Transição Socialista

Ascensão e queda do Programa de Transição parte 2

Por Rafael Padial

Na primeira parte deste artigo (acesso aqui) analisamos aspectos da gênese histórica do Programa de Transição de Trotsky. Constatamos que: 1) Esse programa se insere na tradição programática (dialética) do próprio O Capital de Marx; 2) É tributário da experiência da classe operária russa em 1917 (generalização e crescimento da dualidade poder a partir dos locais de trabalho); 3) É tributário da experiência da classe operária francesa em 1936 (falência do programa mínimo), e 4) Advém da estreita relação do velho dirigente bolchevique com a classe operária norte-americana (debate sobre o “economicismo” americano). Agora, com esses pressupostos, trabalharemos como esse programa foi adotado pelos trotskistas, e como foi, infelizmente, abandonado.

PARTE 2 – A DEFESA DAS ESCALAS MÓVEIS E SEU ABANDONO

A direção do SWP, a seção norte-americana da IV Internacional, à luz das discussões com O Velho (como Trotsky era chamado nas discussões internas), compreendeu a fundo o significado do Programa de Transição, sobretudo de sua aplicação a partir das escalas móveis. Ela compreendeu a dialética geral aí contida. Portanto, é das escalas móveis que partiremos. Seu abandono é a imagem mais clara do problema ora analisado; é o fenômeno na superfície que demarca o esquecimento do Programa de Transição. A análise sobre o momento do seu abandono e as disputas que se deram em torno disso lança luz sobre a história da IV Internacional. O desaparecimento das escalas móveis da agitação do SWP, a principal e dirigente seção do trotskismo, é sintomático sobre o abandono da totalidade do Programa de Transição e está, pensamos, estreitamente vinculado à falência do movimento trotskista no pós-guerra [1].

Por certo período o trotskismo deu exemplo de combatividade e superioridade programática em relação às demais correntes comunistas e socialistas. Cabe lembrar, principalmente, as atividades desenvolvidas pelo SWP sob a batuta de James P. Cannon, histórico militante comunista e trotskista. O SWP norte-americano, uma das principais seções da IV Internacional[2], aquela para a qual Trotsky dedicou a maioria das suas energias ao final da vida, criada para sediar e dirigir a IV Internacional, entendeu do que se tratava quando se falava de transição no Programa de Transição. O SWP compreendeu profundamente o significado histórico do Programa de Transição e levou adiante, com todas as suas forças, a seguinte orientação de Trotsky: “(…) Durante algum tempo, temos de nos esforçar em concentrar a atenção dos trabalhadores sobre um ponto preciso: a escala móvel de salários e de horas de trabalho”[3].

Durante os anos de 1940 e 1948, particularmente, o SWP norte-americano concentrou atenções sobre as escalas móveis; trabalhou uma importante defesa e aplicação do Programa de Transição enquanto programa dialético. Cabe ver, por exemplo, as resoluções sobre empregos, salários e defesa das condições de vida na 12a Convenção Nacional do SWP em 1946, convenção realizada em luta contra a fração interna de Felix Morrow e Albert Goldman, fração que buscava justamente abandonar a aplicação do Programa de Transição a partir das escalas móveis para adaptar-se às reivindicações da burocracia sindical norte-americana[4]. Cabe ver, ainda, os boletins internos de discussão do SWP nesse período, onde a defesa da aplicação das escalas móveis aparece, inclusive, embasada na teoria do valor e em O Capital de Marx[5]. Cabe ver, por fim, como maior evidência, as edições do The Militant, histórico jornal do SWP, que nesse período ostentavam com grande destaque, muitas vezes em manchete e mesmo com charge na capa, a defesa das escalas móveis[6]. As escalas apareciam sempre, em coluna no The Militant, com grande destaque, sempre enquanto o programa do SWP, para que o programa sindical do partido nunca fosse esquecido. O SWP, cuja influência pequena no movimento sindical não era entretanto desprezível, pois concentrada em setores-chave da economia, aprovou a escala móvel de salários nos contratos coletivos de várias empresas, inclusive, em sua pressão sobre a burocracia sindical, aprovou-a no contrato coletivo dos trabalhadores de toda a General Motors dos EUA – ainda que deformadamente pela burocracia, pois baseada no índice de inflação oficial do governo –, empresa que empregava então 225 mil operários no país[7]. Assim que os trabalhadores de uma empresa eram salvaguardados pela escala móvel de salários, tal condição se tornava vitrine para os demais e para pressionar a burocracia sindical.

No entanto, entre 1949 e 1951 as escalas móveis começam a minguar nos materiais e desaparecer das resoluções do SWP. A fórmula “aumento salarial” começa a substituir a de “escala móvel de salário” e a fórmula “30 por 40” (30 horas de trabalho com salário de 40 horas) começa a substituir a de “escala móvel das horas de trabalho”. Em 1952 e 1953 as escalas móveis praticamente desaparecem. O que estaria acontecendo?

