Transição Socialista

A simplicidade irrealizável

Independentemente das contradições colocadas pelas manifestações de março, há entre as organizações de esquerda do Brasil pelo menos um consenso: os trabalhadores precisam construir uma alternativa de poder ao poder burguês.

As divergências começam a se manifestar quando se discute como, por quais meios deve-se construir essa alternativa. A explosão da crise do PT potencializou essas divergências. Afinal, a defesa o impeachment de Dilma contribui ou prejudica a construção da alternativa de poder. Alguns chegam a defender o governo Dilma contra um suposto golpe da direita. Outras correntes apostam no desgaste do PT via parlamentar. Dentre aqueles que defendem a luta direta contra o governo, há os que consideram a defesa do impeachment de Dilma algo prematuro.

Quanto a essa última posição, cabe fazer aqui, antes de tudo, uma caracterização do PT e de suas organizações afins, especialmente da CUT. Quem já distribuiu panfletos ou jornais operários nas empresas situadas em alguma região dominada por sindicatos ligados à CUT sabe que os primeiros a reprimir os militantes não são os seguranças da empresa, mas os bate-paus da CUT. A CUT não é apenas uma central chapa-branca, isto é, não é apenas uma central submissa ao governo federal. Além disso, a CUT tornou-se um instrumento burguês de controle e dominação do proletariado.

Enquanto a CUT cumpre o papel de bloqueio da livre organização daqueles trabalhadores que estão empregados, o PT cumpre um papel semelhante na superestrutura estatal, controlando os trabalhadores desempregados e todos aqueles que vivem na miséria, através das esmolas estatais chamadas programas assistenciais. Nada mais urgente, portanto, do que romper, finalmente, com esses bloqueios que soterraram a luta de classes por mais de 30 anos no Brasil. A superação do PT enquanto suposto partido que representa os interesses dos trabalhadores é fundamental para desatar a luta de classes, abrir o caminho para o crescimento da esquerda revolucionária e a construção de uma alternativa de poder.

Em relação ao argumento exposto acima, de que a queda de Dilma abrirá um espaço à extrema direita, é preciso refletir se enquanto esses bloqueios com roupagem democrática (PT e CUT) ainda estiverem sendo úteis para a burguesia, enquanto eles estiverem sendo eficientes em sufocar a luta de classes, haveria algum motivo que levaria a burguesia a substituir essa forma democrática por uma forma de dominação ditatorial. Não seria esse um desgaste totalmente desnecessário à atual classe dominante? Um golpe (ou intervenção constitucional, como está sendo chamado) contra o governo Dilma não representaria, em última instância, um golpe do capital contra si próprio? Afinal, o capital não obteve lucros elevadíssimos durante os 12 anos dos governos petistas? Dar um golpe no governo Dilma seria uma idiotice do grande capital. Os representantes da grande indústria podem ser tudo, exceto idiotas. A possibilidade de um golpe parece, portanto, ser muito remota.

Diante disso, o “Fora Dilma” não seria prematuro, muito menos uma bandeira exclusiva da extrema direita. Se o espaço da extrema direita é estreito, o mesmo não ocorre com a esquerda. Com o desgaste do PT abre-se uma grande avenida para a esquerda revolucionária. A questão é como ocupar esse espaço de poder. Se, seguindo Marx, o poder do capital provém do tempo de vida dos trabalhadores apropriado sem pagamento, o período no interior da jornada de trabalho no qual os trabalhadores produzem um valor além do seu salário, a mais-valia, a única forma dos trabalhadores conquistarem o poder, a única forma dos trabalhadores construírem uma alternativa de poder ao poder burguês é passando a determinar essas duas variáveis, o valor do salário e a extensão da jornada de trabalho.

Como determina-las? Através de duas reivindicações extremamente simples, mas irrealizáveis no capitalismo: PERDA SALARIAL ZERO E DEMISSÃO ZERO! Como já demonstrou Marx em O Capital e reafirmou Trotsky no Programa de Transição, enquanto existir, a burguesia será obrigada a rebaixar os salários e demitir trabalhadores.

Essas duas reivindicações, se assumidas pelos trabalhadores, apesar de serem muito simples, poderão contribuir para os conduzir a construir uma alternativa de poder socialista, o poder dos organismos do futuro Estado operário, o poder dos comitês de fábrica, dos organismos de controle operário e dos conselhos, um poder realmente alternativo.

Sem construir a dualidade de poder, sem construir, no presente, os organismos do Estado do futuro, falar de alternativa de poder e de socialismo é jogar palavras ao vento. Não podemos jogar palavras fora, temos que levantar palavras-de-ordem que sejam assumidas pelas massas. Somente se assumidas pelas massas as palavras ganham, como disse Marx, um poder material. Temos que valorizar nossas palavras-de-ordem, agitá-las no momento preciso para que tenham o poder de mobilizar as massas.

Nesse sentido, pensamos que agitar “Greve Geral” atualmente significa desmoralizar essa importante palavra-de-ordem histórica do proletariado, significa levantá-la no ar sem a existência de organismos capazes de sustenta-la, significa erguê-la para que se despedace no chão. Quem, afinal, poderia ordenar à classe que realize a greve geral? A Conlutas?  Sabemos que, infelizmente, a Conlutas não possui ainda expressão suficiente na luta de classes no Brasil para dirigir uma greve geral. As centrais chapas-brancas e pelegas? Certamente não.

Só haverá um organismo capaz de conclamar a classe e dirigi-la à greve geral:  os conselhos compostos majoritariamente por operários. A greve geral é o ponto culminante da dualidade de poder. Quando os trabalhadores estiverem preparados, política e organizativamente, para organizar a greve geral, eles estarão preparados para conquistar o poder, estarão preparados para expulsar os capitalistas e tomar a propriedade das fábricas em suas mãos. A greve geral será o ato que dará, aí sim, um golpe no Estado burguês, o golpe fulminante e derradeiro desferido pelo Estado operário, podendo, enfim, transformar o Brasil num elo frágil da cadeia da revolução permanente mundial.

PERDA SALARIAL ZERO!  DEMISSÃO ZERO!

CONSTRUIR A DUALIDADE DE PODER!

POR UMA ALTERNATIVA DE PODER SOCIALISTA!