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1. “Lucro um dólar sobre cada morto nacional”
No último dia 6/5, Bolsonaro nomeou Cida Borghetti, esposa de Ricardo Barros, para cargo no Conselho de Administração da hidroelétrica de Itaipu. Ela
passou a auferir então, como “salário”, aprazíveis R$ 27 mil mensais. Dois meses antes houve a fatídica reunião entre Bolsonaro e os irmãos Miranda (o técnico do Ministério da Saúde e o deputado federal) para tratar do caso de corrupção na Covaxin. Ou seja: antes de nomear a esposa de Barros para a Itaipu, Bolsonaro já havia comentado (entre portas fechadas, a quem considerava próximo) que Barros realizava esquemas de corrupção. Bolsonaro até agora não desmentiu nenhum desses acontecimentos, pois sabe que provavelmente foi gravado pelos irmãos Miranda.
Alguém realmente acha que Bolsonaro indicou a esposa de Barros, mesmo já sabendo dos casos de corrupção, de graça?
Além disso, Luis Miranda (o deputado) informou que lobistas de Barros lhe ofereceram propina para ficar calado e não atrapalhar na compra da Covaxin. Essa oferta teria ocorrido 11 dias após a reunião citada acima, com Bolsonaro. É provável que o próprio presidente tenha avisado Barros que Luis Miranda possuía informações comprometedoras!
E há o evidente crime de prevaricação (Bolsonaro soube da corrupção e não acionou nenhum órgão público de investigação).
Sem falar na tentativa de superfaturamento de um dólar em cima de cada vacina comprada! Ao que tudo indica, Bolsonaro e sua gangue lutaram contra todas as vacinas que não necessitavam de empresas intermediárias (como as de maior respaldo internacional) porque estas dificultavam corrupção. O presidente esperou se instaurar uma situação calamitosa na saúde pública (e ajudou a instaurá-la), para em seguida poder comprar vacinas às pressas, sem licitações adequadas, por meio de contratos superfaturados elaborados por empresas “intermediárias” (todas vinculadas a cupinchas do governo). Um militar da reserva, da pasta da Saúde – o coronel Marcelo Blanco da Costa –, chegou a abrir empresa de “representação comercial de medicamentos” um dia antes da reunião de propina de que ele mesmo participaria!
Bolsonaro e sua gangue deixaram a situação se tornar desesperadora para lucrar em cima de cada morto. A morte virou negócio! Não se esqueça, a vida de seu parente ou amigo falecido de Covid significava apenas R$ 5 nos bolsos da trupe governante! Esses caras têm de ser presos já!
2. Centrão avança sobre naufrágio bolsonarista
Ao que tudo indica, o barco de Bolsonaro afundará. O prazo de vida da CPI da Covid foi estendido para mais três meses (e poderá ser estendido novamente). Alguém acredita que Bolsonaro aguentará bombardeios de todos os lados por muito mais tempo?
Os ratos já pulam do barco. A deputada bolsonarista Carla Zambelli falou à Folha de São Paulo, no último 30/06, que “abandona Bolsonaro se souber que ele roubou”. Sentindo o clima de naufrágio, pessoas envolvidas com corrupção começam a vir a público. É sempre assim nesses momentos: pessoas querem surgir como denunciantes (e não como envolvidas), para ver se se livram minimamente. Foi só o deputado Luis Miranda – talvez ele próprio envolvido em algo – apresentar a primeira denúncia… E muitas outras começaram a aparecer! Foi iniciada a briga para ver quem será o próximo denunciante. E não será só no Ministério da Saúde!
O próprio Bolsonaro acusou o golpe e disse, no mesmo dia 30, que “não são sete bandidos [da CPI] que vão me tirar daqui”. Já teme afundar. Mourão, beneficiado diretamente, disse que “o Ministério da Saúde sempre foi um lugar onde a corrupção andou”. Água por todos os lados!
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, representante do centrão, afirmou que só discutirá impeachment quando a CPI terminar seu trabalho (daqui a três meses). Lira, que já sabe que o governo afundará, quer deixar Bolsonaro ainda mais fraco. Assim seu grupo ocupará mais e mais postos no governo. E assim o novo presidente, Mourão, quando entrar, comerá mais na sua mão.
3. Não ter medo do impeachment! Governo Mourão será mais fraco
Algumas pessoas disseminam a ideia de que o governo Mourão seria mais forte e perigoso do que o de Bolsonaro. Assim finalmente se realizaria o “fascismo”, tão alardeado desde 2016. Balela! São pessoas que, na prática, não querem a saída de Bolsonaro.
Um governo Mourão será ainda mais fraco. Será um governo inexpressivo e tampão, como foi o de Temer. Mas ainda mais fraco do que o de Temer, pois Mourão não tem a base parlamentar que tinha o MDB, nem a habilidade política do ex-presidente. Mourão é só uma excrescência política, um acidente da história, como Bolsonaro (e ainda mais inconsistente do que este na política). Mourão servirá apenas para desmoralizar ainda mais os militares até a eleição de 2022 (envolvendo-os em casos maiores de corrupção).
