu por cima, mas não conhece. O problema não pode ser delegado para outros. O problema está em você, você tem que resolver. Se você não ajudar diretamente a resolver, quem ajudará?

A questão é você ajudar a construir uma organização de combate, de luta. Confie só em você mesmo e em quem luta com você do seu lado, e não em um político que aparece lá na televisão. Os problemas têm que ser resolvidos hoje mesmo e vocês têm de resolver. É aquela velha máxima: se não for hoje, quando será? Se não formos nós, quem será?

Leia aqui o manifesto aos trabalhadores brasileiros, da candidatura da organização Transição Socialista.