É nessa época que o SWP é obrigado a fazer um “recuo tático”. O macarthismo (perseguição política estatal) nos EUA, iniciado com o refluxo das grandes greves de 1945/46, atingiu sobretudo militantes infiltrados nos sindicatos para trabalho revolucionário. A “caça às bruxas” marcou um período de reação sem precedentes nos EUA, para o qual as traições do stalinismo, que havia desacreditado o Partido Comunista Americano diante dos olhos dos trabalhadores mais avançados, aplainara o terreno[8]. Essa conjuntura adversa não deixou de ser sentida dentro do SWP, que por alguns anos resistiu bravamente, mas se tornou cada vez mais isolado. O rápido crescimento do partido entre os anos de ascenso de 1945/46, chegando a pouco mais de 2000 militantes – o que lhe permitiu começar as preparações para passar de uma “organização de propaganda” a uma “organização de massas”[9] –, em pouco tempo tornou-se seu contrário: saída de militantes e disputas internas. Já no começo dos anos 1950 o SWP encontrava-se com cerca de 500 militantes e paralisado. É aí que surge uma poderosa fração interna contraposta a Cannon, dirigida por Cochran e Clarke. Não se tratava de qualquer fração: Cochran era um dos principais dirigentes do trabalho sindical do SWP e seus apoiadores correspondiam, segundo Cannon, àqueles militantes operários despertados na década de 30, durante as grandes greves metalúrgicas do CIO, e que, na década seguinte, se adaptaram à elevação das condições de vida do proletariado americano, tornando-se céticos diante da reação macarthista[10]. Certamente, para eles, desanimados por conjuntura adversa, a via de não contradição com a burocracia e o capital era mais fácil e segura. Clarke, por outro lado, defendia as teses internacionais de Michel Pablo – sobre quem falaremos adiante –, teses de aproximação e entrismo no fraco Partido Comunista Americano. Clarke era um dos principais responsáveis pelo trabalho internacional do SWP. Ambos, Cochran e Clarke, realizaram um bloco sem princípios contra Cannon.

Mas a concepção do grupo de Cochran é bastante relevante para a questão que buscamos responder, a respeito do esquecimento do programa. Um dos seus porta-vozes, Mike Bartell, principal dirigente da cidade de Nova York, comunicava em Boletim Interno:

“Devemos portanto voltar nossos principais esforços para o trabalhador médio (ou estudante ou qualquer outro) hoje? Não é evidente que devemos buscar os trabalhadores mais esclarecidos e avançados, assim como intelectuais – aqueles que podem interessar-se por nosso programa como um todo?” [11]

Ou seja, em vez de se voltar ao trabalhador médio nas fábricas, ao trabalho sindical mediado pelas escalas móveis, defendia a fração de Cochran que o SWP deveria falar com aqueles que compreendessem todo o programa, principalmente grupos de esquerda, stalinistas, operários avançados, intelectuais e estudantes. Ainda que um recuo na agitação tenha amparo em tal conjuntura de perseguição e possa mesmo ter sido necessário, ele deveria ser feito de forma a não permitir, no futuro, o abandono do programa do partido. A aparência apenas sindical das escalas móveis (podendo assumir até certo ar de despolitização) facilita, inclusive, o trabalho político em condições adversas, ao vincular-se imanentemente à consciência do operário mais conservador (que quer apenas conservar sua condição de vida). O fato, entretanto, é que esse recuo abriu efetivamente, cada vez mais, espaço para o abandono da aplicação do Programa de Transição em sua concepção dialética, ou seja, a partir das (mediado pelas) escalas móveis. Como veremos adiante, o SWP, na segunda metade da década de 1950, não mais se levantou desse recuo, assim como o movimento trotskista mundial mostrou-se cada vez mais dividido e desnorteado. É sintomático, por exemplo, que, ao preparar a luta contra a fração de Cochran, a partir de 1952, Cannon viu-se subitamente sem terreno; percebeu-se em minoria no próprio Comitê Nacional (direção) do SWP, sem poder contar mesmo com Farrell Dobbs, em nome de quem tencionava deixar a direção máxima do partido. Passa Cannon a ser acusado pela própria direção do SWP de buscar um fracionismo irresponsável[12]. Realmente, grandes forças operavam no SWP e o faziam mudar de rumo, afastando-se da classe operária e aproximando-se da pequena-burguesia. As agudas condições objetivas do pós-guerra, momento em que o capitalismo em países-chave da Europa estava por um fio e em que a pressão imperialista e stalinista sobre a IV Internacional foi sem precedentes, pesaram decisivamente sobre a jovem e frágil IV Internacional.

