O trabalhador chega muitas vezes ao desespero. O suicídio no próprio local de trabalho é sua denúncia mais brutal da exploração. É um protesto do peão. A empresa busca isolar o caso: “a motivação foi pessoal”, dizem. A responsabilidade pela morte seria apenas do trabalhador. Este pensamento mesquinho infelizmente é reproduzido até mesmo por sindicatos que dizem nos representar. Mas o suicídio no local de trabalho é evidentemente um problema coletivo, de classe, pois aponta para a desumanidade econômica do sistema.
Esta situação é mundial, da Alemanha à Índia, do Chile ao Japão. Na China, por exemplo, ficaram famosos os suicídios de dezenas de operários da fábrica Foxconn, montadora de eletrônicos (incluindo o iPhone) que possui mais de 800.000 trabalhadores. A empresa chegou mesmo a instalar redes de segurança para impedir que os operários se jogassem das residências do complexo industrial.
Um caso emblemático foi o suicídio do operário Xu Lizhi, de 24 anos, que se suicidou em 2014 e deixou registrado em poemas a condição operária:
“Oficina, linha de montagem,
máquina, cartão de ponto, hora-extra, salário…
Treinaram-me para ser dócil.
Não sei gritar ou me rebelar,
não sei queixar-me ou denunciar,
só me ensinaram a sofrer
silenciosamente o esgotamento”
Xu Lizhi
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