Nesta sexta-feira, dia 9 de janeiro, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram em diversas capitais no país contra o aumento dos preços das passagens de ônibus, reacendendo o movimento que originou as manifestações de julho de 2013, quando milhões de pessoas saíram às ruas durante semanas seguidas em centenas de cidades brasileiras, colocando em xeque os governos burgueses, em especial o governo Dilma, cujo nível de aprovação despencou para cerca de 30%.
Naquela época o fato que transformou um movimento de milhares num movimento de milhões foi a brutal violência desferida pelo governo Alckmin contra manifestantes e, sobretudo, contra jornalistas que trabalhavam na cobertura dos atos. Considerada inaceitável, a violência posta em prática pelo governo paulista serviu de estopim de um movimento de massas que ganhou uma dimensão inédita no Brasil, um movimento que tornou-se, em diversas metrópoles, um campo de luta aberta entre as forças de esquerda, de direita e de extrema-direita. Durante algumas semanas, a luta de classes se expressou abertamente nas avenidas brasileiras.
Por terem a mesma motivação original daquelas ocorridas há um ano e meio, as atuais manifestações nos fazem lembrar, inevitavelmente, as grandes manifestações de julho. As atuais manifestações nos fazem também perguntar se serão novamente capazes de desencadear grandes manifestações de massa em todo o país, como aquelas de 2013. Terão elas a mesma potencialidade?
Na manifestação do dia 9 em São Paulo o governo já demonstrou a mesma truculência habitual, reprimindo e prendendo manifestantes. Tudo, portanto, é possível. Isso porque o novo aumento dos preços das passagens recoloca na ordem do dia uma das contradições econômicas fundamentais da luta de classes, a permanente corrosão dos salários pela inflação, um processo que já vem sendo percebido pelos trabalhadores nos preços de outras mercadorias, como os alimentos, a moradia, etc.
Todos esses aumentos, incluindo o aumento do preço da passagem, empobrecem de maneira acelerada e cotidiana os trabalhadores. Com salários não reajustados, os trabalhadores são forçados reduzir seu nível de vida. Essa multiplicidade caótica de aumentos poderia conduzir os trabalhadores a uma política de controle dos preços: luta contra o aumento das passagens, da carne, do feijão, etc., o que seria um completo absurdo, uma política lançada, aliás, no governo José Sarney na década de 1980. A proposta de controle dos preços tornaria a classe trabalhadora refém dos aumentos dos preços. Sua luta seria o mesmo que um reboque, sem motor próprio, reagindo a um aumento aqui, outro acolá.
O desafio das atuais manifestações é lançar uma palavra de ordem capaz de defender os salários de todo e qualquer aumento de preço. O desafio atual é utilizar a particularidade do aumento do preço da passagem como ponto de partida, transformando a luta pela revogação do aumento da passagem numa luta pela defesa dos salários contra todo aumento de preço. Os trabalhadores não podem aceitar que seus salários sejam corroídos pelo aumento do preço da passagem, assim como não podem aceitar que sejam corroídos pelo aumento do preço de qualquer mercadoria indispensável à sua sobrevivência e de sua família.
A única forma de defender os salários contra o aumento dos preços é reajustando-os mensalmente de acordo com esses aumentos. Não se trata de controlar os preços de toda uma infinidade de mercadorias; trata-se de algo muito mais simples: manter o preço de uma única mercadoria, a única mercadoria que restou para o trabalhador vender, isto é, trata-se de manter o preço da força de trabalho. Em outras palavras, trata-se de manter o valor real do salário por meio da indexação deste aos preços das mercadorias, por meio do reajuste mensal dos salários.
Essa perspectiva simples e comum a todos os trabalhadores assalariados tende a ampliar o próprio campo da luta, mantendo-a nas ruas e conduzindo-a, ao mesmo tempo, aos locais de trabalho. Nesse sentido, as atuais manifestações de rua, herdeiras legítimas de julho de 2013, poderão representar o sinal de um movimento pelo fim definitivo das perdas salariais causadas pela inflação, um movimento pelo fim da sangria que empobrece, dia após dia, a classe trabalhadora.
TODOS AO ATO NA SEXTA, DIA 16, ÀS 17 HS, NA PRAÇA DO CICLISTA (AV. PAULISTA, PRÓX. METRÔ CONSOLAÇÃO)