Quando da expulsão da fração Cochran-Clarke, em 1953, por motivo de boicote deliberado ao partido, esta levou consigo cerca de 25% do SWP, contendo praticamente todos os militantes da cidade de Nova York e toda a organização do estado de Michigan (onde se encontra a importante cidade operária Detroit, e se encontrava parte do trabalho sindical mais importante do partido). Parte importante dos setores sindicais do SWP, adaptados às elevadas condições de vida do operariado norte-americano do período, optava, diante da conjuntura de grave repressão, pelo abandono do programa que ampliasse as contradições com o capital e pela adoção de outro programa, o programa da burocracia sindical, com o qual o capitalismo podia manter a classe em relativo controle por meio de concessões temporárias. Optava-se pela adaptação à burocracia sindical (apadrinhada pelo governo), para fugir à própria repressão do governo.

Pablismo enquanto resultado do afastamento do programa

A reação dentro do SWP em conjuntura adversa nos parece o principal elemento para o processo de esquecimento do programa. A ela somar-se-ão outros elementos também importantes, que serão o resultado final do afastamento do programa; eles darão a cara final – oportunista – a esse esquecimento. Ou seja: a cara final, oportunista, o pablismo, como tentaremos mostrar, não é a causa da degeneração da IV internacional, mas um resultado do processo de apagamento da dialética do Programa de Transição, ocorrido nos próprios meios dirigentes da IV Internacional. O afastamento do Programa por parte do SWP abriu um espaço significativo para tendências existentes dentro do movimento internacional da IV Internacional, tendências que agiam com base no impressionismo e num marxismo vulgar.

Por motivo de leis reacionárias, o SWP (assim como todas as organizações de esquerda dos EUA no período) não mais pôde ser oficialmente filiado a qualquer organização internacional e se viu forçado a transferir o Secretariado Internacional (a direção da IV Internacional) para a Europa. Este passa para responsabilidade do Bureau Europeu[13], que estava fragilizado, vez que todos os experientes e importantes quadros da IV Internacional na Europa foram perseguidos e mortos pouco antes ou durante a Guerra[14]. Esse Bureau apenas começava a ser reorganizado pelo trotskista grego Michel Pablo; era portanto muito frágil e inexperiente. É a partir daí (particularmente desde a Convenção Internacional de 1946) que ascenderá aos poucos um novo setor dirigente na IV Internacional, centrado na figura de Michel Raptis (Pablo), secundado por Ernest Mandel (Germain), Pierre Frank e (pouco depois) Livio Maitain[15]. Essa nova direção, impressionada com os complexos acontecimentos do pós-guerra, desenvolverá “inovações” teóricas, sempre trabalhando com lógicas estranhas ao marxismo, lógicas difundidas pelo stalinismo que têm grande influência, até hoje, sobre a esquerda e, inclusive, sobre o trotskismo.

Em 1948 realiza-se o II Congresso Mundial da IV Internacional, onde já grande parte do que será conhecido como pablismo nos anos seguintes começa a ganhar corpo. A essência do pablismo, que começa a surgir aí, é o internacionalismo concebido de forma abstrata, ou seja, enquanto análise abstrata da situação política mundial (análise em que as forças objetivas, entre as classes, são apagadas). Dessa análise abstrata decorre uma tática igualmente abstrata, estéril, de pouco fôlego, sempre submetida aos “dados concretos”, à empiricidade mutável e múltipla da conjuntura. No limite, o marxismo é substituído pelo jornalismo, como veremos. Surge aí, por exemplo, pela primeira vez no trotskismo, a teoria dos “blocos”, contrabandeada das análises do stalinista Zdanov. A situação política mundial seria caracterizada, então, pelo conflito crescente entre os “blocos”, EUA x URSS, conflito que ameaçava conduzir o mundo a uma terceira guerra mundial (como até certo ponto era possível inferir da crescente tensão na Grécia, Turquia, Irã, China e Coreia). Essa nova guerra logo transformar-se-ia, segundo Pablo, em guerra civil mundial, representação deformada do conflito entre o proletariado e a burguesia. Do conflito de tais “blocos”, transformados em entes abstratos, em cuja interioridade a ação das classes é apagada, dependeria toda a sorte da política mundial. É a partir desse conflito, pensam Pablo e seus subordinados europeus, que os trotskistas deveriam definir sua “estratégia”. Como aponta JJ. Marie:

“O mínimo que se pode dizer, do que foi colocado acima, é que a confusão é total. O imperialismo americano dominou, com efeito, de modo esmagador, o conjunto das potências imperialistas. Mas seu ‘principal adversário’ não era a ‘URSS’, a qual, nesse caso, tornava-se uma abstração. O principal adversário do imperialismo americano era o proletariado mundial, incluindo o proletariado da URSS [e dos EUA]. No fim da guerra e no imediato pós-guerra, a burocracia do Krêmlin, ao contrário, foi o principal aliado do imperialismo. Sem a Santa Aliança contra-revolucionária, a potência política da burocracia do Krêmlin, e de seu aparelho internacional, o sistema imperialista não poderia ter se reconstruído.”[16]

