Transição Socialista

FHC e Lula: irmãos inimigos

Quando ouvimos a expressão “nunca antes na história desse país”, de quem nos lembramos? Quem se pronunciou dessa forma reiteradas vezes até torna-la uma das marcas registradas de seus discursos? Evidentemente, este é um chavão que tem a cara do Lula.

Não sem sagaz ironia Fernando Henrique Cardoso repetiu o chavão lulista na última terça-feira (19/05) durante o programa do PSDB, ao atacar os governos Lula e Dilma: “Os problemas que o Brasil está enfrentando não se originaram no governo da atual presidente. Eles se originaram no governo Lula, afirmou FHC. Ao referir-se aos 12 anos de governos petistas, FHC concluiu: “nunca antes nesse país se errou tanto nem se roubou tanto em nome de uma causa”.

Já no dia seguinte Lula procurou defender seu partido. Sem a mínima condição de negar a existência da corrupção nos governos petistas, a diferença mais importante entre o PT e o PSDB encontrada por Lula foi que “nós não escondemos” a roubalheira “enquanto eles põem para baixo do tapete”.

Os argumentos de Lula podem ter sido um tanto indigestos para aqueles petistas que ainda se lembram da propaganda de seu partido nos idos de 1980 e 90. Naquela época a principal bandeira do PT era resgatar a “ética na política”. Depois de 12 anos de corrupção deslavada esse é mais um dos chavões petistas que se desmoralizou.

Talvez sem perceber, a defesa desesperada de Lula admite que seu partido rouba tanto quanto o tucanato. Além disso, ao afirmar que “roubamos, mas não escondemos” Lula aproxima o PT de um dos políticos brasileiros tido como uma espécie de “rei da corrupção”, cujo lema chegou a ser “rouba, mas faz”. Trata-se do famigerado Paulo Maluf. Depois dessa infeliz defesa lulista de uma suposta “corrupção transparente” (?), o lema das próximas campanhas do PT poderia muito bem seguir a de Maluf: “rouba, mas não esconde”.

As trapalhadas de Lula seriam cômicas, se não fossem trágicas.

Por trás da guerrinha de palavras entre PT e PSDB própria da “esfera ruidosa da circulação”, a classe trabalhadora brasileira enfrenta a duríssima vida real na “esfera oculta da produção”, para utilizar expressões de Marx, o rebaixamento dos salários diante da inflação crescente, as doenças provocadas pelo excesso de trabalho, uma verdadeira “patologia industrial”, chegando até à depressão profunda, levando ao suicídio, como no caso do operário do ABC paulista, além das demissões e da miséria. Somente no mês de abril, foram fechadas 97,8 mil vagas de trabalho no Brasil, pior resultado para o mês desde 1992!

Como afirmou Marx, os burgueses, que se comportam como “irmãos inimigos” nos momentos de crise, se unem “numa verdadeira maçonaria em confronto com o conjunto da classe trabalhadora” para extrair ao máximo a energia contida nos seus músculos, tendões e cérebros, transformando-a em mais-valia e lucro.

Os representantes políticos dos “irmãos inimigos” podem até se manifestar como “inimigos”. Cumprem, no entanto, o mesmo papel de “irmãos”. As últimas semanas foram esclarecedoras a esse respeito. De um lado, a oposição burguesa ao governo aprovou o Projeto de Lei 4330 no Congresso Nacional, que permitiu a terceirização nas atividades-fim e, de outro, o governo burguês emitiu as Medidas Provisórias 664 e 665, que retiraram direitos do seguro-desemprego, do abono salarial e do auxílio doença.

Como se não bastassem as péssimas condições atuais, o governo federal anunciou nesta sexta-feira (22/05) o corte de R$ 69,9 bilhões no seu orçamento, a maior contenção desde que o PT assumiu o Governo Federal, em 2003. Os setores de saúde e educação serão, mais uma vez, bastante afetados (reduções de R$ 11,8 e 9,4 bilhões, respectivamente).

O caráter burguês do pacote de Dilma se evidencia no elogio feito por Christine Lagarde, diretora-gerente o FMI (Fundo Monetário Internacional): “O Brasil está no caminho certo”, afirmou Lagarde. Quando um órgão conhecido por impor medidas anti-populares aos países elogia o governo de nosso país, há sinais de tempos muito difíceis. A única coisa que nos resta é nos organizarmos para nos defender dos ataques dos “irmãos inimigos”.