O dia 29/05, dia nacional de paralisações da classe trabalhadora contra os ajustes do governo e contra o projeto de lei da terceirização, foi importante para a conjuntura política do país, mas ainda assim menor, em tamanho e em impacto econômico, que o dia 15/04. Foi o ponto de baixa, ou o ponto final, de uma onda de politização que passou no país.
O fato de o dia 15/04 ter sido maior que o 29/05 comprova o caráter geral progressista da onda de politização contra o governo que passou nos meses de fevereiro e, sobretudo, março. Essa onda chegou em amplos setores da classe trabalhadora e influiu sobre os locais de trabalho, pressionando a burocracia sindical a se mexer tanto no dia 15/04 quanto agora, no dia 29. Passada a onda, baixaram também as movimentações nos locais de trabalho.
O dia 15/04, sobretudo, mas também o dia 29/05, foram similares àquele dia 11 de julho de 2013, marcado pelo movimento sindical como resposta às movimentações de junho de 2013. Na época, a burocracia sindical teve de se mexer para dar uma resposta à influência que o processo de luta superestrutural teve sobre os locais de trabalho da classe operária. Nas fábricas, só se falava de luta e da política nacional.
A cada onda que passa, a classe trabalhadora organizada se movimenta de forma um pouco mais ampla e independente, se desgarrando um pouco ou até mesmo atropelando as burocracias sindicais. Assim se abre o caminho para um novo sindicalismo (que já se expressa, mas localizadamente). Em determinado momento essa quantidade virará qualidade e a luta impulsionada por fatores políticos nacionais se tornará uma luta sindical e econômica poderosa da classe operária.
Não se deve desprezar de forma alguma, por isso, a luta superestrutural, uma vez que ela tem profunda influência sobre a luta estrutural. Tivesse a esquerda assumido uma política mais ousada na crise do governo Dilma há dois meses atrás (ou seja, tivesse a esquerda defendido a saída de Dilma, como hoje defende corretamente a saída de Beto Richa), possivelmente teríamos hoje um governo bem mais fragilizado, e maiores movimentações nos locais de trabalho. Estaríamos, assim, em melhores condições para barrar o ajuste e o PL. Paga-se, em geral, caro, pelas vacilações, erros de linha política e intervenção.
Criticar publicamente as grandes centrais é parte da Frente Única
Após o dia 15/04, tendo ficado claro que a conjuntura estava esfriando e a situação sob controle, as grandes centrais sindicais, aos poucos, enfraqueceram a organização do dia 29/05. A iniciativa da paralisação coube principalmente à CSP-Conlutas, com apoio restrito da Intersindical e demais centrais.
A política da Conlutas de chamado à Frente Única foi absolutamente correta. A tônica geral do dia 29, apesar do desmonte deliberado, foi contra as medidas do governo, o que fragilizou ainda mais a retórica das centrais governistas. A burocracia sindical foi colocada na contradição entre suas palavras e suas ações. Na exploração dessas contradições é que reside a dialética do marxismo revolucionário. O fato de as grandes centrais terem colocado pouca força no dia 29 é um prato cheio para os lutadores da Conlutas avançarem sobre as bases dessas centrais, pressionando e desmascarando seus dirigentes. Nesse sentido, é fundamental que a Conlutas saiba se alimentar desse prato cheio, ou seja: que saiba criticar as centrais, diante de suas bases, pelas poucas energias que mobilizaram. Fazer Frente Única não significa deixar de fazer críticas ou pressões públicas, pelo contrário, elas são condição para uma Frente Única verdadeira.
É muito importante, caso a conjuntura o permita, seguir com a política de pressão e Frente Única, de chamado por dias nacionais de paralisação, etc. Entretanto, a esquerda deve tomar cuidado, como analisamos em editorial recente, para não banalizar a palavra de ordem de “greve geral”. Os dias de paralisação estão sendo muito importantes para fazer a classe trabalhadora começar a se movimentar, e estão abrindo contradições dentro da burocracia sindical. Essa luta, aos poucos, desatará a outra luta, fundamental, estrutural, ou seja, a luta em defesa dos empregos e salários, luta que se contrapõe diretamente à crise econômica. Adiante, lutadores!