O governo Bolsonaro foi, na verdade, um governo fraco, um dos mais fracos da história. Talvez o mais fraco da Nova República. Afora os discursos (puro diversionismo), nada houve de “fascismo”. “Fascismo” é sinal de Poder Executivo forte. É quando o Poder Executivo destrói o Poder Legislativo (parlamento), para mais rapidamente executar a violência de classe. Hoje acontece exatamente o contrário: uma CPI do parlamento, quase como um poder paralelo, quebra e desmoraliza o poder Executivo. Mourão, se entrar, será a continuidade ainda mais inexpressiva e inútil do governo Bolsonaro.
4. Atenção aos oportunistas que não querem o impeachment!
Lula sorri toda vez que alguém diz que “Mourão implementará o fascismo”. Ou quando alguém diz “não sou a favor da derrubada pela legalidade/impeachment, só pela luta nas ruas etc.”. Lula sorri diante desses delírios políticos pois é contra o impeachment. Só a muito custo, muita pressão, é obrigado a falar pontualmente a favor.
Em primeiro lugar, Lula não quer o impeachment porque sem ele suas chances de eleição caem muito. PT e Bolsonaro se retro-alimentam. Tire um e o outro sairá. Sem Bolsonaro, abre-se espaço para outra via, que negue tanto Lula quanto Bolsonaro. É isso que ambos temem.
Em segundo lugar, porque todos os agora envolvidos em esquemas de corrupção são ex-aliados de Lula. O Ricardo Barros, que dirige a corrupção das vacinas, era vice-líder do governo Lula no Congresso (Camara e Senado ao mesmo tempo!). O intragável Fernando Bezerra Coelho – a figura repugnante que aparece na CPI defendendo Bolsonaro todo dia – era líder do governo Dilma no Senado. Barros, como se sabe, é do PP, partido de Maluf (que Lula abraçou para foto com Haddad, em 2012) e partido de Bolsonaro por 11 anos (mesmo na época em que era base do PT). Só uma pessoas muito inocente pode acreditar que não haveria corrupção com vacina no Ministério da Saúde sob governo do PT. Afinal, este entregaria o ministério para algum partido do centrão, como sempre fez, ou ele próprio conduziria a corrupção.
Em terceiro lugar, porque Lula ainda precisa de Bolsonaro para destruir completamente todos os processos na Lava-Jato (o que já está quase se completando). O Procurador Geral da República (Augusto Aras) – que supostamente deveria acusar Bolsonaro – é petista. Ele foi indicado por Bolsonaro por fora da lista tríplice do Ministério Público Federal, graças a acordo com o ministro petista Dias Toffoli (do STF). Aras foi responsável por destruir a Lava-Jato no MPF nos últimos dois anos. O Advogado Geral da União (André Mendonça) – responsável pela defesa institucional de Bolsonaro – é também petista. Bolsonaro e PT têm um acordo evidente, que ainda não chegou totalmente ao fim.
5. Não há saída senão pressionar mais e mais!
No momento atual, o caminho consiste em não sair das ruas. Aumentar e aumentar a pressão, até derrubar o presidente. É necessário não aguardar as burocracias que querem esfriar o movimento, espaçando os atos. É necessário criar uma frente combativa, que não fique submetida às burocracias políticas (dependentes do PT).
Afundar os planos da familícia – e da sua contraparte, a banda podre lulista – ainda não resolve, evidentemente, os problemas de fundo da população trabalhadora brasileira. Mas ao menos gera confusão na classe dominante. Esta vive uma ingovernabilidade política desde que o PT se enfraqueceu (graças às manifestações de junho de 2013, que levaram à queda da Dilma). O enfraquecimento da governabilidade burguesa – bem como dos sindicatos burocratizados e pelegos capitaneados pelo PT – cria num processo melhores condições para ações autônomas da classe trabalhadora nos locais de trabalho. Só a partir delas é possível resolver de verdade os problemas reais do país, como a miséria, o desemprego, as demissões, a carestia de vida em geral.
A luta pela derrubada de Bolsonaro não está em contradição com a luta nos locais de trabalho, pelo contrário: cria melhores condições para isso.
Pressionar e pressionar mais!
Empurra que ele cai!
Impeachment já!
Bolsonaro e sua milícia na prisão!
Reunião pública: Aonde vai o Brasil?
Conheça mais das nossas posições e análises de conjuntura na reunião pública do dia 08/07, quinta-feira, às 19h. O evento será online e você pode encontrar mais informações em nossas redes sociais, que constam abaixo.
Junte-se à Transição Socialista, na construção de uma política revolucionária nos locais de trabalho e estudo!
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