Tais teses abstratas serão desenvolvidas até atingir grau máximo no III Congresso da IV Internacional, em 1951. Pouco antes dele circulará um importante texto de Pablo: “Aonde vamos?”. Esse texto, escrito como contribuição à discussão congressual, defendia a tese de que a guerra civil que se aproximava geraria um ascenso revolucionário que produziria rachas na burocracia stalinista (tal qual havia ocorrido nos PCs Iugoslávo e Chinês) e caberia, portanto, aos trotskistas, entrar clandestinamente nos partidos stalinistas de massas, não realizar críticas internas e esperar pelos grandes conflitos e rachas gerados pela “situação objetiva”, visando levar o stalinismo à esquerda, à expropriação da burguesia, etc. Essa tática ficaria conhecida como “entrismo sui generis. A guerra civil iminente resultaria ainda num reposicionamento de todas as “democracias populares”, ou seja, de todos os “países satélites” da URSS, contra os EUA, num possível processo de “séculos” de conflitos e de transição deformada para o socialismo. Em tom ameaçador, e ao mesmo tempo de desprezo pelas teses desenvolvidas por Trotsky, afirmava Pablo:

“Certas pessoas, desesperadas com o destino da humanidade porque o stalinismo persiste e mesmo alcança vitórias, adequam a história às suas próprias vontades. Querem mesmo que todo o processo de transformação da sociedade capitalista em socialista se dê no breve período das suas vidas, pois assim podem ser recompensadas por seus esforços em nome da revolução. Da nossa parte, reafirmamos o que escrevemos no primeiro artigo destinado ao caso iuguslavo: essa transformação provavelmente tomará todo um período histórico de muitos séculos e será preenchida por formas e regimes transitórios entre o capitalismo e o socialismo, necessariamente desviados das formas ‘puras’ e das normas”.[17]

Atribuindo, assim, um caráter progressista e revolucionário ao stalinismo, Pablo usou sua posição na direção da internacional para acobertar os crimes do stalinismo – como no levante do proletariado na Alemanha Oriental em 1953 contra a burocracia stalinista ou na greve da Renault na França no mesmo ano, dirigida pelos trotskistas do PCI apesar do (e contra o) PCF.

Não queremos, ao condenar tais concepções de Pablo, afirmar que os acontecimentos políticos e conjunturais de uma época devem ser desprezados, pelo contrário. Queremos criticar a derivação de uma estratégia a partir dos fatos empíricos, às custas da concepção do Programa de Transição enquanto estratégia geral para um período histórico mundial, o período de transição da situação atual até a tomada do poder pelo proletariado globalmente. Os acontecimentos políticos da conjuntura mundial são fundamentais para se definir as táticas dos comunistas, mas não propriamente as estratégias, as quais são determinadas sobretudo 1) pelas condições objetivas de uma época histórica, ou seja, as relações materiais de produção globais (dado que o capitalismo é um sistema mundial), e 2) pelas formações econômicas regionais, ou seja, pelo modo específico com que a luta operária em torno da apropriação da mais-valia se articula à luta de demais classes ou setores de classes oprimidas. Trata-se de saber partir do que é objetivo e concreto do ponto de vista marxista[18]. As concepções abstratas que tomam por “concreto” e “objetivo” diversos “fatos”, “circunstâncias”, “acontecimentos”, conflitos entre “potências”; que analisam as supostas intenções, rachas e divergências da burguesia ou da burocracia, mas nunca propriamente a relação entre as classes posta historicamente em cada região, nem as formas de produção e de vida da classe operária, darão base ao “internacionalismo abstrato”, tão comum ainda na atuação de grande parte do trotskismo. Trata-se da redução do marxismo a mero jornalismo; de ignorar o que é o concreto e o objetivo para os marxistas; de uma submissão ao empirismo. O concreto, a forma específica de produção, é apagado pela ideologia burguesa de que a própria burguesia é o agente fundamental e a produtora das riquezas. Assim, assumindo-se o ponto de vista da burguesia sobre o mundo, tudo se torna abstrato. De outra forma, contrária, procede o internacionalismo trotskista, concebido enquanto aplicação internacional do Programa de Transição a partir das escalas móveis, ou seja, a partir do movimento operário, e combinando estas reivindicações socialistas com reivindicações democráticas de acordo com a situação objetiva de cada país (isto é, entre classes, postas objetivamente pelos diversos modos de produção que se cruzam em suas diferentes temporalidades numa determinada formação econômica nacional ou regional)[19]. Mas, se as teses de Pablo ganhavam corpo, isso se dava porque, como comentamos, a própria seção dirigente da IV Internacional, o SWP, estava desnorteada, paralisada, e se afastava do concreto conteúdo do Programa. Apagava-se assim a estratégia geral, lastreada no objetivo, nas condições de trabalho, na estrutura, e abria-se espaço para um “politicismo”, onde sempre a tática e a análise de superfície dos “fatos” é o que conta afinal[20]. O trotskismo sucumbe à lógica da “flexibilidade tática” do stalinismo (em tudo diferente daquela de Lenin).

