A manifestação contra a Copa no último dia 25 em São Paulo mostrou mais uma atuação exemplar da Polícia Militar paulista.
Manifestantes acuados num hotel, sem oferecer qualquer resistência, deitados no chão, receberam pontapés e balas de borracha atiradas à queima-roupa – um estudante da Unifesp teve traumatismo no maxilar e três dentes quebrados. Em um vídeo, um fotógrafo é estapeado gratuitamente por um PM, enquanto o cinegrafista que registra a cena é ameaçado por outro oficial. Outro vídeo, feito da janela de um prédio, mostra um PM lançando sua moto contra uma manifestante, já cercada por motos e viaturas, que se esforçava para levantar após ser agredida. No caso mais grave, um manifestante que segundo a versão da polícia ameaçou três policiais com um estilete (!) tomou dois tiros e quase perdeu a vida.
Temendo um novo 13 de junho de 2013 – quando o repúdio à ação da PM multiplicou por mil o número de participantes nos atos contra o aumento da passagem – inúmeros comentaristas burgueses atacaram os ‘excessos’ da polícia, o ‘despreparo’, etc. Da mesma forma que fez após aquele 13 de junho, a imprensa que um dia antes pedia repressão às manifestações, tolerância zero contra os black blocs e o sagrado ‘direito de ir e vir’ (de carro), de repente estava ‘denunciando’ a repressão.
Haveria um conflito real de interesses por trás dessas oscilações da imprensa burguesa, ou mesmo das divergências ocasionais entre esferas federal, estadual e municipal em relação à repressão às manifestações?
A verdade é que a conjuntura é explosiva e a burguesia, sem muita alternativa, tenta se equilibrar como pode.
O sonho do lulismo acabou: os protestos contra o aumento da tarifa, que começaram como manifestações restritas e rotineiras reunindo a juventude estudantil pequeno burguesa e uns poucos jovens proletarizados, canalizaram a revolta das massas contra a crise econômica – sobretudo a inflação – e política – o vazio total apresentado pela política nacional fez das ruas a única alternativa.
É difícil que as instituições desgastadas da política burguesa venham a iludir profundamente a juventude que se pôs em movimento, e a classe dominante não tem muita alternativa para contê-la além da repressão. Além do que já temos visto, o Congresso Nacional e os governos federal e estaduais preparam uma série de leis e medidas policiais para restringir ainda mais a liberdade de manifestação.
Por outro lado, qualquer coisa pode ser o estopim para uma explosão muito maior – daí o medo dos ‘excessos’. O envolvimento de amplos setores sociais nas manifestações revelou uma tensão da luta de classes que ainda não se mostrou na sua forma mais profunda: a classe trabalhadora ainda não se levantou. Do ponto de vista da burguesia – e mesmo das organizações operárias –, toda a movimentação de junho até aqui não passa de uma advertência.
Há um mês o governo federal temia os rolezinhos – simples encontros festivos de jovens da periferia. Semana passada, moradores responderam a uma enchente na Zona Leste de São Paulo saqueando e queimando caminhões, e na Zona Sul a morte de um jovem resultou em barricadas e ônibus queimado. Segundo o Último Segundo, mais de 30 veículos foram queimados em janeiro na capital, mais que em todo o primeiro semestre do ano passado. No dia 25 foram os atos contra a Copa: segundo o Estadão, aconteceram atos simultâneos em SP, Rio, BH, Brasília, Porto Alegre, Vitória, Recife, Fortaleza e Sorocaba. Essa semana, o anúncio do aumento da passagem detonou manifestações no Rio, e a queda de uma taxa sem redução da passagem deu em protesto em BH. Apesar no próximo ato contra a Copa marcado só para dia 22/02, em São Paulo já houve dois atos em repúdio à repressão da semana passada.
O movimento apenas começou, a revolta está cada vez mais latente em toda parte. Numa medida desesperada, a polícia é chamada para apagar o incêndio. Com gasolina.