Nesta semana os contornos da crise econômica no país se fizeram mais nítidos. A GM de São José dos Campos anunciou a demissão de quase 800 trabalhadores, enquanto a Ford do ABC anunciou o afastamento de 420. No ramo da construção civil espera-se mais de 7 mil demissões como consequência da operação Lava-Jato da Polícia Federal sobre a Petrobras e as principais empreiteiras do país. Quando os cintos apertam, a burguesia não hesita em passar a conta para a classe trabalhadora. Neste momento de incertezas, qual programa de ação a se seguir? Reproduzimos aqui carta enviada ao nosso site por um companheiro trabalhador que analisa a situação da GM em São José dos Campos, questiona algumas propostas feitas até agora pelo sindicato e propõe um outro caminho.
“CARTA AOS TRABALHADORES DA GM
Companheiros,
Recebemos com grande pesar a notícia de que a GM quer novamente demitir mais 798 companheiros, neste sentido saudamos a decisão da direção do sindicato de decretar a greve contra tal ataque: “A greve é nossa única forma de impedir uma demissão em massa na GM. Queremos convocar todas as centrais sindicais do país a se unirem aos trabalhadores daqui para lutar contra esse plano absurdo da montadora. Nós já havíamos dado o recado para a empresa, de que se houvesse demissão, haveria greve. Agora, só retornaremos ao trabalho quando nossas reivindicações forem atendidas”, afirmou Macapá, presidente do sindicato.
Essa medida de luta, por si só, mostra a importância de um sindicato mais combativo. A greve coincide com a eleição para o sindicato, na qual é importante rechaçar e derrotar os burocratas da chapa 2, a chapa branca governista, queridinha dos patrões. Mas ainda que apoiando a chapa 1, criticamos o programa que ela apresenta hoje para este processo de luta da categoria.
MEDIDA PROVISÓRIA OU REIVINDICAÇÃO TRANSITÓRIA?
O que nos preocupa é o fato de os companheiros do sindicato insistirem no chamado que fazem há anos aos presidentes da república de plantão, com a suposta finalidade de desmascará-los frente aos demais companheiros, mas que não tem surtido efeito no sentido de desfazer as demissões. Insistindo nesta tática, comentam: “O sindicato vai reforçar, junto ao governo federal, a reivindicação de que a presidente Dilma Rousseff (PT) edite uma medida provisória garantindo estabilidade no emprego para todos os trabalhadores de empresas que recebem incentivos fiscais, como é o caso das montadoras. Em 2014, o setor automotivo fechou 12 mil postos de trabalho no país, apesar de todos os benefícios recebidos do governo”. E segue Luiz Carlos Prates, o Mancha, secretário-geral do sindicato e membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas: “A presidente Dilma não pode se omitir diante de uma situação tão grave quanto esta. Nós exigimos estabilidade no emprego, já”.
ACREDITAR NA CANETA DE DILMA ROUSSEF OU EM NOSSAS PRÓPRIAS FORÇAS?
Temos de ter uma ferramenta própria para combater as demissões! Peço-lhes atenção e paciência para expô-la:
Segundo fontes do próprio sindicato, a planta da GM em São José dos Campos produz 300 veículos por dia dos modelos S10 e Trailblazer. A totalidade de funcionários dessa planta está em torno de 5.200 operários. Logo, a planta como um todo consome 208 mil horas de trabalho semanais, levando-se em conta estritamente a jornada legal de 40 horas semanais (5.200 x 40h = 208.000 horas de trabalho).
Segundo consta, a GM quer cortar 798 postos de trabalhos. Isto significaria 31.920 horas semanais cortadas (798 x 40h = 31.920). Portanto, se a GM conseguir o que quer, serão cortadas 31.920 horas de trabalho, no universo de 208.000 horas de trabalho, ou seja, restarão 176.080 horas de trabalho (208.000 – 31.920 = 176.080).