Coube ao Partido Comunista Internacionalista, PCI, seção francesa da internacional, talvez pelo maior convívio e proximidade com Pablo (vez que o Secretariado Internacional instalou-se na França após sair dos EUA), o mérito de perceber antes de todos aonde conduziriam as “inovações” teóricas desenvolvidas pelo “Secretário-Geral”. Em texto de junho de 1951 chamado “Aonde vai Pablo?”, Bleibtreu e Favre, dirigentes da maioria da seção francesa da IV Internacional, respondiam ao “Aonde Vamos?” de Pablo, evidenciando a necessária capitulação ao stalinismo que resultaria da lógica deste [21]. Logo no começo do texto afirmavam de forma clara e irônica:

“A Teoria dos ‘Blocos’ e ‘Campos’ faz sua aparição em nossa internacional.

‘A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes’, pode-se ler no ultrapassado Manifesto Comunista.

É preciso estar à altura da nova situação e admitir com Pablo, sem hesitação, que:

‘Para o nosso movimento a realidade social objetiva consiste essencialmente no regime capitalista e no mundo stalinista [Boletim Informativo Internacional, março de 1951, ‘Aonde Vamos?’, p. 2, ênfase nosso.]

Enxugue suas lágrimas e preste atenção: a essência mesma da realidade social é dada pelo regime capitalista (!) e pelo mundo (?) stalinista (!).

Pensávamos que a realidade social consistia na contradição entre as classes fundamentais: o proletariado e a burguesia. Claramente um erro, pois agora o regime capitalista, abarcando essas duas classes, torna-se uma totalidade contraposta… ao mundo stalinista.

O termo ‘mundo’ é bastante obscuro, pode-se dizer; mas oferece algumas conveniências, pois permite classificar estados e formações sociais de acordo com o critério supremo: sua ‘natureza’ stalinista ou não stalinista.”

Esse forte e claro texto de crítica, entretanto, foi boicotado de forma burocrática pelo Secretariado Internacional, particularmente por Ernest Mandel, e não enviado às demais seções da IV Internacional.

A demora em entender o significado do pablismo

Nas demais seções da IV Internacional pouca ou nenhuma crítica era realizada até então contra as concepções revisionistas desenvolvidas por Pablo ou contra as teses aprovadas no III Congresso. Pablo ainda gozava de grande respaldo. Comprova-o o fato de que, diante da tensão crescente entre a maioria da seção francesa e o Secretariado Internacional, e diante da negação da seção francesa em realizar entrismo no Partido Comunista Francês, o Secretariado Internacional resolveu expulsar a maioria da seção francesa e obteve fácil apoio de dirigentes de outras seções, contando com o voto de Gerry Healy e a anuência de James Cannon[22]. Pablo avançava internacionalmente com seus métodos burocráticos.

Em 29 de maio de 1952, Cannon, ainda sem se dar conta do que se passava, respondia carta de dirigente da maioria da seção francesa (que pedia para que ele interviesse contra Pablo) da seguinte maneira:

“Julgamos a política da direção internacional pela linha que ela elabora em seus documentos oficiais – no recente período, nos documentos do Terceiro Congresso Mundial e da Décima Plenária. Não vemos nenhum revisionismo neles. O que vemos é a elucidação da evolução do stalinismo no pós-guerra e um esboço de novas táticas para combatê-lo de forma mais eficiente. Consideramos tais documentos completamente trotskistas. São diferentes dos documentos anteriores do nosso movimento não em princípio ou no método, mas apenas no confronto e na análise da nova realidade e na adequação tática a ela. Penso que a direção do SWP é unânime em considerar que os autores desses documentos renderam um grande serviço ao movimento, e portanto merecem apreciação e apoio fraterno, não desconfiança e difamação.” [23]

