Nas últimas semanas, a greve nacional dos bancários e a dos professores do Rio de Janeiro vêm sendo amplamente noticiadas pelos principais jornais, seja pela dimensão e número de dias parados, seja pelo enfrentamento com a Polícia Militar durante os atos de rua.
No entanto, pouco ou simplesmente nada tem sido noticiado sobre a mobilização de uma categoria fundamental dos trabalhadores: a dos metalúrgicos. Para a imprensa oficial, é como se ela não existisse.
Mas, o fato é que, desde o começo do mês de setembro, os metalúrgicos estão mobilizados em campanha salarial. No dia 17, inclusive, sindicatos de trabalhadores metalúrgicos do Estado de São Paulo filiados a três centrais distintas (CSP-Conlutas, Intersindical e CUT, que, juntas, representam 360 mil operários do setor) decidiram, em reunião, unificar a mobilização pela campanha salarial e promover paralisações conjuntas. As reivindicações comuns foram:
Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários;
3. Retirada do Projeto de Lei 4330, que incentiva a terceirização.
Segundo levantamento da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT/SP (FEM-CUT/SP), no dia 18 de setembro cerca de 8 mil metalúrgicos de 21 empresas da base da Federação no ABC Paulista fizeram greves de 24 horas.
Na campanha organizada pela CUT, não estavam incluídas as montadoras, com as quais houve negociação em separado. No entanto, cabe ressaltar a expressiva participação de 7 mil operários da Mercedes-Benz em assembleia contra a ameaça de transferência da fábrica, de São Bernardo do Campo (SP) para Juiz de Fora (MG), e a paralisação total da produção na Scania durante quatro dias.
Nesse momento, a base da CUT no Estado de São Paulo quase conclui a campanha, diminuindo a intensidade das greves, cujos acordos são de 8% de aumento (que repõe 6,07% da inflação, medida pelo INPC, mais 1,82% de aumento real). Já na região de São José dos Campos (CSP-Conlutas), Campinas (Intersindical) e Limeira, os sindicatos continuam em campanha unificada, com pedido de 13,5% de aumento salarial.
Na região de SJC houve paralisações em seis fábricas no dia 26 de setembro. Os metalúrgicos da Embraer também atrasaram em um hora o início da produção na fábrica no dia 26. Na GM, houve greve de 24 horas na última terça-feira (1 de outubro). Operários da MWL, fabricante de rodas e eixos para o setor ferroviário, estão em greve e permanecem acampados em frente à fábrica desde o dia 20 de setembro. Eles já haviam feito uma greve de cinco dias em junho deste ano, quando arrancaram uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) doze vezes maior àquela proposta inicialmente pela empresa.
Na última quarta-feira, os metalúrgicos da Toyota de Sorocaba (SP) decididiram iniciar uma greve por aumento do piso salarial, reajuste no adicional noturno e fornecimento de vale-compra. A greve é por tempo indeterminado e a primeira na planta de Sorocaba, que foi inaugurada em agosto de 2012.
A base da Federação dos Metalúrgicos da Força Sindical, que reúne 800 mil operários no Estado de São Paulo, aguarda o desenrolar da campanha, cuja data-base é 1º de novembro. Enquanto isso, assembleias vêm sendo realizadas por toda a base. Os principais sindicatos filiados à Federação são os das cidades de São Paulo, Osasco, Guarulhos, Santo André e Mauá, São Caetano e Piracicaba.
No Estado de Minas Gerais, cerca de 250 mil metalúrgicos estão em campanha salarial. Já os metalúrgicos do Rio de Janeiro decidiram por unanimidade, no último dia 3, decretar o estado de greve da categoria.
Como se vê, os metalúrgicos estão unidos e mobilizados em torno de seus interesses comuns. Por que, afinal, a imprensa burguesa oculta essas lutas? Por que finge não existir as greves dos metalúrgicos?
Em primeiro lugar porque, para a burguesia, não é nada interessante fazer saber que um setor vinculado diretamente à produção da mais-valia está se movimentando. Em segundo lugar, porque foram os metalúrgicos os principais responsáveis pelos levantes no período de decadência da ditadura militar, nos anos 70-80, levantes apropriados por setores centristas que desviaram aquele radical processo de lutas para a via eleitoral, por intermédio da construção do PT e da CUT. Todos sabem a trágica trajetória dessas organizações, responsáveis por amortecer, pouco a pouco, derrota após derrota, o espírito de luta dos metalúrgicos e de toda a classe trabalhadora, para, finalmente, depois de alcançado o ápice de seu projeto eleitoral, a presidência da República, desvelar abertamente seu caráter burguês, corrupto e traidor.
Diante disso, fica evidente que um novo levante operário, no mesmo setor que criou o personagem de Lula, um novo levante operário associado aos levantes de massa de junho, poderá representar o sinal decisivo para a abertura de um novo ciclo histórico, um ciclo sem a ilusão eleitoral-burguesa, um ciclo alicerçado na construção de uma dualidade de poder, na qual a classe trabalhadora brasileira, bloqueada por mais de três décadas, poderá realizar sua própria emancipação e, consequentemente, abrir o caminho para a libertação de toda a humanidade em relação à barbárie capitalista já em curso.