Para a direção da GM, tudo gira em torno da necessidade de reduzir o custo da produção, jogando nós, trabalhadores, uns contra os outros, promovendo uma alta rotatividade da mão de obra para baixar salários, ameaçando fechar esta ou aquela planta, e transferindo os empregos de um lugar para o outro. Para a GM, tudo gira torno da necessidade de nos pressionar através da redução ou aumento das horas de trabalho, arrancando sempre uma maior redução nos salários.
PARA OS TRABALHADORES É EXATAMENTE O CONTRÁRIO!
Para nós, trabalhadores, é quase o mesmo processo, mas do ponto de vista contrário. Para nós trata-se de reduzir as horas trabalhadas quando necessário, para evitar as demissões, mas sem redução dos salários. Se a GM quer cortar 31.920 horas de trabalho, que corte! Mas com uma condição: não aceitaremos NENHUMA DEMISÃO!
Isso significa que as 176.080 horas de trabalho restantes serão redistribuídas entre o mesmo número de trabalhadores de hoje, ou seja: 176.080 horas de trabalho divididas pelos mesmos 5.200 operários = 34 horas de trabalho semanais (arredondado). A jornada legal de trabalho em vez de 40h semanais, baixará para 34h semanais SEM REDUÇÃO DO SALÁRIO. Ou seja: a jornada semanal de trabalho ficaria até abaixo, neste momento, das 36h reivindicadas pelo sindicato. Não há porque tornar fixa a reivindicação da semana de trabalho (36h, por exemplo), pois ela pode variar de acordo com a necessidade da produção (sem nunca ultrapassar o teto atual).
Isto é um programa, um programa de ação, um programa para ser posto em prática, e tem nome: é a ESCALA MÓVEL DE HORAS DE TRABALHO, ou seja, a REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO SEM REDUÇÃO DO SALÁRIO! É o banco de horas do ponto de vista do trabalhador. É a reivindicação que se aplicada em todas as fábricas da GM impediria toda e qualquer demissão.
Nesse sentido, mais do que nunca essa deve ser a reivindicação de todos os trabalhadores da GM. Caso todos os operários da GM (São Caetano do Sul, São José dos Campos, Gravataí e Argentina) se unissem em torno deste programa, desta reivindicação, em torno da escala móvel das horas de trabalho, o que poderia fazer a direção da empresa? Como ela poderia fazer demissões em massa? Como poderia pressionar os trabalhadores? Como poderia ameaçar de fechar uma fábrica? Como poderia reduzir os salários?
Alguns chefetas, seduzidos pelo discurso do RH da empresa poderiam dizer em coro: “mas isso afeta o lucro, não tem como a GM atender a essa reivindicação!”. Ao que devemos responder: “só acreditaremos nisso se soubermos quantas horas de trabalho são necessárias à manutenção do nosso salário e quantas são apropriadas pela GM para compor o seu lucro. Se a GM não pode atender essa reivindicação, tem de demonstrar o por quê; EXIGIMOS A ABERTURA IMEDIATA DOS LIVROS CAIXA DA EMPRESA, a ser analisado por uma COMISSÃO ELEITA DEMOCRATICAMENTE, pelos próprios operários da empresa. Menos que isso é uma TRAIÇÃO, um complô contra os operários da empresa!”
SE ACOVARDAR OU LUTAR ATÉ O FIM?
Não devemos pedir “por favor”, para que a direção da empresa “encomende” um novo modelo na nossa fábrica! Nem pedir “por favor” para que nos garantam demissões voluntárias com certas vantagens financeiras! Menos ainda suplicar ao governo burguês do PT que nos salve com uma medida provisória! Quando escapamos hoje da miséria, amanhã acabou o dinheiro! Quando escapamos hoje do facão, amanhã estamos na rua! Se hoje escapamos, o outro companheiro não escapa!
GREVE ATÉ O FIM!
NENHUMA DEMISSÃO: REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO SEM REDUÇÃO DO SALÁRIO!
ABERTURA DOS LIVROS CAIXA DA GM!
TODO APOIO À GREVE DA GM!”