Cannon e demais dirigentes não viam nas teses do III Congresso contradição com o Programa de Transição, pois viam nelas apenas resoluções táticas – e, no âmbito tático, não aparentavam ter grandes divergências com Pablo, discordavam apenas a respeito de onde fazer entrismo e com qual profundidade. A anuência com os métodos de Pablo é, até certo ponto, compreensível, afinal, o próprio Trotsky defendera entrismo como possibilidade tática para crescimento partidário [24]. Assim, Cannon e os demais dirigentes não perceberam inicialmente o caráter geral da dissolução da estratégica por trás das novas teorias desenvolvidas por Pablo. Cannon só o percebeu em meados de 1953, quando o problema chegou seriamente em seu partido; quando soube que Pablo secretamente articulava e apoiava a fração de Cochran e Clarke dentro do SWP, contra a qual ele próprio, Cannon, lutava desde 1951. De sua parte, Healy compreendeu também tarde: apenas quando o Secretariado Internacional começou a pressionar para que a seção inglesa entrasse no fraco Partido Comunista Britânico é que começaram as divergências. Healy colocou-se contra; foi advertido pela direção internacional e viu formar-se contra si uma fração minoritária fiel a Pablo, dirigida por John Lawrence, a favor do entrismo [25].

Ainda que relativamente tarde, Cannon compreenderá o real caráter do pablismo, enquanto dissolução da estratégia geral do programa trotskista e submissão à tática vazia. Na famosa (dentro do movimento trotskista) “Carta de Cannon”, de 16 de novembro de 1953, Cannon, ao enumerar as características do cochranismo, aliado do pablismo nos EUA, afirmará conter nesse movimento justamente

“Uma tendência a afastar do partido aquilo que deve ser nosso principal campo de luta na América, os trabalhadores politicamente adormecidos das grandes indústrias. Os cochranistas, de fato, eliminaram de seu programa as palavras de ordem e reivindicações transitórias – as quais o SWP tem usado como ponte a esses trabalhadores – e argumentam, ainda, que a maioria que permanece nesse caminho está se adaptando ao atraso dos trabalhadores.” [26]

A “Carta de Cannon” será a carta de ruptura do trotskismo ortodoxo com o ecletismo pablista, com o marxismo vulgar que concebe o programa de forma abstrata (derivando suas concepções do stalinismo). Essa será a primeira ruptura séria do trotskismo. Entretanto, como veremos, em menos de dez anos os próprios motivos da ruptura serão apagados. Cannon, já bastante velho, se afastará da direção do SWP e o novo setor que ascenderá se reconciliará com o pablismo. Será o golpe definitivo no Programa de Transição.

Finalizamos aqui a segunda parte deste artigo. A terceira, a ser publicada na próxima semana, analisará o resultado, dentro da IV Internacional, do afastamento do Programa: as frágeis e muitas vezes sem sentido divisões decorrentes do internacionalismo concebido de forma abstrata.

NOTAS:

[1]. Sobre a aparição das escalas móveis antes de 1938, pequenos apontamentos: Felix Morrow, em boletim interno do SWP em 1946 (acessível em <https://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v08n11-1946-ib.pdf>), justamente argumentando contra o Programa de Transição, aponta que Trotsky comentou pela primeira vez a escala móvel de salário no texto Europa e América, de 1924, para criticá-la por ser a reivindicação da reformista e conciliadora AFL (American Federation of Labour). Na verdade, nesse texto Trotsky comenta de passagem a escala móvel de salário, e ela possui outra característica (pois vinculada à produtividade). Pode ser acessado em: <http://www.marxists.org/archive/trotsky/1926/02/europe.htm>. O grupo recém-dissolvido Permanent Revolution comenta em seu site que a escala móvel de salários foi introduzida pela primeira vez pelos comunistas alemães em 1923 na conjuntura de hiperinflação alemã. Quanto à escala móvel de horas de trabalho, comenta também que, ainda que não com esse nome, pode ser encontrada no período saudável (ou seja, até 1924) da Terceira Internacional e, particularmente, da Internacional Sindical Vermelha (dirigida por Lozovsky, militante que tivera relações com Trotsky na década de 1910 mas posicionou-se de forma esquerdista e capitulou a Stalin). Cf. “The Transitional Programme fifty years on – pt 2”, disponível em <http://www.permanentrevolution.net/entry/975>.

[2]. “Uma das principais” pois, não devemos esquecer jamais, a “seção mais importante”, de acordo com as palavras de Trotsky pouco antes da guerra, era a própria seção soviética, que contava com milhares de membros em absoluta clandestinidade, e estava sob perseguição permanente por parte dos stalinistas. Sobre isso, cf. BROUÉ, P. Les trotskystes en Union Soviétique (1929-1938), em <https://www.marxists.org/francais/broue/works/1980/00/broue_19800000.htm>

[3]. “Discussão dos membros do SWP com Crux (Trotsky) sobre o Programa de Transição”, op. cit., p. 91.

[4]. Principais resoluções acessíveis em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/12thconvention/05.htm>, <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/12thconvention/03.htm>. Parte da burocracia sindical dos EUA, particularmente aquela dirigida por Reuther, era considerada progressista e defendia “aumento salarial sem aumento dos preços”.

