Muitos camaradas estão, corretamente, procurando todas as armas para resistir aos graves ataques que o Estado burguês pretende desferir contra a população trabalhadora (falamos das MPs de Dilma e Levy, e do PL da terceirização de Eduardo Cunha). Nesse contexto surge, legitimamente, a agitação por uma greve geral da classe trabalhadora.
É preciso ter bastante frieza neste momento e pensar: existem já as condições para uma greve geral, ou mesmo para agitá-la? A esquerda revolucionária tem a responsabilidade de pensar e propor ações que a classe entenda e assuma como sua, como possíveis e realizáveis. Por isso a discussão das palavras de ordem é fundamental.
Pensamos que é mais factível para um amplo setor da classe trabalhadora se falar de uma paralisação nacional, e não ainda de uma greve geral, e apostar as energias nisso, tendo em vista a conformação de uma Frente Única com amplos setores sindicais da classe trabalhadora. Essa paralisação seria seguida por novas paralisações, construídas com o tempo correto.
Por que paralisação? Uma simples greve, sabem os camaradas da esquerda revolucionária, é desgastante tanto para a esquerda quanto para a classe; exige uma situação em que esta se veja sem alternativas; esteja relativamente confiante e disposta a arriscar. Como os ataques ainda estão tramitando no congresso, é mais factível falar e realizar já paralisações, atos de rua, amplos debates, etc. Isso prepara o caminho para uma luta maior e, na medida em que faz a classe sentir a sua própria força, mina as esperanças no parlamento (por exemplo, no #VetaDilma do PL 4330).
Todas essas ações — paralisações, atos — se realizadas em Frente Única, aglutinando todos os setores representantes da classe trabalhadora, terão um impacto decisivo e prepararão as condições subjetivas para uma ação muito maior, possivelmente até para uma greve geral. E mais: ao criar uma situação de efervescência entre a classe trabalhadora, essa luta contra as medidas do Estado pode se combinar com (ou desencadear) a resistência imediata, contra os cortes de milhares de empregos ocorrendo na indústria e contra o arrocho salarial.
Tudo isso depende, portanto, de se apresentar desde já uma política justa (que se ajuste como uma luva). O momento atual, que favorece a política de Frente Única, é único e muito importante, e pode não retornar tão cedo. Deve ser aproveitado. A Frente Única é fundamental para que a própria classe dê seus passos. Apresentar uma proposta justa e realista para a conformação de um Frente Única facilita o desmascaramento dos vacilantes e burocratas sindicais que defendem a luta contra as medidas do governo apenas em palavras.
O leitor pode se perguntar se esta não é uma falsa questão, uma vez que por “greve geral” se entende, na maioria dos casos, uma paralisação nacional de um dia (veja-se as “greves gerais” na Europa contra as medidas de austeridade). Esta questão é importante. “Greve geral” como paralisação nacional de um dia, nos parece, é o que entende sobretudo a vanguarda dos lutadores. A massa da classe, possivelmente, entende por “greve geral” algo muito mais radicalizado. Para esse setor, amplo, as condições ainda precisam ser construídas, com mediações factíveis.
Mas não é só por isso que estamos tocando nesse ponto. O marxismo revolucionário sempre se preocupou em entender a função das palavras de ordem na estratégia da revolução. Adiantar uma proposta pode banalizá-la, portanto enfraquecê-la ou neutralizá-la para quando chegar a sua hora. Trotsky critica o uso um tanto gratuito da palavra de ordem “greve geral” entre os comunistas, muitas vezes deslocada da estratégia revolucionária, como um elixir mágico:
“A greve geral é um meio de luta muito importante, mas não é um meio universal. Há casos em que a greve geral pode enfraquecer os operários mais do que o seu inimigo direto. A greve deve ser um elemento importante no cálculo estratégico e não um impulso no qual a estratégia é diluída.” (no texto “E Agora?”, de 1932, do livro Revolução e Contra-Revolução na Alemanha).
Por que Trotsky fala isso? Justamente porque a “greve geral”, dentro da estratégia marxista revolucionária, é um dos momentos culminantes do conflito da dualidade de poder (então já criada); do conflito entre o poder oficial burguês e o poder proletário, das organizações da classe trabalhadora, lastreado nos comitês operários de fábrica. A greve geral — desde Rosa Luxemburgo, que sistematizou bem seu papel na estratégia, passando por Lenin e Trotsky — é um momento que antecede a tomada do poder pelo poder da classe trabalhadora. Diz Trotsky:
“A greve geral, como todos os marxistas sabem, é um dos meios de luta mais revolucionários. A greve geral não se torna possível senão quando a luta de classes se eleva sobre todas as exigências particulares e corporativas, se estende através de todos os locais de trabalho e bairros, apaga as fronteiras entre sindicatos e partidos, entre legalidade e ilegalidade e mobiliza a maioria do proletariado, opondo-a ativamente à burguesia e ao Estado. Acima da greve geral não pode haver senão a insurreição armada.” (no artigo “Uma vez mais, aonde vai a França?”, de março de 1935, dentro do livro “Aonde vai a França?”).
É por prezar pelos conceitos marxistas clássicos, mas, sobretudo, para preparar a ação da classe trabalhadora (inclusive visando a uma greve geral), que pensamos que seria mais consequente — e apareceria como mais realizável — a proposição por um dia de paralisação nacional que efetivamente envolvesse amplas organizações da classe trabalhadora numa Frente Única. Nossas energias, nos parece, podem ser melhor gastas se focadas nesse ponto.
Adiante, camaradas!