Absurda foi a posição da CUT na organização do ato do dia 1º de maio em São Paulo.
A condição de participar no ato era não agitar qualquer faixa ou bandeira contra o governo Dilma e os partidos da base aliada, impondo como eixo a linha petista da denúncia de um suposto golpe, a defesa da reforma política, da Petrobras e dos direitos dos trabalhadores.
Igualmente absurda foi a forma como Lula se manifestou, tentando aparecer como suposta oposição ao Ministro Levy e pressionando Dilma a revogar o Projeto de Lei da terceirização. Lula parece pensar que a capacidade de memória do povo brasileiro não resiste a mais de quatro anos. Quem não lembra que foi Lula o principal articulador para aprovar, no interior do PT, o nome de Dilma como sua sucessora? Agora, diante do extremo desgaste da presidente, Lula tenta se desligar de sua candidata.
O oportunismo de Lula é evidente. Como, afinal, separá-lo do Petrolão se Dilma era presidente do Conselho da empresa à época de seu mandato? A prática de abandonar os camaradas em crise, aliás, não é inédita, se considerarmos a trajetória mais recente de Lula. O mesmo ele fez com José Dirceu, Delúbio, e todos os envolvidos no mensalão, como se nada soubesse. Agora, já sentindo o aroma do poder que emana das eleições de 2018, Lula não vacila em incluir Dilma na fritura.
As contradições entre Lula e o governo expressam apenas a ponta do iceberg da crise interna do PT. Dirigentes históricos se manifestaram nessa semana criticando a trajetória do partido. Tarso Genro, por exemplo, afirmou que “ou o PT está no fim ou em um novo recomeço”. Marta Suplicy, mais cética quanto ao futuro do PT, não vê qualquer possibilidade de recomeço, o que a levou a romper com o partido: “eu sou mais uma entre as pessoas que se decepcionaram com o PT e não enxergam a possibilidade de o partido retomar sua essência”, afirmou a senadora.
Se setores da própria cúpula do PT não conseguem ocultar o mal-estar diante da roubalheira generalizada exposta pela operação Lava Jato da Polícia Federal, é possível imaginar o que passa pela mente dos trabalhadores comuns. Aquela imagem do PT como representante da classe trabalhadora está se dissolvendo. O PT é identificado por um número cada vez maior de trabalhadores como um partido similar aos outros partidos tradicionais da política brasileira.
Se o PT está se desmoralizando frente à classe trabalhadora, o mesmo ocorre com seu braço sindical. Sindicatos ligados à CUT vêm recorrentemente sendo atropelados pela base em assembleias onde pretendem cumprir o papel usual de correia de transmissão dos interesses das empresas. Evidentemente, os sindicatos ligados a outras centrais pelegas, como a Força Sindical, por exemplo, também enfrentam esse processo de desgaste.
É certo que em situações particulares e momentâneas, como a luta defensiva contra o Projeto de Lei 4330 (da terceirização) e as Medidas Provisórias 664 e 665 (que ataca o abono salarial, o seguro-desemprego, o auxílio-doença, etc.) é preciso saber fazer frente única; unir todas as forças, inclusive com aquelas organizações degeneradas (como foi feito no Rio de Janeiro nesse 1º de maio), onde, corretamente, na via da pressão, a Conlutas conseguiu estabelecer um primeiro de maio unitário com a CUT, sem característica de apoio ao governo. Afinal, como afirmou Lenin, para combater um inimigo comum podemos fazer aliança até mesmo com o diabo.
No entanto, a esquerda pode aproveitar a desmoralização do PT e das centrais que representam um bloqueio à auto-organização dos trabalhadores para ocupar esse espaço. Nesse sentido, para além defesa aos ataques do Estado burguês, é possível construir uma frente única contra os ataques diretos do capital, ataques como o arrocho salarial e as demissões, ambos cada vez mais presentes no cotidiano dos trabalhadores.
A atual conjuntura reúne, por um lado, como polo econômico das contradições da luta de classes, o retorno da inflação e das demissões em massa e, por outro, como sua manifestação política, a fragilização das organizações tradicionais e conservadoras do proletariado.
Para aproveitar essa conjuntura favorável, aproveitando a fissuras abertas pelas contradições postas objetivamente, a esquerda pode levantar bandeiras de uma qualidade superior, numa frente única proletária, bandeiras que unifiquem todos aqueles que trabalham, bandeiras que tratem do aqui e do agora e, sobretudo, bandeiras que oportunista algum será capaz de encampar, por serem bandeiras que dividem o programa marxista dos programas democrático-burgueses reformistas.
Mais do que nunca é hora de voltar todos os esforços para as portas das fábricas, seguindo a indicação de Marx: “abandonemos essa instância barulhenta da circulação para entrar no local oculto da produção”. Mais do que nunca é hora dos combatentes revolucionários se unirem nas portas das fábricas para construir uma frente única operária, um movimento de massas em defesa dos empregos e dos salários. Somente assim os operários deixarão para traz, definitivamente, os oportunistas de todos os matizes.
DEMISSÃO ZERO!
PERDA SALARIAL ZERO!