[5]. Particularmente “Wages and Prices”, de Vicent Grey no boletim número 11, volume VIII, de outubro de 1946, acessível em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v08n11-1946-ib.pdf>.

[6]. Disponíveis em: <http://www.marxists.org/history/etol/newspape/themilitant/>

[7]. Cf. edição de 31 de maio de 1948: <http://www.marxists.org/history/etol/newspape/themilitant/1948/v12n22-may-31-1948.pdf>, ou, ainda, balanço na página 2 da edição de 14 de julho do mesmo ano: <http://www.marxists.org/history/etol/newspape/themilitant/1948/v12n24-jun-14-1948.pdf>

[8]. NORTH, D. The Heritage We Defend. Labor Publications: Detroit. 1988, p. 200.

[9]. Período particularmente marcado pelas fantásticas “Theses on the American Revolution”, de J. P. Cannon.

[10]. A caracterização detalhada que Cannon faz de Cochran pode ser encontrada em “The components of Cochranism”. Boletim Interno do SWP vol. 15, n. 12, maio de 1953, p. 17. Acesso em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v15n12-1953-ib.pdf>. Também pode ser encontrada, resumidamente, na “Carta de Cannon”: “Uma carta aberta aos trotskistas do mundo inteiro”. Revista Maisvalia n. 3. Ed. Tykhe: São Paulo. Ago.-set. 2008, p. 51.

[11]. “The struggle in the New York Local”, Boletim Interno do SWP vol. 15, n. 2, fevereiro de 1953, p. 7. Acesso em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v15n02-1953-ib.pdf>. O grifo é de Bartell. O mesmo argumento aparece bem desenvolvido em: “The New York Local – Report and Tasks”, Boletim Interno do SWP vol. 15, n. 1, fevereiro de 1953, p. 2. Disponível em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v15n01-1953-ib.pdf>.

[12]. NORTH, D. Op. Cit., p. 205. North comenta também, seguindo Gerry Healy, que já nessa época as esferas dirigentes do SWP estavam infiltrados por membros da CIA. Cf. p. 247 dessa mesma obra. Há dois volumes de livro sobre isso, The Gelfand Case, acessíveis digitalmente na internet.

[13]. Cannon comenta isso de passagem na sua “Carta aberta” de 1953. Op. Cit., p. 48.

[14]. Cabe lembrar aqui, sobretudo, Leon Sedov, Rudolf Klement, Marcel Hic, Paul Widelin, Marc Bourbis, Pierre Gueguen e Jules Joffre.

[15]. Pablo assumiu a direção do Bureau Europeu por ser um militante relativamente mais velho e mais experiente. Esteve presente no congresso de fundação da IV Internacional em 1938, representando a seção grega, depois fora preso pela ditadura de Metaxas na Grécia; tendo escapado à prisão, retornou à França e desempenhou importante papel organizativo reagrupando setores e militantes dispersos pela guerra. Entretanto, aos poucos, começou a desenvolver posições cada vez mais duvidosas e atitudes burocráticas no controle do trabalho europeu.

[16]. MARIE, JJ. Os quinze primeiros anos IV Internacional. Editora Palavra: São Paulo, 1982, p. 132.

[17]. “Where ar we going?” (“Aonde Vamos?”), disponível em: <https://www.marxists.org/archive/pablo/1951/01/where.html> .

[18]. Nas discussões para a elaboração do Programa de Transição, afirmava Trotsky: “O que entendemos por uma situação objetiva? Aqui, devemos analisar as condições objetivas da revolução social. Tais condições estão dadas nas obras de Marx e Engels e permanecem em essência as mesmas ainda hoje”. “Completing the program and putting it to work”, in: TROTSKY, Leon. The Transitional Program for Socialist Revolution. Op. Cit., pp. 214-15.

[19]. Essa é, como se sabe, a perspectiva da revolução permanente mundial. A rigor, sem as escalas móveis, que são o núcleo socialista da estratégia da revolução permanente, a própria revolução permanente em escala internacional fica comprometida. Não à toa, mais uma vez, ao abandonar o Programa de Transição boa parte dos trotskismo sucumbe ao programa democrático-burguês e, no mesmo processo, abandona a teoria da revolução permanente.

