Após as grandes manifestações de junho de 2013 ficou evidente para os trabalhadores algo que antes era apenas pressentido: a atual forma de dominação política da burguesia no Brasil esgotou-se.
O MNN anunciou isso em 2005, pouco após o escândalo do “mensalão” petista. O que ruía com o mensalão era não apenas a carreira política de alguns capas pretas do PT, mas a ilusão que amplos setores da classe trabalhadora tinham nesse partido. Na verdade, mais profundamente, com a ruína do PT ruía uma forma política específica de dominação da burguesia, um ciclo de dominação da burguesia iniciado com a saída dos militares.
Após anos de fria transição democrática e anos cuja presidência esteve na mão de figuras das oligarquias corruptas do norte e nordeste vinculadas à ditadura militar (como Sarney e Collor de Melo) – anos de instabilidade econômica e política, greves e manifestações –, a burguesia viu-se forçada a gastar outras cartas para a manutenção do atual ciclo democrático-burguês no Brasil. Apoiou, então, o aparentemente mais consistente (do ponto de vista programático burguês) Fernando Henrique Cardoso e, por fim, falido o projeto tucano, Lula e seu partido.
Mas Lula e o PT foram mais que coadjuvantes nas três décadas desse ciclo democrático-burguês pós-Ditadura Militar, justamente porque neutralizaram os setores mais dinâmicos da classe trabalhadora, sobretudo o operariado, canalizando suas lutas para vias não contraditórias com o capital.
É por isso tudo que hoje, com a falência do PT, a última cartada da burguesia neste ciclo de dominação, um grande vazio político surge. São diversos os analistas que o reconhecem – em geral para alertar à burguesia.
Entre 2005 e 2013, como todos puderam sentir, os ares da conjuntura brasileira tangenciaram a cada dia mais o absurdo; o desgaste e o descrédito com o sistema político cresceram rapidamente (vide aumento dos votos nulos), mas, incompreensivelmente, não estouraram em revolta. Até um pequeno fato em junho de 2013 desencadear gigantescas mobilizações, as maiores deste ciclo de dominação.
Quando uma forma específica de dominação da burguesia esgota-se ela não consegue, rapidamente, formular outra, pois não se trata de uma questão de vontade. Constatar o problema, evidentemente, é tarefa mais fácil que resolvê-lo. Forjar outra forma de dominação passa necessariamente pelo movimento de placas tectônicas da política, ou seja, por grandes e importantes processos de luta de classes.
Mas o esgotamento do ciclo de dominação da burguesia abre condições para o proletariado. Um dos elementos de uma conjuntura revolucionária – segundo a clássica caracterização de Lenin – é a incapacidade da burguesia dominar como antes. O outro é a não aceitação, por parte do proletariado, da antiga dominação. Temos há anos o primeiro elemento no Brasil. Desde 2013, começou a entrar em cena o segundo. Os próximos anos serão de crescente tensão e luta entre as classes. Nesse contexto, a avenida não só se abre para a construção de uma alternativa revolucionária, como é a mais favorável das últimas décadas.
À luta, companheiros!