[20]. Essa será a essência de todas as tentativas de atualização do Programa de Transição pelo próprio trotskismo, diante do impacto de revoluções dirigidas por setores pequeno-burgueses. Ao afastar-se o trotskismo da classe operária e adaptar-se à pequena-burguesia, a própria concepção de programa enquanto lastreado nas condições de produção é abandonada e, por tabela, também a teoria da revolução permanente. Com esse afastamento da política da classe operária o programa derivará praticamente apenas dos fatos da conjuntura mundial, da superestrutura, dos conflitos militares, mas nunca propriamente das condições de trabalho onde aquela determinada seção está realmente inserida. Em alguns casos isso é gritante, como nas Teses para atualização do Programa de Transição (de 1980) de Nahuel Moreno. A rigor, Moreno não atualiza nada nesse documento, pois demonstra nem mesmo saber o que está atualizando; não entende o material sobre o qual trabalha; seu documento nem mesmo dialoga lógica ou conceitualmente com o texto de Trotsky. Nesse texto de Moreno o marxismo já é puro impressionismo e politicismo, pura tática vazia, com base no método inaugurado por Pablo, método que Moreno herdou particularmente da direção do SWP norte-americano no início da década de 1960, graças ao impressionismo pós-revolução cubana. Essa embasamento, por parte de Moreno, em métodos e lógicas estranhos ao da classe operária já transparecia em março de 1962, quando o dirigente argentino afirmava que “A revolução cubana confirmou em nosso continente algo que já havia sido demonstrado pelas revoluções asiáticas: o dogma de que a única classe que pode cumprir as tarefas democráticas é a classe operária é falso. Setores da classe média urbana e o campesinato são, em ocasiões, os chefes revolucionários” (cf. “La Revolucion Latinoamericana”, edições PO, mimeografado, p. 43). Junto com a direção do SWP do início da década de 1960 (particularmente J. Hansen), Moreno afastava-se literal e deliberadamente da teoria da revolução permanente na exata medida em que dava protagonismo a outras classes que não à operária. Tais posições de Moreno levaram-no às aventuras guerrilheiras destrutivas com o ERP de Santucho, até um limite perigoso em que o próprio Moreno foi obrigado a mudar de linha. A internacional trotskista pablista (secretariado unificado), dirigida então pelo grupo europeu de Ernest Mandel, Daniel Bensaïd, Alain Krivine e Livio Maitain, afastou-se então de Moreno e deu sustentação às aventuras inconsequentes de Santucho, levando ao limite do absurdo e do oportunismo o afastamento do Programa.

[21]. Disponível em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/fi/1950-1953/ic-issplit/04.htm>. Bleibtreu e Favre são, possivelmente, os codinomes de Marcel Bleibtreu e Pierre Lambert, dirigentes da maioria do PCI, em oposição a Pierre Frank, dirigente da minoria, subserviente a Pablo.

[22]. Cf. NORTH, D. Gerry Healy and his place in the History of the Fourth International. Labor Publications: Detroit, 1991, p. 20. Cf. ainda o capítulo 2 de “The Death Agony of Trotskyism”, disponível em: <http://www.permanentrevolution.net/entry/371>.

[23]. Cartas trocadas entre Daniel Renard e James Cannon. Acessíveis em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/fi/1950-1953/ic-issplit/05.htm>. Ainda no final de 1952, em outubro, em carta a Farrell Dobbs, Cannon defendia as resoluções do III congresso. Segundo ele, as suas próprias “Teses sobre a Revolução Americana”, de 1946, eram reforçadas pelas teses do III Congresso redigidas por Pablo. Dizia Cannon: “As teses se sustentam por si mesmas; são parte essencial de uma orientação mais completa e foram fortalecidas pela Resolução do Terceiro Congresso. Comprometo-me a escrever sobre isso separadamente”. Texto 4 do Boletim Interno do SWP, vol. 15, n. 12, de maio de 1953, p. 11. Acessível em: <http://www.marxists.org/history/etol/document/swp-us/idb/swp-1946-59/v15n12-1953-ib.pdf>.

[24]. Além do famoso caso francês na década de 1930, Trotsky defenderá entrismo nos EUA. Em discussão com membros do SWP em 23 de março de 1938 afirmará: “(…) nosso trabalho mais importante agora é o PC [Partido Comunista dos EUA], penetrar mesmo no Bureau [político]”, cf. “A summary of transitional demands”, in: TROTSKY, Leon. The Transitional Program for Socialist Revolution.Op. Cit., p. 129. No mesmo sentido, fazendo autocrítica anos mais tarde, Pierre Lambert afirmará sobre o pós-guerra: “(…) não havíamos compreendido que a primeira etapa da radicalização das massas nesse período revolucionário passava obrigatoriamente e necessariamente pelas grandes organizações”. cf. MARIE, JJ. Le trotskysme et les trotskystes. Op. Cit., p. 107. Gerry Healy realizará um bem sucedido entrismo no trabalhismo inglês, onde cooptará praticamente toda a juventude do Partido Trabalhista.

[25]. NORTH, D. Gerry Healy and his place in the History of the Fourth International. Op. Cit, p. 24. John Lawrence em pouco tempo se aproximará do stalinismo e condenará todo o trotskismo, afirmando levar às últimas consequências as teorias de Pablo.

[26]. CANNON, JP. “Uma carta aberta aos trotskistas do mundo inteiro”. Op. Cit., p. 52.

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